Baixar App hot
Início / Moderno / Nas Amarras do Sheik
Nas Amarras do Sheik

Nas Amarras do Sheik

5.0
11 Capítulo
47.1K Leituras
Ler agora

Sinopse

Índice

- Fico feliz por saber. Mas você tem certeza de que não há espaço para um homem em sua vida? - Absoluta. Ele tocou seu lábio inferior com uma carícia suave como uma asa de borboleta. Natasha encolheu-se. O pequeno toque era, de alguma forma, mais íntimo do que um beijo. Ele deu um riso suave, que ninguém além dos dois poderia ter escutado. - Eu precisaria de uma noite para fazê-la mudar de idéia - ele murmurou, a respiração eriçando o cabelo que circulava a orelha dela. - Apenas... Uma... Noite. Natasha procurou sem sucesso uma resposta definitiva. Mas era tarde demais. Ele já tinha ido embora.

Capítulo 1 1

Dedicatória:

A minha amiga Manu...

Esse livro é totalmente dedicado a você, te amo e obrigada por tudo!

- Fico feliz por saber. Mas você tem certeza de que não há espaço para um homem em sua vida? - Absoluta. Ele tocou seu lábio inferior com uma carícia suave como uma asa de borboleta. Natasha encolheu-se. O pequeno toque era, de alguma forma, mais

íntimo do que um beijo. Ele deu um riso suave, que ninguém além dos dois poderia ter escutado. - Eu precisaria de uma noite para fazê-la mudar de idéia - ele murmurou, a respiração eriçando o cabelo que circulava a orelha dela. - Apenas... Uma... Noite.

Natasha procurou sem sucesso uma resposta definitiva. Mas era tarde demais. Ele já tinha ido embora.

Capítulo 1

Nova York é o paraíso dos insones, pensou Natasha Lambert. Uma cidade que nunca dorme.

Apertou o nariz contra a janela do quarto de hotel e olhou vinte andares abaixo. O céu de novembro estava negro como se fosse meia-noite, mas já eram cinco da manhã. Mesmo assim os faróis dos carros varriam a rua molhada pela chuva e ainda havia pessoas na calçada.

Quem seriam? Pessoas indo para o trabalho? Voltando de uma noitada? Natasha viu um casal saindo debaixo do toldo do hotel, enquanto um carregador colocava uma montanha de malas no táxi.

Rapidamente voltou para a grande mesa executiva, razão principal para ter reservado a luxuosa suíte. Não que ela parecesse uma alta executiva agora, pensou Natasha, sorrindo ironicamente. Não com seus velhos e queridos chinelos forrados de pêlo e decorados com carinhas de gato.

Seu laptop estava aberto num facho de luz. Natasha sentou-se à sua frente e remexeu os dedos dos pés nos chinelos confortáveis, pensando nas cores que poderia usar nos slides de sua apresentação.

Azul? Muito frio. Vermelho? Muito agressivo.

Exatamente como eu, pensou ela de maneira esquisita. Seu último namorado fizera uma análise completa de sua personalidade antes de terminarem. Ele a havia chamado de insensível. E ficara furioso quando ela concordara alegremente.

- Isso não é um elogio - vociferou ele.

- Talvez não para você. Mas eu me esforcei muito para ficar assim.

Agora o telefone estava tocando. Sem tirar os olhos da tela, Natasha atendeu-o.

- Sim?

- Posso deixar um recado para Natasha Lambert, por favor?

- Sou eu - disse. - Oi, Izzy.

Ela ouviu um gritinho angustiado.

- Ai, não!

O sorriso de Natasha aumentou ainda mais. Izzy Dare era sua melhor amiga.

- Você não quer mais falar comigo, Izzy? O que eu fiz?

- Estava tentando deixar um recado na recepção. Não queria acordá-la!

- Não acordou.

Natasha girou um gráfico de pizza na tela. Talvez azul e vermelho? Afinal de contas, frio e agressivo muitas vezes eram características vantajosas nos negócios. Ela podia ser insensível, mas era bem-sucedida. E não ligava para o que diziam, contanto que gostassem de seu trabalho.

Ela parou de brincar com o gráfico.

- O que posso fazer por você, Izzy?

Contudo, Izzy ainda estava preocupada.

- Tem certeza que não acordei você? Achava que Nova York ficava cinco horas atrás do fuso horário de Londres. Que horas são aí, afinal?

- Cinco e pouco.

- E você está acordada? - Izzy estava horrorizada.

