eu trabalho. Não era uma vingança barulhenta, mas um desmante
da família. O tipo de café que Antônio gostava pela manhã, a temperatura exata. As flores que Sofia preferia no vaso da sala e como ela gostava que fossem arrumadas. As dezenas de alergias
m e escurecerem, as palavras de servidão se transformando em cinzas. Um cheiro de papel queimado enc
tes de aniversários de sócios importantes, playlists para jantares de negócios. Com alguns cliques, deletei tudo. Formatei os backups. Esvaziei a lixe
o de madeira que eu mesma lixei e envernizei para Antônio, que ficou guardado no fundo de uma gaveta. Uma caixa de música pintada à mão para Lua, que ela chamou de "cafona". Encontrei cada um d
ua se gabava para amigas sobre como me manipulava, e até consegui um extrato bancário que mostrava uma grande transferência de dinheiro de Sol para Lua, com uma anotação suspeita. Reuni tudo em um arquivo digita
a maioria herdada ou comprada em brechós com o pouco dinheiro que eu juntava. Alguns livros. Era tudo o que eu tinha para mostrar por mais de uma década vivendo naquela ma
um cômodo anônimo, impessoal. E eu percebi que, na verdade, eu nunca tinha ocupado um espaço real naquela casa. Eu era apenas uma prese
para trás. A mansão podia ser grande e luxuosa, mas para mim, era apenas uma concha vazia. E eu