A noite estava fria e o cheiro de feijão na cozinha trazia o conforto de uma vida simples que eu, Maria, tanto amava. \nAcabei de voltar do mercado com as mãos dormentes, sonhando com a sopa preferida do meu filho João e o bolo de fubá do meu marido Pedro. \nQuando fui pegar lenha, ouvi suas vozes, a de Pedro e de Joana, minha melhor amiga, minha comadre, sussurrando segredos que estraçalhariam meu mundo. \nAli, escorada na janela, ouvi Pedro dizer que eu era uma âncora, que ele e Joana forjariam o sequestro de João e roubariam o dinheiro de nossa vida inteira, para depois me culpar e me deixar na miséria. \nPara piorar, João, meu filho de cinco anos, correu para Joana, chamando-a de "nova mamãe", e com um desprezo aprendido, disse que não gostava da comida de pobre que eu fazia. \nA mãe de Pedro, Sônia, que sempre foi minha aliada, entrou e confirmou sua cumplicidade no plano, selando a traição de todos que eu amava. \nMeu corpo gelou, mas a dor se transformou em uma raiva fria e uma clareza assustadora: eu já havia vivido isso antes. \nEm minha vida passada, essa mesma cena me levou ao inferno. \nEu caí em desgraça, fui deixada por Pedro, acusada pela vila e amargamente procurei por João durante anos, apenas para descobrir que tudo era uma farsa bem orquestrada. \nMeu filho estava vivo e feliz com eles em uma vida de luxo, e o choque da traição foi tão brutal que meu coração parou. \nMas então, eu acordei. \nAcordei de volta àquela noite, àquele exato momento. \nAs lágrimas secaram, e uma determinação de ferro tomou conta de mim: desta vez, a história seria diferente. \nEu não seria mais a vítima; eu me vingaria e restauraria minha honra, custe o que custar.