- A Lambert Research nunca dorme - disse Natasha, em tom formal.

- Mas por quê?

- Reunião no café-da-manhã com o Poderoso Chefão. Resolveram isso no último instante, então estou refazendo a apresentação.

- Ele é legal? - perguntou Izzy, temporariamente distraída de seu objetivo.

- Quem?

- O Poderoso Chefão.

- David Frankel? É um workaholic baixinho e gordo que tem uma propensão nojenta para apalpá-la se você deixá-lo chegar muito perto.

- Parece horrível.

- Por isso ele é o Poderoso Chefão - disse Natasha calmamente. - Homens poderosos são horríveis. Faz parte do trabalho deles.

Izzy protestou, mas Natasha ficou indiferente.

- Sem problemas. Trabalho com homens poderosos o tempo todo. Eles dão muito trabalho e não gostaria de namorar um deles. Mas, tirando isso, são legais. Diga logo o que você quer.

- É sobre o fim de semana...

- Ah, sim. Estou esperando ansiosamente por ele. Um programa com as amigas é exatamente do que preciso. Principalmente depois da semana que tive.

Houve uma pausa, que teria sido perceptível se Natasha não estivesse digitando, ajustando o gráfico novamente.

Desta vez, ela o coloriu de verde limão. A tela pulsou com as cores fortes. Natasha tombou a cabeça para o lado. Jovem e excitante? Ou muito superficial?

- Houve uma mudança de planos.

Natasha suspirou.

- Que pena. Vamos ter de adiar por causa da chuva?

- Não, não foi esse tipo de mudança. Foi... Bem... Uma mudança de local.

- Certo - disse Natasha, sem muito interesse. - Para onde?

- Bem... - Izzy parecia estranhamente envergonhada. - Será numa casa particular. Eu peguei emprestada.

- Legal. Dê-me o endereço.

Izzy deu.

- E tem mais uma coisa...

Finalmente a hesitação de Izzy fez efeito. Natasha parou de brincar com o mouse.

- Ande, Izzy. Fale logo. Qual é o problema? O lugar está caindo aos pedaços? Não tem aquecimento central? É tão escondido que terei de alugar um helicóptero para chegar lá?

- Você faria isso, não faria? - Izzy parecia estranha.

- O que for preciso - disse Natasha, animada. - Uma por todas e todas por uma. Você é minha melhor amiga e não a vejo há seis meses. - Ela encolheu os dedos e largou o mouse. - Vou ter de arranjar um piloto?

- Não. De carro, fica a uma hora do aeroporto.

- Então não há problemas.

- Certo. Então volte para seu trabalho, e eu a verei amanhã. Vai pegar o vôo noturno?

- Sim.

- Isso é bom. Teremos o dia inteiro para conversar antes que as outras cheguem.

Natasha franziu a testa. Deu as costas para o laptop. Aquilo parecia sério.

- Você está com algum problema, Izzy?

- Não, é só que... - Izzy parou. Depois continuou, com uma voz alta e artificial. - Serenata Place é difícil de encontrar. - Era como se ela quisesse dizer algo mais e não tivesse coragem. - Vou mandar um mapa por e-mail - disse ela, com animação desesperada.

A testa de Natasha ficou ainda mais franzida. Nunca tinha escutado Izzy falar assim. Bem, pelo menos desde...

Ela afastou as lembranças sombrias de sua mente. Já haviam se passado três anos desde aquela época ruim. Ela e Izzy tinham saído vivas da selva, como todos os outros. Os pesadelos também iriam embora na hora certa.

No entanto, isso não explicava por que Izzy parecia tão tensa c artificial.

- Qual é o problema, Izzy?

- Vou me casar.

- Vai o quê?

- Me casar - disse Izzy, rápida. - Eu sei. É muito de repente. Você não o conhece. Só que ele está indo viajar e... Este fim de semana será nosso noivado.

Natasha ficou ali franzindo a testa para o telefone por um longo instante. Izzy era uma mulher prática, determinada, mas tinha seu lado vulnerável. E Natasha sabia exatamente qual era. Izzy estava no trabalho. Trabalhava com a prima, Pepper, num escritório claro e elegante. Não havia paredes e qualquer um podia escutar a conversa dos outros. Izzy não ia querer falar sobre aquilo com suas colegas de trabalho escutando.

- Olhe, vejo você na sexta-feira e conto tudo. Bom vôo. - Izzy desligou.

Certo, esperaria até encontrá-la cara a cara na sexta-feira. E aí Izzy lhe contaria tudo.

