A reação de Dante não foi me defender, mas me culpar.
"Peça desculpas a ela!"
Quando avancei para recuperar os pedaços da minha herança, ele me deu um tapa no rosto. Meu marido me agrediu para proteger a viúva de seu irmão.
Caída no chão, com o gosto de sangue na boca e os cacos da joia espalhados, a dor e a humilhação se transformaram em uma fúria fria e inquebrável. Eu, Liliana Castro, me recuso a ser um detalhe na vida de alguém.
Peguei meu telefone e disquei um número. "Igor? Preciso de um favor. Traga sua melhor equipe de demolição para o meu apartamento. Agora."
Capítulo 1
A notícia da morte de Ricardo, meu cunhado, chegou por um telefonema no meio da noite. Um acidente de carro, disseram. Dante, meu marido, desmoronou. Eu o amparei, como uma boa esposa faria, embora nosso casamento fosse mais um contrato do que uma história de amor.
A verdadeira complicação veio uma semana depois, no funeral. Sueli, a viúva, anunciou que estava grávida.
A tragédia se transformou em um dever sagrado para Dante. Ele era o último homem da família Cavalcanti, e aquele bebê, o legado.
"Ela vai morar conosco" , Dante decretou naquela noite, no nosso apartamento de luxo em São Paulo. Ele não perguntou, ele avisou.
"Dante, não temos espaço. E ela precisa de paz, talvez seja melhor na casa dos seus pais" , eu argumentei, tentando manter a calma.
"Meus pais já estão velhos. Aqui ela terá tudo. É minha responsabilidade cuidar dela e do meu sobrinho. É o mínimo que posso fazer por Ricardo."
Eu não tive escolha. Meu casamento com Dante salvou a empresa de investimentos da família dele da falência, um acordo selado pelo meu pai, o magnata da construção Laurindo Castro. Eu tinha que manter as aparências.
Sueli chegou no dia seguinte, com duas malas e um ar de fragilidade que enganaria qualquer um. Menos a mim. Desde o início, seus olhos carregavam uma malícia que ela escondia atrás de sorrisos doces.
A invasão começou sutilmente.
Primeiro, eram os pés inchados.
"Dante, você poderia fazer uma massagem? Estão me matando" , ela pedia com uma voz manhosa, sempre quando eu estava por perto.
Dante, consumido pela culpa e pelo senso de dever, se ajoelhava no chão da sala e massageava os pés dela por longos minutos.
Depois, ela começou a esperá-lo do lado de fora do banheiro do nosso quarto, segurando uma toalha.
"Só para garantir que você não escorregue" , ela dizia, ignorando completamente a minha presença.
O limite foi ultrapassado quando ela invadiu nosso quarto no meio da noite.
"Tive um pesadelo horrível com o Ricardo" , ela soluçou, parada ao lado da nossa cama.
Dante pulou da cama e a abraçou, a confortando com palavras suaves enquanto eu fingia dormir, sentindo meu estômago revirar. Aquilo não era luto, era uma performance. E o público era eu.
Eu suportei por semanas. Tentei ser compreensiva, engoli o desrespeito em nome da "família" . Mas minha paciência, como o império do meu pai, era vasta, mas não infinita.
Cansada, liguei para o meu pai.
"Pai, não aguento mais."
"O que aquele moleque fez agora, Liliana?" , a voz de Laurindo Castro era um trovão no telefone.
"Ele trouxe a cunhada para morar aqui. Ela está agindo como se fosse a dona da casa, e ele permite tudo."
Meu pai ficou em silêncio por um momento. Eu sabia que ele odiava Dante, só aceitou o casamento para me ver feliz, ou pelo menos, para que eu tivesse o que eu dizia querer na época.
"Eu tentei, pai. Juro que tentei ser a esposa que ele precisava."
"Você não precisa tentar nada, filha. Você é uma Castro. Você não se curva a ninguém."
"Mas e o acordo? A empresa dele..."
"Que se dane a empresa dele. Eu te avisei sobre os Cavalcanti. Eles são fracos. E homens fracos fazem coisas estúpidas."
"O que eu faço, pai?"
"Por enquanto, observe. Deixe ele se enforcar na própria corda. Quando você decidir que acabou, me ligue. Eu mesmo derrubo o prédio se for preciso."
Desliguei o telefone sentindo um alívio momentâneo. Meu pai sempre foi meu porto seguro. Ele me deu a força para aguentar mais um pouco, para esperar o momento certo.
Eu sabia que o conflito era inevitável. Sueli estava testando meus limites, e Dante, cego pela sua suposta obrigação, estava cavando a própria cova. E eu, Liliana Castro, herdeira de um império, não seria humilhada dentro da minha própria casa.
A guerra estava apenas começando.