Dois anos de casamento, e a minha cama continuava fria. Mateus, meu marido, nunca me tocou. A minha vida de luxo era uma fachada vazia. Eu, Lara, a rainha do samba, tinha me tornado uma sombra obediente. Até que, numa noite, o segredo gelado dele foi revelado. Encontrei-o na capela privada, ajoelhado, não rezando a Deus. Estava a adorar um vídeo da sua prima, Sofia. A sua devoção era uma penitência, uma punição por um amor proibido. Naquele instante, percebi: eu era apenas um escudo, um objeto para a sua fachada. O meu coração estilhaçou-se. O inferno abriu as portas. Sofia, a manipuladora, veio morar connosco. Ela cortou o meu longo cabelo enquanto eu dormia, tentando apagar a minha essência. Atirou-me uma garrafa à cabeça, deixando-me com uma concussão. E ele? Mateus, o meu marido, sempre a defendeu, minimizando cada agressão. O ápice da crueldade veio durante um sequestro. Ele teve que escolher, e sem hesitar, salvou-a a ela. Deixou-me para morrer no fogo. E, para selar a traição, usou a minha pele para cobrir a pequena queimadura dela. Sem o meu consentimento. Senti-me a marioneta numa peça doentia. Usada, violada, humilhada ao extremo. Para Mateus, eu era apenas um problema a ser resolvido com dinheiro, um incómodo gestível. Como pude ser tão cega? O meu amor por ele, tão puro e apaixonado, tinha sido um sacrifício em vão. Estava esgotada, mas uma nova centelha de raiva e determinação nascia em mim. Eu não iria mais ser a vítima passiva dessa história macabra. Eu não suportaria mais. A minha voz, antes silenciada pela humilhação, finalmente gritou: "Eu quero o divórcio!" Eu ia fugir. Eu ia encontrar a Lara vibrante que o Rio de Janeiro conhecia e construir a minha própria felicidade. Era a hora de renascer das cinzas.