Kael, o Senhor do Abismo, me chamava de seu tesouro mais precioso, a única luz em seu reino sombrio. Ele trançava meus cabelos prateados todas as manhãs com suas mãos fortes e eu cuidava da Flor da Alma, um presente do meu amor por ele. Tudo ruiu quando ele retornou de uma batalha, não sozinho, mas com Lira, uma mulher frágil com quem ele demonstrava a preocupação que antes era minha. Ele a carregava nos braços, e na última noite em que dormimos juntos, não veio ao nosso quarto. Lira adoeceu e ele exigiu que eu entregasse pétalas da Flor da Alma, mesmo sabendo que cada uma drenava minha força vital e me deixaria doente por meses. Com meu corpo enfraquecido e meu coração dilacerado, ouvi Kael confessar: "Elara... Elara sempre foi apenas uma guardiã para a flor. Seu propósito está quase cumprido." Eu não era seu tesouro, mas uma ferramenta descartável. A dor física se tornou insignificante diante do vazio gelado em minha alma. Como ele pôde me usar assim? Como pôde fingir amor por séculos? As palavras dele, seu beijo com Lira, a humilhação pública: tudo era um preço pequeno a pagar? Decidi ir embora, não para outro reino, mas para o Rio do Esquecimento, o único lugar de onde ninguém retorna. Eu, Elara, preferia ser apagada a viver um segundo a mais como a tola de um deus. Minha partida seria o que ele menos esperava.