A umidade de São Paulo grudava na pele enquanto eu esfregava a louça, minhas mãos ásperas, como sempre. Meus tios, Tia Silva e Tio Santos, falavam baixo na sala, seus rostos iluminados pela tela de um computador, prometendo dinheiro fácil. Então, o grito da Tia Silva: "Maria! Vem aqui agora. Larga isso aí." Na tela, um site com gráficos exagerados prometia "liberdade financeira", mas para mim, cheirava a golpe. Eles queriam meu nome, meu CPF, para um esquema de pirâmide; o dinheiro inicial eles dariam, eu só teria que fazer o cadastro e passar o controle. Quando eu sussurrei "Eu não quero, isso parece perigoso", o tapa do meu tio veio rápido, ardente, e sua voz furiosa me chamou de "órfã ingrata". A Tia Silva me deu a escolha: "Ou você faz o que a gente está mandando, ou pode pegar suas coisas e ir morar na rua." O medo gelou minha espinha, sabendo que eu era o bode expiatório perfeito, a bomba explodiria no meu colo. Com as mãos trêmulas, digitei meu CPF, sentindo um pedaço da minha alma ser vendido, enquanto eles ditavam as instruções. Então, a escuridão me engoliu, no pátio frio da prisão, após os socos das detentas que perderam tudo no mesmo golpe. Até que abri os olhos novamente, na sala abafada, a luz amarela, o cheiro de mofo e fritura. A voz fria da Tia Silva ecoou: "Você vai fazer o que a gente está mandando, ou então você pode pegar suas coisas e ir morar na rua." Eu pisquei, a dor fantasma ainda em meu corpo, o frio da morte arrepiando minha nuca. Não era um sonho. Eu estava de volta. Eu tinha renascido.
