Na nossa comunidade, o cheiro de feijão na panela e as risadas eram a trilha sonora da paz que eu, Júlia, tanto amava, sonhando com um futuro ao lado de Mateus, o policial que prometeu nos tirar dali. Mas o barulho das sirenes e helicópteros rasgou a calma, antes que a porta fosse arrombada por policiais mascarados que invadiram nossa casa, empurrando a todos. Minha mãe gritou, meu pai foi atingido e caiu sangrando, enquanto eles reviravam tudo, gritando por algo que não tínhamos e me atirando contra a parede até a escuridão me engolir. Acordei sozinha no silêncio mortal da casa destruída, minha família tinha sumido, e eu fui arrastada para fora, acusada de roubo e associação com o crime, com um artefato indígena que nunca tinha visto como "prova". Mateus surgiu, com o rosto de preocupação, me abraçou e disse que cuidaria de mim, me deu dinheiro para fugir e prometeu limpar meu nome, e eu acreditei, me escondi nas sombras da cidade. Semanas depois, liguei para um número de emergência que ele havia dado, e para meu horror, era ele, com uma voz relaxada, conversando com outra mulher, Camila, a irmã do chefe de polícia. Ela perguntou: "E o artefato?" e ele respondeu, com uma adoração que nunca me deu: "Eu te disse que conseguiria para você. Qualquer coisa que você quiser." O choque da traição me tirou o ar, percebi que toda a minha vida fora destruída, que minha família havia morrido, para que ele subisse na vida e agradasse uma mulher rica. A promessa de "Juju e Tetéu para sempre" me queimava agora, cada lembrança virou veneno, e a dor era um buraco negro, mas dele nasceu uma chama fria e dura. Júlia, a sonhadora, morreu naquele beco, e a mulher que sobrou, endurecida e furiosa, prometeu fazê-los pagar por tudo o que tiraram dela, porque a vingança não era mais um desejo, era uma promessa.