A ligação veio no meio da tarde, um número desconhecido. Era Ricardo, um antigo colega da faculdade. "Lia? Sou eu... eu acho que você precisa saber de uma coisa." O silêncio dele pesou. "Estou no Hospital Santa Clara com minha mãe. E eu vi o Marcos. Ele não está sozinho." Meu coração gelou. Ele estava com Sofia, sua ex. De mãos dadas, íntimos. A notícia não fez barulho, mas se espalhou como veneno. Choque, incredulidade e uma raiva silenciosa. Dirigi ao hospital, repetindo que era engano. "Marcos e Sofia terminaram há uma década!" Mas ao vê-los, a protejer ela, a impaciência dele comigo, algo em mim se quebrou. Ele a tratava como vidro, e a mim, sua esposa, como intrusa. "É complicado, Lia! Ela está doente!" Naquele corredor, sob a luz fria, meu casamento morreu. Em pouco tempo, o processou de divórcio era mais um drama, envolvendo gritos e acusações. "Você pediu para eu ser razoável?" Até que descobri a verdade: uma transferência de R$50.000 para uma clínica de fertilidade na Suíça. Sofia não estava apenas doente; Marcos manipulava seu tratamento para forçar um transplante, e tudo por um plano doentio de ter um filho com ela. E o pior... "Não foi um aborto espontâneo, querida." Sofia tinha causado a perda do meu filho anos atrás. Marcos sabia. Ele era um monstro, por medo, por culpa e covardia. Minha mãe, a última a me apoiar, não suportou o estresse e se foi. A dor era um buraco negro em meu peito. Eu estava sozinha, mas não mais vítima. O ódio por Sofia era absoluto. Agora, livre das amarras, com todo o dinheiro e sem nada a perder, eu não buscaria mais vingança, mas justiça. E a encontraria para a mulher que roubou não só meu marido, mas meu futuro.