Eu sempre acreditei que o amor fosse uma única voz - clara, firme, inconfundível. Mas, ao longo da minha vida, descobri que ele também pode se vestir de sombras, sussurrar com duas bocas e esconder-se atrás de máscaras tão bem costuradas que até o coração mais atento se perde.
Eu acreditava no amor como quem acredita no sol: uma presença que nunca falha, que aquece mesmo nos dias mais sombrios. Acreditei em Daniel - meu marido, meu porto seguro, a promessa que eu levava no coração. Acreditei até o dia em que o perdi. Ou, pelo menos, até o dia em que me disseram que o tinha perdido.
O luto me consumiu como maré brava, levando de mim a voz, o riso, a própria vontade de existir. Mas não demorou até que um rosto familiar, idêntico ao dele, surgisse diante de mim. Chamava-se Rafael, o suposto irmão gêmeo que nunca existiu. Ele carregava os mesmos traços, a mesma sombra no olhar - e, com ele, eu me permiti acreditar que a vida ainda poderia me devolver um fragmento de luz.
Foi só mais tarde, quando os véus da mentira começaram a se rasgar, que descobri a verdade cruel: Daniel não morrera. Fingira sua própria morte para poder viver um romance proibido com Laura, seu primeiro amor, e todos ao redor - sogros, cunhados, amigos - sustentaram a farsa, rindo às minhas costas enquanto eu me despedaçava sozinha.
Não gritei. Não confrontei. Apenas recolhi o que restava da minha dignidade e, em silêncio, tomei a decisão que mudaria tudo: pedi o divórcio sem que ninguém soubesse, fui ao Juiz e expus todas as provas da farsa. Fui em busca de um trabalho, de um espaço que fosse só meu. E foi nesse caminho que encontrei Henrique Vasconcellos, o CEO frio e impenetrável, cuja arrogância escondia uma fome de ternura que nem ele ousava confessar.
Entre as paredes geladas de sua empresa, ele se apaixonou por mim - pela mulher quebrada, mas não vencida, que aprendeu a sobreviver em meio ao engano. E, justamente quando comecei a me afastar da família que me traiu, Daniel percebeu o vazio que deixei. Tentou me reconquistar, mas já era tarde.
Este não é apenas um relato de perda, mas de renascimento. É a história de como o amor pode ser a máscara mais bela da mentira, mas também a centelha mais inesperada da verdade.
- Helena