O som agudo dos pneus. Depois, só escuridão. Acordei em um hospital, sem memória, sem saber quem eu era ou por que meu corpo doía tanto. Uma mulher linda, Sofia, se apresentou como minha noiva. Ela falava sobre nossa vida, meu restaurante famoso, nosso casamento... mas nada parecia meu. Eu era um estranho na minha própria história. Até que Sofia trouxe Ana, sua melhor amiga, para "cuidar de mim" enquanto ela "resolvia umas coisas urgentes" . Ana tinha olhos gentis, cansados, muito diferentes dos de Sofia. Pouco depois, ouvi a conversa: Sofia abandonando-me, deixando Ana para fingir ser minha noiva. "Você sempre gostou dele, não é? Agora é sua chance." Minha cabeça doeu. Não era pela batida, mas pela amarga descoberta da traição, da farsa. Eu podia confrontá-la, gritar que sabia de tudo. Mas uma parte curiosa de mim queria ver até onde essa farsa iria. Queria entender Ana. Quando Ana entrou, pálida, com a história ensaiada sobre a viagem de Sofia, eu assenti. "Minha noiva?" repeti, saboreando a ideia. Ela engoliu em seco. "Sim. Eu. Ana." Segurei a mão dela. Estava quente, trêmula. E, pela primeira vez desde o acidente, senti uma conexão real. O jogo havia começado.