O telefone tocou, cortando o silêncio pesado da minha casa humilde. Era o hospital, informando que meu filho, Felipe, havia sofrido um acidente fatal enquanto fazia entregas. Minha mão tremia ao ligar para Sofia, minha esposa, a mãe de Felipe, buscando consolo no caos, mas ela recusou minha chamada, ocupada demais com seus "bicos" . Finalmente, ela atendeu, impaciente, e ao ouvir sobre Felipe, sua única preocupação foi: "Ele se meteu em encrenca de novo? Não tenho dinheiro para fiança." Foi um golpe mais doloroso que a própria tragédia. Minha companheira de vinte anos, a mulher com quem dividi suores e sonhos, estava em algum lugar celebrando, distante e fria, enquanto nosso filho jazia sem vida. No funeral, ela não apareceu; vi seu carro de luxo, o motorista Marcos e o filho dele, Lucas, passando pela entrada, e o pneu esmagando a única rosa vermelha que deixei para meu filho, num doloroso símbolo de sua indiferença. A dor da perda mesclou-se à amargura quando, entre os pertences de Felipe, encontrei o dossiê da verdade: extratos bancários de uma conta secreta com milhares de reais, fotos de Sofia, Marcos e Lucas sorrindo em praias e restaurantes caros, e a carta de aceitação de Felipe para a universidade, com bolsa integral. Meu filho, que sonhava em ser engenheiro, estava se matando em trabalhos extras para sustentar a farsa dela, para comprar para ela presentes que ela nunca precisou, enquanto ela financiava a vida de luxo de outra família. Com a raiva e dor me consumindo, descobri que eu também estava doente, com poucos meses de vida. Sofia apareceu com papéis de divórcio, revelando que meu dinheiro estava bancando o luxo dela, e que o filho dela, Lucas, era o culpado pelo acidente de Felipe. Eu podia aceitar o destino, mas não a hipocrisia; eu não morreria para purificar a consciência dela. Minha vingança seria viver em seu inferno particular, sem mim, sem nosso filho, mas com a culpa eterna corroendo sua alma.