Aqui estou eu, de volta ao fatídico Dia Internacional da Mulher. A voz melíflua de Beatriz, nossa bolsista, soou ao meu lado: "Duda, meu amor, empresta aqui rapidinho seu celular e seus documentos?" Na minha vida passada, a ingênua Maria Eduarda teria entregue tudo. Acreditei quando ela disse ter ganhado na loteria e que queria compartilhar a sorte. O resultado? Uma dívida milionária em meu nome. Meus pais, um engenheiro e uma professora, levaram meses tentando entender e resolver. Mas o pesadelo não parou aí. Beatriz, com a popularidade comprada, me isolou. Pedro, meu namorado, ficou do lado dela. Na competição de dança, meu maior sonho, ela me empurrou da escada. Quebrei as duas pernas. Mesmo assim, fui confrontá-la. Pedro e os outros a defenderam, me acusando de inveja. No meio da discussão, ela me empurrou para a rua. Um caminhão me atingiu em cheio. A última coisa que vi foi o sorriso vitorioso no rosto dela. Agora, vendo aquele mesmo rosto, com a mesma expressão de falsa inocência, um calafrio percorreu minha espinha, mas não era de medo. Era de ódio. "Duda? Você está bem? Ficou pálida de repente," Beatriz insistiu, estendendo a mão para pegar meu celular. Seus olhos tinham um brilho de ganância que antes eu era cega demais para ver. Segurei meu celular com força, os dedos brancos. "Não." Minha voz saiu fria e firme, cortando o barulho da festa. Beatriz congelou, a mão no ar. "O quê?" "Eu disse não," repeti, olhando diretamente nos olhos dela. "Não vou te emprestar meu celular nem meus documentos." O sorriso dela vacilou. A confusão deu lugar à irritação. Mas desta vez, eu não era mais a mesma Maria Eduarda. Eu era a que voltou da morte, e eles iriam pagar por cada segundo do meu inferno.