Enquanto isso, não havia sentido em ficar pensando sobre o assunto. O súbito casamento de Izzy poderia esperar algumas horas. Natasha, a profissional, tinha uma apresentação para terminar.

Virou-se novamente para o laptop e, com uma batida forte no teclado, fez o gráfico ficar roxo.

A sala do trono no palácio era uma mistura excêntrica de magnificência e simplicidade. O emir do Saraq estava sentado numa cadeira francesa de brocado que teria se encaixado melhor no palácio de Versailles, e acenou para o recém-chegado na direção de um sofá sueco minimalista. O emir o tinha chamado pessoalmente.

- Você não manda em mim, vovô - disse o recém-chegado, sem qualquer emoção. Era alto, com sobrancelhas decididas e um nariz adunco e altivo. Sua túnica branca não tinha nenhum vinco. Ele não se sentou.

- Você está aqui - lembrou o Emir com um toque de desafio.

- Por enquanto.

Seus olhos se encontraram: os do emir, ferozes; os de seu observador, indecifráveis. Ele tinha bastante prática em mascarar os sentimentos.

- Não vamos discutir, Kazim. Isto é importante.

O tom apaziguador era incomum. Mas o avô era um ator contumaz, pensou Kazim, e tão astuto quanto um falcão caçador. Ele permaneceu alerta.

- Outro casamento arranjado?

- Não. Eu já concordei, você decide quando se casar. - Parecia que cada palavra estava sendo arrancada dele, mas mesmo assim conseguiu dizê-las.

Não foi suficiente. Kazim corrigiu-o, implacável.

- Se eu me casar.

O velho também não gostou daquilo.

- Se você se casar - concordou com relutância.

Kazim não sentiu remorsos.

- E com quem eu quiser casar.

- E com quem você quiser casar - repetiu o emir, entre os dentes.

O neto assentiu como um general aceitando a rendição. Eles se encararam como dois duelistas.

O emir disse algo explosivo, bem baixinho.

Kazim decidiu não escutar. Às vezes aquele era o único movimento possível no prolongado jogo de xadrez que era o relacionamento dos dois.

- Você quebra todas as tradições e não escuta ninguém, mas realmente consegue fazer as coisas. Os lábios de Kazim se contraíram.

- Obrigado. Acho.

O emir parou de falar baixo e rearrumou a dobra de sua túnica branca sobre os joelhos. Estava nitidamente fazendo um enorme esforço para parecer razoável.

- Pedi para vê-lo porque houve um alerta.

Subitamente, toda a cautela de Kazim se dissolveu em preocupação.

- Está falando de ameaças? Contra você?

O emir permitiu-se um sorriso fino.

- Não. Contra você.

Por um instante, o rosto de Kazim ficou absolutamente sem expressão. Ele não respondeu. A atmosfera na sala do trono ficou carregada de eletricidade.

- Então você sabia - disse o emir suavemente.

Kazim ficou perturbado. Não tivera a intenção de revelar tanto. O velho era muito bom naquilo. Mas aquele não era um bom pensamento. Escondeu o desconforto, profissional que era, e deu de ombros.

- Sempre há malucos por aí. As ameaças vêm com o território.

- E você está se colocando como alvo para eles - disse o avô, com raiva súbita.

Kazim suspirou. Aquilo não era novidade. Seu avô o queria em casa e a salvo em Saraq, sem se envolver em conversações de paz em outros continentes.

- Este seu Conselho de Reconciliação Internacional é uma grande idéia. Muito bem pensada - fez uma pausa para conseguir mais efeito. - Para daqui a 50 anos.

- Não temos 50 anos - disse Kazim, um pouco cansado.

Já haviam discutido aquilo antes, muitas vezes; de maneira mais explosiva no dia em que partira,

um ano atrás. Ele se preparou para discutir novamente. Mas, desta vez, o emir não estava em busca de uma boa discussão.

- Isso não importa.

- Como assim?

- Você está na lista de assassinatos - disse o velho, de repente.

Kazim ficou rígido como uma rocha.

- Seus espiões são muito eficientes - disse, educadamente.

- Você não está levando isso a sério.

Kazim deu de ombros novamente.

- Tomo precauções bem razoáveis.

- Não, não toma.

Kazim piscou.

- Como assim?

- Liberar os seguranças e até mesmo os empregados durante um fim de semana inteiro não é tomar precauções bem razoáveis - acusou o emir. - Não é isso que você vai fazer?

