O cheiro de café requentado e poeira eletrônica misturava-se ao silêncio. Eram duas da manhã e eu, Sofia, produtora musical, estava sozinha no estúdio que construí com cada centavo da herança dos meus pais. Para ele, Lucas, meu namorado e um DJ ambicioso, que eu ajudei a transformar em "estrela". Ele disse que estava "enterrado em projetos", finalizando uma colaboração. Mas então, vi a foto. Não era de um estúdio. Era de Bruna, a cantora que ele "produzia", com o braço possessivamente ao redor da cintura dela, sorrindo para a câmera de um jeito que não via há muito tempo. A legenda dizia: "Noite incrível... O talento e a voz de Bruna vão conquistar o mundo. Orgulho de fazer parte disso." Meu coração não acelerou, nem afundou. Apenas uma calma gelada me tomou. Ele ligou, irritado, cobrando os arquivos do álbum da Bruna. "Qual é o seu problema, Sofia? Você sumiu? Você está tentando sabotar o projeto?" Enquanto ele gritava, ouvi um oficial de justiça ao fundo. "Senhor Lucas Almeida? Eu tenho uma intimação para o senhor." Eu não tinha feito nada. Que intimação era essa? Meu sangue gelou. Ele me ligou de volta, furioso. "Que porra você fez? Tem um oficial de justiça aqui com um papel do divórcio!" Divórcio? Nós nem éramos casados. "Você quer me ferrar a ponto de inventar uma palhaçada dessas?" ele berrou. "Mas não pense que vai ser fácil", ele continuou. "Você vai assinar um acordo, e parte de qualquer dinheiro que você ganhar com música no futuro vai ter que ser repassado pra Bruna, como compensação pelo estresse emocional que você está causando nela." Fui acusada de ser a "louca ciumenta" que sabotava o projeto e de tentar roubar o que, em suas mentes, era dele. Foi então que entendi: eles não queriam apenas me roubar, queriam me humilhar e apagar da minha própria história. Eu tinha as demos originais, os e-mails, as provas. Eu tinha as cicatrizes de sete anos de sacrifício. Eu não gritei. Não chorei. A guerra havia começado. E eu não era do tipo que se rendia.