Quando me recusei, ele trouxe a amante para morar em nossa casa. Ela me provocou, fingiu uma queda e me acusou de empurrá-la. Cego de raiva, Rogério me agrediu, sem se importar que eu também estava grávida.
Pior ainda, sua mãe me sequestrou do hospital e me trancou em um salão ancestral abafado, me deixando sangrar até eu perder nosso filho.
Eu sacrifiquei minha família e minha herança por ele, e em troca, ele e sua família destruíram tudo o que eu tinha, inclusive a vida inocente do nosso bebê.
Destruída e sozinha na cama de uma clínica clandestina, peguei o celular e disquei um número que jurei nunca mais usar.
"Pai... preciso de você."
Capítulo 1
Celina Mascarenhas olhou para o homem à sua frente, o mesmo homem com quem se casara há cinco anos. Rogério Nunes, o magnata da construção que ela amava mais do que a própria vida.
Mas as palavras que saíram da boca dele foram frias e cruéis.
"Celina, você precisa assumir a culpa."
Ela ficou em choque. "Assumir a culpa? Pelo quê?"
Ele evitou o olhar dela, a voz impaciente. "Pelo escândalo do vídeo da Isabella. O vídeo que vazou... ela foi sequestrada, Celina. Humilhada. Aquele homem... se isso se espalhar, a carreira e a vida dela acabam. Você precisa dizer que era você no vídeo, que o homem era seu amante."
Isabella De Macedo. A famosa influenciadora, a amante do seu marido. O nome dela era uma ferida aberta no coração de Celina.
"Você quer que o mundo inteiro pense que eu sou uma adúltera para salvar a reputação dela?" A voz de Celina tremeu. "Rogério, e a minha reputação? E o nosso casamento?"
"A Isabella é um anjo, Celina. Pura. Ela não sobreviveria a um escândalo desses. Você é forte. Você sempre foi."
Celina quase riu. Forte. Era essa a desculpa dele sempre que exigia um sacrifício dela. Como quando ele precisou de dinheiro para um grande projeto e ela, sem contar a ele sobre sua verdadeira família, vendeu as joias que sua mãe lhe dera. Ele a chamou de forte naquela época também. Ele a via como uma rocha, inabalável, enquanto Isabella era uma boneca de porcelana que precisava ser protegida a todo custo.
"As pessoas vão acreditar", continuou ele, alheio à dor dela. "A mulher no vídeo está de perfil, a iluminação é ruim. E, para o seu azar, você e a Isabella têm uma certa semelhança de lado. Ninguém vai questionar."
"Então eu devo ser humilhada publicamente para que a sua amante fique bem?" , ela perguntou, a voz tremendo.
"Por favor, Celina. É só por um tempo" , ele pediu, tentando segurar a mão dela.
Ela recuou, um sorriso amargo no rosto. "Um tempo? E o que mais você quer de mim? Que eu peça desculpas a ela?"
"Eu não estou pedindo para você gostar disso. Estou pedindo para você fazer o que é necessário."
Ela olhou para o rosto dele, o mesmo rosto que ela amou por tanto tempo, e sentiu um calafrio. Aquele homem parecia um estranho. Onde estava o Rogério que prometeu protegê-la para sempre? Ele havia sido consumido por essa obsessão doentia por Isabella.
"Para salvar a reputação dela... à custa da minha?"
"Ela não é como você, Celina. Qualquer coisinha a abala. O médico disse que ela está com depressão profunda por causa disso. Você sabe lidar com a pressão."
A raiva finalmente explodiu. "E eu? Eu mereço ser sacrificada? Eu mereço essa humilhação?"
"Não é um sacrifício, é uma estratégia. Depois que a poeira baixar, tudo volta ao normal."
Celina balançou a cabeça, sentindo as lágrimas quentes escorrerem. Ele não entendia. Ou não se importava.
Então, ele deu o golpe final.
"E... você precisa interromper a gravidez."
O mundo de Celina parou. O ar sumiu de seus pulmões. Ela levou a mão à barriga, onde seu filho de três meses crescia.
"O quê?"
"O escândalo vai explodir, e as pessoas vão questionar a paternidade do seu filho. Não podemos arriscar. Isabella está no limite, ela precisa de todo o meu apoio. Eu não posso lidar com um bebê agora."
A voz dela saiu como um sussurro rouco. "É o seu filho também, Rogério."
"A Isabella também está grávida!" , ele gritou, o rosto vermelho de raiva. "O estresse pode fazer mal ao bebê dela! Ela é sensível!"