- Invasão de privacidade é um conceito totalmente estranho para você, não? - reclamou Kazim, implacável.

- Cuido dos meus familiares.

- Mantendo-os sob vigilância 24 horas por dia?

- Se é por causa de uma mulher, traga-a para cá, onde você está a salvo. Você pode ficar com o Sultana's Palace e terá toda a privacidade que quiser.

Um músculo saltou na mandíbula de Kazim.

- Não é uma mulher - disse ele, irritado.

Pela primeira vez na conversa o emir sorriu.

- Melhor se fosse. Você trabalha muito.

Ambos sabiam que Kazim não visitava seus aposentos particulares no palácio do emir havia anos. Tinha vindo direto do aeroporto para este encontro e o emir sabia que, provavelmente, o jato particular estava sendo reabastecido enquanto conversavam.

O emir tinha aprendido pelo caminho mais difícil que, se houvesse uma batalha de vontades entre eles, Kazim sairia sem olhar para trás se achasse que estava certo. Mas aquilo era mais do que a batalha normal entre os dois. De repente ele não era mais o emir; era apenas um homem preocupado com a segurança do neto.

- Pelo menos mantenha a equipe de segurança em Serenata Place. - Isso era o mais próximo de um pedido que o velho soberano conseguia fazer.

Kazim ainda estava fervendo por dentro com a idéia de estar sendo espionado. - Minha organização para entreter meus amigos diz respeito apenas a mim.

O avô explodiu.

- Amigos! Que tipo de amigos iam querer colocá-lo em perigo?

- Amigos normais - retrucou Kazim.

- Ora!

No entanto, havia um tom de desespero real na voz do velho homem. Kazim fez uma pausa, depois se sentou no sofá.

- É apenas um fim de semana - disse, numa voz mais suave.

- A duração é irrelevante - disse o emir. - Seria necessário menos de um minuto para um atirador de elite matá-lo.

- Vou mandar Tom fazer uma varredura completa antes dos convidados chegarem, na sextafeira - disse Kazim gentilmente. - E recoloco a equipe completa de segurança quando os empregados voltarem ao trabalho.

O emir fez um ruído de indisfarçável desprezo. Kazim deixou a gentileza de lado.

- Não posso deixar a festa de noivado de meu melhor amigo ser estragada por homens com fones de ouvido e paranóia profissional.

- Uma festa! Você pelo menos checou a lista de convidados?

Kazim subitamente ficou muito parecido com um príncipe do deserto.

- Dominic é meu amigo.

- Tem certeza? - perguntou o avô com raiva.

Kazim cedeu um pouco.

- Vovô, entenda. Dom e eu sempre escalamos juntos. Ele já teve a minha vida em suas mãos e eu, a dele. Claro que não fiquei conferindo quem são os amigos deles.

- Cancele essa festa!

Kazim olhou-o diretamente nos olhos.

- Em meu lugar, o senhor cancelaria?

Ele sabia um monte de histórias sobre a juventude do avô. Histórias de coragem e lealdade, além de pura obstinação. Ele baixou os olhos.

- Tudo o que sou herdei de meus ilustres antepassados - murmurou, com ares de herdeiro submisso.

O emir estreitou os olhos.

- Você pode ser muito inteligente - disse. - Mas um dia vai cair com essa cara presunçosa no chão.

Os olhos escuros de Kazim, tão parecidos com os do emir, acenderam-se com súbito humor.

- Quando isso acontecer, farei com que o senhor saiba imediatamente - assegurou ao avô.

E saiu.

Seu assistente pessoal estava esperando ao lado do veículo 4X4 no pátio da segurança do palácio. Seus passos raivosos faziam a túnica branca ondular.

- E aí?

- O velho tem um espião em minha casa - disse Kazim, entre os dentes. - Quer que eu encha Serenata Place com segurança 24 horas. Dê-me as chaves.

Martin sentiu o coração apertar. A maior parte do tempo, Kazim era um homem aberto à razão, mas esses encontros com o avô faziam com que seu temperamento explodisse. Ele ficaria remoendo aquilo durante dias.

Martin começou a andar ao lado dele, sacudindo a cabeça.

- Está falando do fim de semana com Dominic?

- Sim.

- Bem, ele tem uma certa razão.

Eles alcançaram o carro. Antes de entrar no banco do motorista, Kazim parou.

- Ouça, Martin - disse controladamente. - Passo minha vida pública cercado de guardacostas e seguranças em tempo integral. Pelo menos desta vez, quero dar uma festa como um homem normal.

