Saí tropeçando do quarto do hospital e ouvi vozes vindas da sala de espera. Era Kylee, a noiva grávida de Dustin, e uma voz masculina que eu conhecia melhor do que a minha própria - a voz de Evertt.
Olhei pela fresta da porta e vi "Dustin" abraçando Kylee.
"Evertt, e se ela descobrir?", Kylee sussurrou. "E se perceber que você não é Dustin?"
"Ela não vai", respondeu Evertt, com frieza. "Ela está cega pela dor. Só vê o que quer ver."
O homem que me impediu de morrer, aquele que pensei ser meu cunhado, era, na verdade, meu marido. Ele assistiu ao meu sofrimento e deixou que eu me afogasse no desespero, tudo por causa da noiva de seu falecido irmão.
Minha vida inteira havia sido uma farsa, uma crueldade maquiada de acaso.
Mas então, um pensamento frio e afiado atravessou minha dor - uma saída. Eu encontraria forças para destruí-lo.
...
Esta já era a terceira vez que eu tentava acabar com tudo.
Na primeira, usei comprimidos para dormir. Na segunda, cortei os pulsos. E em ambas, foi meu cunhado, Dustin Martin, quem me encontrou e me impediu.
Agora, eu estava na sacada da mansão da família Martin, sentindo o vento batendo forte contra o meu rosto, empurrando-me para o vazio. Seria uma queda alucinante.
Porém, quando me preparei para saltar, um braço firme me agarrou pela cintura e me puxou para trás.
A voz de Dustin soou cansada, áspera. "Helen, pare com isso."
Acordei em um quarto branco de hospital, cercada pelo odor de álcool.
A porta se abriu e Dustin entrou, com o rosto abatido. Logo atrás vinha Kylee Armstrong, sua noiva grávida, com a mão apoiada na barriga.
"Helen, até quando?", Dustin falou baixo, exalando exaustão em cada palavra. "Evertt se foi. Você precisa aceitar."
Mantive os olhos no teto, muda, minha garganta apertada não me permitindo responder.
Kylee se aproximou, sua voz suave, quase doce. "Helen, todos estamos sofrendo. Mas você precisa pensar em nós também. Dustin está exausto, e eu estou esperando um filho. Não podemos continuar vivendo assim."
Continuei em silêncio. O que diziam não passava de um barulho distante, abafado pela minha dor.
Dustin estendeu a mão, como se fosse tocar meu ombro, mas a deixou cair. Em seguida, soltou um suspiro longo, derrotado.
"Descanse um pouco, Helen."
Ele saiu do quarto, seguido por Kylee, que segurava firme sua mão. A porta se fechou com um estalo seco, deixando-me só.
De repente, a dor retornou, pesada, esmagando meu peito.
Olhei para a janela. Do lado de fora, um grande carvalho se erguia contra o céu, e suas folhas se moviam com o vento.
Lembrei-me de um piquenique com Evertt, meu marido, sob essa mesma árvore.
Ele havia descascado uma laranja com cuidado para mim, retirando cada pedacinho branco porque sabia que eu não gostava.
Outra vez, ele havia enchido nosso quarto com flores brancas, só porque eu havia tido um dia difícil na galeria.
As lágrimas escorreram pelo meu rosto sem que eu percebesse. Como uma vida tão cheia de amor havia se transformado nesse vazio?
As notícias diziam que seu avião particular havia caído nas montanhas, por causa de uma tempestade repentina.
Havia apenas um sobrevivente: seu irmão gêmeo, Dustin.
Evertt, o magnata da tecnologia, meu amado marido, foi dado como morto.
Eu não aceitava, e não podia aceitar.
Tentei seguir em frente, mas não havia mais propósito em existir, pois um mundo sem Evertt não fazia sentido.
De repente, um impulso repentino me moveu, e senti a necessidade de sair da cama desse quarto sufocante.
Ao colocar os pés no chão, pisei em algo. Era um casaco masculino, provavelmente de Dustin.
