O cheiro a desinfetante ainda me persegue, sufocante, misturado com o eco das palavras que me arrancaram o chão: "O seu filho, infelizmente, não sobreviveu." Minhas mãos tremiam, sujas de terra e o sangue seco do meu Leo, que há poucas horas prometia um gelado depois do futebol. Mas no hospital, o meu pesadelo nem tinha começado. Meu marido, Pedro, e minha sogra, Elvira, ignoraram minha dor. O foco deles? A Sofia, irmã de Pedro, a condutora negligente que causou o acidente. "Graças a Deus que estás bem, Sofia!", exclamou Elvira, enquanto Pedro, por telefone, berrava que a irmã "precisava dele", e que eu, uma mãe acabada de perder o único filho, devia "aguentar e não criar mais problemas". Aquela indiferença me estraçalhou. O homem que amei, o pai do meu filho, não perguntou se Leo estava vivo ou morto. Ele só viu um "problema" em mim. Eles me acusaram de fazer "drama", de "não ter respeito" pela dor da assassina do meu filho. Naquela noite, vendo-os felizes na casa que deveria ser minha, percebi. Eles não se importavam. Preferiam proteger uma mentira. Eles mal sabiam que, naquela dor, nascia uma sede de justiça que eles não poderiam sequer imaginar. Não sou mais a Inês fraca. Esta guerra acabou de começar, e eu vou vencer.