Martin trabalhava para Kazim há muito tempo. Sabia quando o chefe não ia mudar de idéia.

Todos os que trabalhavam para Kazim sabiam. Os empregados da casa o temiam; os do escritório tentavam lidar com aquilo; seu secretário pessoal chamava de "o lado sheik" de Kazim. Não acontecia com freqüência. Mas, quando acontecia, ficava irremovível.

- A decisão é sua.

Kazim ligou o motor, conferindo o aparelho GPS.

- Se não posso acreditar num homem com quem faço escaladas, não posso acreditar em mais ninguém.

Martin entendia. Mas fazia parte de seu trabalho lembrar Kazim de verdades não muito bemvindas.

- Você não escalou com a namorada dele. Ou a amiga da namorada.

Kazim virou a cabeça, surpreso.

- Você acha que os Filhos de Saraq vão mandar alguma estilista de Londres me assassinar?

Martin explodiu numa gargalhada.

- Dessa forma não parece provável - admitiu.

Kazim pôs o carro em movimento.

Pela primeira vez em dias, seus olhos estavam brilhando. Tomara que ela seja loura! Ficou naquele humor frívolo o tempo todo durante o vôo de volta para Londres, para desespero de Martin e Tom Soltano, o americano que era chefe da segurança de Kazim. Quando já voavam há uma hora, Martin estava quase perdendo a paciência. Até que Kazim disse algo tão ultrajante que ele explodiu.

- Você só pode estar brincando!

Kazim levantou o perfil altivo do arquivo que estava examinando e suas sobrancelhas se ergueram.

- Nunca brinco com meus compromissos.

Aquilo era verdade. Nos últimos e tumultuados anos, Kazim tinha voado para o mundo todo, levando sua marca pessoal de inteligência refinada e calma bem dosada para a resolução de conflitos, do deserto às periferias das cidades. Era uma agenda importante e cheia de responsabilidades. Mas não provocava muitos risos. Martin, que organizava a maioria dos eventos, sabia tudo sobre a agenda. Levantou-se e abriu um grande mapa na mesa, à frente de Kazim. Mostrava seus compromissos, dia a dia, nos próximos seis meses. Martin colocou o dedo sobre a semana da qual Kazim estava falando.

- Apenas olhe. Você não tem tempo.

Kazim manteve a calma, como sempre. Esta era uma de suas características mais irritantes.

- Quando chegar a hora, eu arranjo tempo.

- Veja isso. Nova York, Paris, Saraq, Indonésia, Turquia. Você não pode nem ter certeza de que vai conseguir ir ao casamento de Dominic, quanto mais dirigir o cerimonial.

Kazim sorriu. Tinha um belo sorriso. Iluminava seus olhos, transformando o rosto severo em puro charme, que derretia qualquer pessoa num piscar de olhos. Aquele sorriso fazia as mulheres adorarem-no. Martin olhou para ele com suspeita.

- Mas não vou dirigir o cerimonial do casamento de Dominic - disse Kazim em tom brando. - Ele me convidou para ser o padrinho, e só. Chego e fico ali segurando as alianças. Quanto tempo isso vai demorar?

- Você já foi a um casamento inglês?

Kazim al Saraq era brilhante e poderoso, com um perfil arrogante e poços de petróleo suficientes para que as pessoas geralmente não discutissem com ele. Mas os dois eram seus companheiros mais próximos. Jamais se lembravam dos poços de petróleo e ignoravam seu perfil.

- Um casamento inglês? Claro.

- Daqueles grandes? Com tias usando chapéus? Mães debulhando-se em lágrimas? - pressionou o conselheiro de segurança.

- Casamentos não são tão diferentes assim entre as culturas - disse Kazim secamente. - Mães se debulhando em lágrimas são uma constante, da Índia ao Canadá.

- Acho que você está certo sobre as mães - admitiu Tom. - Mas o padrinho inglês é único. E faz muito mais do que ficar segurando um par de anéis, acredite em mim. Eu já fui padrinho.

- Escute homem.

- Certo, continue. Pode me apavorar.

- Bem - disse Tom com satisfação. - Você fica responsável pelo noivo. E eu quero dizer responsável. Você tem de dar a festa da vida dele. Depois de casado, ele deve lembrar dessa época como seus últimos dias de liberdade. Esse tipo de festa.

- E depois, você o cura da ressaca no dia seguinte e o leva à igreja - interveio Martin.