Abaixei-me para pegá-lo, e um objeto pesado escorregou do bolso, batendo no chão com um som surdo - um relógio.
Meu coração parou.
Eu conhecia esse relógio. Era o Patek Philippe que eu havia encomendado para o aniversário de trinta anos de Evertt. Esse presente me custara dois anos e uma viagem a um templo nas montanhas para que um artesão abençoasse o metal.
Meus dedos tremiam quando o peguei. No verso, a inscrição era inconfundível: "H&E, Para Sempre."
Um arrepio percorreu meu corpo. Por que Dustin estava com esse relógio? O relógio que Evertt nunca tirava do pulso?
O pânico tomou conta de mim. Eu precisava entender e descobrir a verdade.
Levantei-me, ainda trêmula, e saí pelo corredor.
Parei ao ouvir vozes vindas da sala de espera e fiquei escondida no canto.
"Não acredito que ela tentou de novo. Ela é tão frágil", disse Kylee, sua voz agora dura, sem qualquer doçura.
"Ela é mais forte do que você imagina", respondeu uma voz masculina, uma voz que eu reconhecia melhor do que a minha própria.
Meu sangue congelou, e meu corpo ficou completamente imóvel.
Era a voz de Evertt.
Espiei pela fresta da porta. "Dustin" estava de costas para mim, abraçando Kylee.
"Evertt, e se ela descobrir?", Kylee sussurrou, com a cabeça no peito dele. "E se perceber que você não é Dustin?"
"Ela não vai", disse ele, frio. "Ela está cega pela dor. Só vê o que quer ver. E é isso que Dustin teria desejado. Antes de morrer, pediu que eu cuidasse de você e do bebê."
"Eu só tenho medo", murmurou Kylee, aninhando-se mais no peito dele. "Não posso perder você."
Meus olhos se encheram de lágrimas.
Tropecei de volta ao quarto, tapando a boca para abafar um soluço.
O homem que me impediu de morrer, aquele que pensei ser meu cunhado, era, na verdade, meu marido. Meu marido ainda estava vivo...
E ele me deixou sofrer e acreditar que eu estava sozinha, apenas para proteger a noiva de seu falecido irmão.
Caí na cama, soluçando sem controle. Minha vida inteira havia sido uma farsa, uma crueldade maquiada de acaso.
De repente, meu celular vibrou na mesa de cabeceira. Olhei para ele, e minhas lágrimas pararam momentaneamente.
Era minha mãe.
Atendi com a voz fraca.
"Helen, filha? Você está bem? Fiquei sabendo do que houve."
Não consegui responder, apenas ouvi sua voz preocupada.
"Helen, sei que é difícil", ela disse devagar. "Mas talvez... seja hora de pensar em seguir em frente. Você ainda tem uma vida inteira."
Continuei muda, perdida em meus pensamentos.
"Daniel Campos ligou de novo", ela continuou, sem imaginar a bomba que eu havia acabado de descobrir. "Ele tem perguntado por você há meses. É um homem bom, Helen. Bem-sucedido. E a família dele vai se mudar para a Europa em definitivo."
Europa... longe daqui, longe de tudo.
Um pensamento frio e afiado atravessou minha dor - uma saída.
"Mãe", eu disse, com a voz surpreendentemente firme.
"Sim, filha?"
"Diga a Daniel que vou encontrá-lo."
Ela ficou em silêncio, surpresa. "Mesmo? Tem certeza, Helen?"
"Absoluta", respondi, a voz dura. "Fale para ele que estou pronta para um recomeço. Mas peça que ele resolva tudo: divórcio, mudança. Tudo."
Desliguei antes que ela pudesse me questionar.
Olhei para o relógio em minha mão. A inscrição brilhava na luz fraca: "H&E, Para Sempre."
Uma risada amarga escapou dos meus lábios. O Para Sempre havia acabado.
"Você queria que eu fosse forte, Evertt?" Eu pensei, apertando cada vez mais o relógio. "Muito bem, eu serei. Forte o bastante para acabar com você."