Eu morava em uma mansão luxuosa, mas minha vida era mais amarga que a de um mendigo. Adotada, eu era tratada como um fardo, enquanto minha irmã, Lua, a princesinha mimada, recebia tudo. No dia do vestibular, o mais importante da minha vida, pedi apenas dez reais para o transporte. Eles riram. Minha mãe adotiva, Sofia, disse: "Vá a pé. Vai ser bom para você, um pouco de exercício." Lua, com um sorriso cruel, acrescentou: "Talvez consiga voar até lá." A humilhação me queimava. Eu podia sentir as lágrimas, mas segurei. Meu pai adotivo, Antônio, me agarrou com força. "Chega, Estrela! Sua mendicância nos envergonha!" Ele me empurrou para fora, na chuva torrencial. Caí no chão, a dor no quadril era pequena perto da dor no coração. Olhei para a casa iluminada, e pela janela, vi a manchete na TV: "Família milionária celebra as notas da filha com show particular de artista famoso." Era um palco montado no jardim da minha casa, e Lua era o centro das atenções, sorrindo e acenando. Minhas notas eram excelentes, mas eles negaram dez reais para o meu futuro. Naquele momento, na calçada, sob a chuva, uma risada amarga me escapou. Era tudo uma piada. Decidi que não faria aquela prova. Não daquele jeito. E não voltaria para aquela casa. Nunca mais. Liguei para a Professora Carla, a única que me mostrou bondade. Contei tudo, entre soluços e raiva. Ela me buscou, me abrigou. Finalmente, encontrei a saída. Uma bolsa de estudos integral no exterior, meu plano B, se concretizou. É minha chance de recomeçar, longe de tudo. Mas Sofia me ligou, a voz estranhamente doce. "Filha, seu pai precisa de você. Ele quer se desculpar antes de você partir." Contra o meu melhor julgamento, cedi. Voltei para a mansão. Lua me esperava, com um sorriso vitorioso. Ela derramou vinho tinto no meu vestido branco. Antônio e Sofia apareceram, e Lua começou a chorar, fingindo que eu a atacara. "Você é um monstro ingrato!", berrou Antônio. Ele rasgou meu vestido, a única coisa bonita que eu tinha. Naquele momento, algo em mim mudou. A dor virou gelo. A tristeza, calma fria. Eu não era mais a vítima. Eu sobreviveria. E faria eles se arrependerem. Lua sussurrou: "Ela sempre me odiou porque vocês me amam mais!" "Não se preocupe, ela vai ter o que merece", respondeu Sofia. Sol desceu as escadas e, pela primeira vez, vi seu olhar de nojo para mim. Antônio me arrastou para o quarto, trancando a porta. Eu não resisti.