- Dominic estará treinando para a expedição ao Pólo Sul. Não haverá bebedeiras. Então, nada de ressacas. - Houve um lampejo de diversão no olhar de Kazim que eles não viam há décadas. - Vocês terão de fazer melhor do que isso para me convencer.

- Certo - disse Martin. - Que tal isso? Todos os amigos dele serão uma espécie de mestresde-cerimônias. Você não os conhece e metade deles não conhece os outros, mas terá de dizer a eles o que fazer. E terá de manter sob controle os pajens, as daminhas e as madrinhas.

- Você está querendo dizer que vou dirigir o espetáculo - disse Kazim, ainda irritantemente calmo. - Posso muito bem fazer isso. É o que mais faço na minha vida.

Martin levantou os olhos para o céu. Tom disse, gentilmente:

- Diga a Martin e a mim o que fazer, e nós dirigiremos o espetáculo.

- Isso é verdade.

Tom continuou, com honestidade.

- O padrinho é uma espécie de faz-tudo. Terei de fazer um alerta contra isso. Você será um alvo

fácil.

Martin assentiu.

- E terá de arregaçar as mangas, esfregar as mãos e trabalhar. Não poderá delegar isso a ninguém.

Kazim permaneceu impassível. Martin quase sapateou de irritação. Mas Tom, o homem de Princeton, continuou com firmeza.

- Você terá de coordenar os discursos durante a refeição após a cerimônia. Que diabos, você tem que fazer o melhor discurso de todos.

- Faço discursos o tempo todo.

- Não como este - disse Martin com delicadeza. - Você terá de contar piadas.

Por um instante, Tom esqueceu o e-mail ameaçador cm sua pasta de Ações Imediatas.

- Você conhece alguma história sobre Dominic Templeton-Burke que faça um monte de estranhos rirem, Kazim? - perguntou, curioso.

Pela primeira vez, Kazim empalideceu. Os outros dois reagiram com satisfação.

- E que tal as madrinhas? - acrescentou Tom, começando a se divertir. - Você deve acompanhar a madrinha principal pela nave da igreja, atrás dos noivos, e ouvir todas as tias falando que casal adorável vocês fazem?

- É - disse Martin, mais aliviado. - Haverá uma festa depois. E você terá de dançar com a madrinha mais feia. E continuar dançando com ela sempre que estiver sozinha.

- Cuidar para que nenhum dos pajens caia sobre os presentes de casamento - acrescentou Tom. - Apresentar as pessoas. Manter as duas sogras longe das gargantas uma da outra e os sogros longe da garrafa de conhaque. Mandar o casal feliz embora com um sorriso, garantindo que ninguém vandalize o carro deles.

- Vocês estão exagerando.

- Nem um pouco.

- Tom fez isso e sobreviveu. Não pode ser tão ruim assim.

Os outros dois se entreolharam novamente.

- E pior - disseram em uníssono e passaram mais dez divertidos minutos contando a ele os piores desastres de casamento de que cada um podia se lembrar.

- Não pense que você vai poder voar até lá, ficar no altar ao lado de Dom por dez minutos e depois pegar outro avião - avisou Tom. - Não pode ser assim.

- Ligue para ele e diga para conseguir outra pessoa - disse Martin, sério. - É o único jeito. Mas o queixo de Kazim se ergueu.

- Dei minha palavra a Dom.

- É, mas você não estava pensando - começou Tom.

- Minha palavra.

Martin sabia que aquele era o ponto final. Se Kazim fizera uma promessa, nada o desviava daquilo. Jamais.

- Se não puder fazer isso, sou um homem menor do que deveria ser.

Houve um pequeno silêncio. Os outros dois reconheceram a derrota.

- Você é um bom homem, Kazim - disse Tom.

Martin não estava menos emocionado. Mas ainda era um homem prático. - Sorte da madrinha mais feia.

Continuar lendo
img Baixe o aplicativo para ver mais comentários.
Mais Novo: Capítulo 11 11   01-23 11:40
img
1 Capítulo 1 1
08/03/2022
2 Capítulo 2 2
08/03/2022
3 Capítulo 3 3
08/03/2022
4 Capítulo 4 4
08/03/2022
5 Capítulo 5 5
08/03/2022
6 Capítulo 6 6
08/03/2022
7 Capítulo 7 7
08/03/2022
8 Capítulo 8 8
08/03/2022
9 Capítulo 9 9
08/03/2022
10 Capítulo 10 10
08/03/2022
11 Capítulo 11 11
08/03/2022
Baixar App Lera
icon APP STORE
icon GOOGLE PLAY