Celina parou de respirar. Tudo ficou em silêncio. Então, uma risada baixa e quebrada escapou de seus lábios, misturada com as lágrimas. O amor de sua vida estava pedindo que ela matasse o próprio filho para proteger o filho de sua amante. A ironia era tão cruel que beirava o absurdo.
"Tudo bem" , ela disse, a voz vazia. "Eu faço."
O celular dele tocou no mesmo instante. Ele atendeu, e a voz chorosa de Isabella encheu o ambiente, mesmo pelo telefone.
"Rogério... eu não aguento mais... as pessoas estão me atacando... eu quero morrer..."
A expressão de Rogério mudou instantaneamente. Sua voz se tornou suave e protetora.
"Calma, meu amor. Eu estou aqui. Não pense nisso. Eu estou resolvendo tudo. Vou aí agora mesmo."
Ele desligou e olhou para Celina, já a caminho da porta.
"O hospital já está esperando por você. Seja rápida."
A porta se fechou, e Celina ficou sozinha no silêncio ensurdecedor.
Ela caminhou como um autômato até a clínica que ele indicou. O lugar era frio, impessoal. Uma enfermeira lhe entregou uma prancheta com um formulário. O olhar da mulher era de pura pena.
Celina viu a assinatura de Rogério no final da página. Ele já tinha preparado tudo. A frieza dele era inacreditável.
Ela pegou a caneta, a mão tremendo.
"Estou pronta" , disse ela, a voz um fio.
Enquanto a enfermeira a levava para a sala, o médico a parou. Ele era um homem mais velho, com um olhar sério.
"Senhora Nunes, preciso que saiba dos riscos. Devido a uma condição específica do seu útero, este procedimento tem uma alta probabilidade de causar infertilidade permanente."
Celina o encarou, sem entender. "Infertilidade... para sempre?"
"Sim. A chance de a senhora não poder mais ter filhos é de quase noventa por cento."
O médico explicou os detalhes médicos, mas Celina mal ouvia. Seu corpo era mais frágil do que parecia. Ela e Rogério sabiam disso desde o início do casamento.
Então... Rogério sabia. Ele sabia que, ao pedir que ela abortasse, estava pedindo que ela desistisse de ser mãe para sempre. E ele pediu mesmo assim.
Tudo por Isabella.
Celina mordeu o lábio com tanta força que sentiu o gosto de sangue. A dor em seu coração era mil vezes pior.
Ela se deitou na maca, o corpo frio e trêmulo. Fechou os olhos, pronta para acabar com tudo.
E então, ela sentiu.
Uma pequena, quase imperceptível, vibração em seu ventre. Como uma borboleta batendo as asas.
Era o primeiro movimento do seu bebê.
Seu filho.
Os olhos de Celina se abriram de repente. Ela agarrou o braço do médico com uma força que não sabia que tinha.
"Pare! Eu não vou fazer isso!"
O médico hesitou. "Senhora, seu marido deixou instruções claras..."
"EU NÃO VOU FAZER!" , ela gritou, a voz ecoando na sala estéril. "É o meu filho! Eu vou ficar com ele!"
Ela se levantou, arrancou os acessos do braço e saiu correndo da clínica, sem olhar para trás.
Do lado de fora, o sol a cegou por um momento. Ela pegou o celular, as mãos ainda tremendo. A primeira notícia que viu no feed era uma manchete em um portal de fofocas.
"Magnata Rogério Nunes e Influenciadora Isabella De Macedo em Ensaio Fotográfico Exclusivo: 'Estamos Grávidos e Mais Felizes do que Nunca!'"
A foto era devastadora. Rogério segurava a cintura de Isabella com um cuidado infinito, a mão dela repousando sobre uma barriga já proeminente. O sorriso no rosto dele era de uma felicidade que Celina nunca tinha visto.
A seção de comentários era uma mistura de parabéns e ataques a ela.
"Finalmente ele se livrou da esposa sem graça!"
"Celina Mascarenhas nunca foi páreo para a Isabella. Pobre coitada."
"Ouvi dizer que ela o traiu e tentou dar o golpe da barriga. Que mulher nojenta."
As unhas de Celina cravaram na palma da mão, mas ela não sentiu dor. Seu corpo estava anestesiado.
Ela apenas levou a outra mão à sua própria barriga, ainda lisa.
"Não se preocupe" , ela sussurrou para o seu filho. "Mamãe vai proteger você."
Ela se virou e caminhou na direção oposta, em busca do melhor escritório de advocacia da cidade. A primeira coisa na sua lista era um pedido de divórcio.