Na minha festa de 18 anos, ao som contagiante do samba e no calor da nossa comunidade do Rio, eu era Sofia, a dançarina, o orgulho da minha avó e da minha mãe. Então, um clarão branco, um som de rasgar, e o fogo de artifício "caseiro" da influenciadora Larissa explodiu, atingindo meu rosto e perna, transformando minha vida em um borrão de dor e pânico. Enquanto eu jazia no chão, vi Miguel, meu namorado de infância, e Leo, meu irmão, os homens da minha vida, virarem não para me ajudar, mas para Larissa, com uma atração calculista. "Sofia! Meu amor, fala comigo!" A voz de Miguel parecia oca, distante, e suas promessas de justiça soavam vazias, envenenadas pela visão de sua fraqueza e ambição. Logo, Larissa encenou um desmaio, e meu irmão e namorado, sem hesitar, a socorreram, deixando-me para trás, sozinha no chão batido, com o rosto e a perna em chamas, o vestido manchado de sangue e a dor no peito ainda pior. Os dias se seguiram no hospital, e o diagnóstico foi cruel: queimaduras de segundo e terceiro grau que roubariam meu sonho de dançarina. Leo e Miguel, no início, foram minha sombra, prometendo justiça e amor, mas a infecção na minha perna e a necessidade de remédios caros os revelaram. Eles começaram a falar sobre "oportunidades" de Larissa e "progresso" para a comunidade, deixando-me para trás enquanto gastavam dinheiro em luxos para ela. A traição foi um veneno lento: eles escolheram Larissa, enquanto eu apodrecia sozinha. Em um ato desesperado, tentei confrontar meu irmão e Miguel, apenas para ver Larissa sentada como rainha no novo e moderno escritório comunitário, que parecia ter sido pago com meu sofrimento. Eu gritei, a acusação pairou no ar, mas eles me agarraram, me chamando de "influência negativa", e me empurraram para um carro com destino a um lugar que Leo chamou de "acalmar-se". Aquilo era uma prisão, um bordel de luxo, e eles estavam me drogando, me querendo dócil, vazia, enquanto esperava que Miguel viesse me resgatar. "Isto é um adiantamento," ele disse à Madame Gisela, entregando uma caixa de lingerie cara, e a esperança, a última tola esperança, morreu. "Tu estás nojenta," ele cuspiu as palavras, antes de ir embora, deixando-me com a compreensão de que minha nova utilidade era sofrer em silêncio. No dia seguinte, fui publicamente humilhada, forçada a limpar o chão do bordel, e a Madame Gisela me entregou meu pequeno pássaro de madeira para um cliente: "O teu irmão paga-me muito bem para te manter aqui, quieta e infeliz." Com a raiva transformando-se em uma brasa fria, eu jurei fugir, e provoquei um incêndio para criar caos. Mas eles estavam lá: Leo, Miguel e Larissa, que então pisoteou e esmagou meu pássaro de madeira, o último pedaço da minha antiga vida. Um som inumano rasgou minha garganta, a dor e a humilhação culminaram, e a fúria me impulsionou para cima dela, em um segundo glorioso de vingança, antes que eu fosse brutalmente arrancada. Leo me deu um soco no estômago, e enquanto eu me debatia no chão, ele me ordenou que pedisse desculpa a Larissa, que choramingava falsamente. "Eu disse não," eu declarei, e eles me arrastaram para um beco sujo, me jogando em uma piscina imunda, para "ensinar-me uma lição". Mas em vez de medo, eu senti desprezo, e jurei a mim mesma que nunca os perdoaria. Acordei em um hospital, e minha avó, Inês, me contou a verdade: eles só usaram Larissa, mas foram enganados por ela, que gravou tudo. Miguel apareceu, se desculpando, mas eu não senti nada, apenas um vasto e vazio nada, e com uma força que eu não sabia que tinha, levantei-me e dei-lhe um soco. "Nunca mais," eu sussurrei. Recusei-me a voltar para a minha antiga vida, deixei tudo para trás, e nas montanhas, com minha avó, comecei a curar minhas feridas. Ela me ensinou Capoeira, e das minhas cinzas, algo novo nasceu, mais duro, mais forte, transformando minhas cicatrizes em minha força. Observei a carta de Leo queimar, e finalmente, encontrei-me, não a dançarina, nem a vítima, apenas Sofia, e isso era mais do que suficiente.