Ele me arrastou para o hospital, onde um laudo forjado provou minha "mentira", me declarando perfeitamente saudável.
Como ele pôde? Para o homem que eu amava, eu era apenas uma farsa. A frieza em seus olhos doía mais do que o tumor que me consumia.
No dia do meu aniversário, que era também o dia do seu casamento, ele me abandonou pela última vez. Com o coração destruído, entrei na cápsula de gelo para dormir para sempre, fugindo da sua crueldade e o libertando para ser feliz.
Capítulo 1
(Carolina Girão POV)
"Eu não quero morrer. Eu não posso morrer." Foi o que eu disse ao Dr. Fausto Oliveira, e era a verdade que me rasgava por dentro.
"Carolina, você tem certeza da sua decisão?" A voz do Dr. Oliveira do outro lado da linha estava carregada de preocupação. "Sabe que este programa é experimental, praticamente uma aposta no escuro."
"Eu sei." Minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria. "Mas o que mais me resta, doutor? Meses? Deitada numa cama, esperando o fim?"
Um silêncio pesado preencheu a linha. Ele sabia a verdade. Sabia que eu tinha um tumor cerebral inoperável, uma sentença de morte que ninguém mais conhecia.
"O tratamento não é promissor, Carolina. É um salto gigante no desconhecido. Os riscos são imensos." Ele tentou me dissuadir novamente, sua voz gentil, mas firme.
"Minha decisão está tomada, Dr. Oliveira." Minha mão tremia ao segurar o telefone. "Não há mais volta."
Desliguei. O som do clique final ecoou no silêncio da sala, um silêncio que parecia gritar o meu desespero.
Meu olhar recaiu sobre a mesa de jantar, onde a refeição que preparei com tanto carinho para Miguel esfriava. O cheiro de manjericão e tomate já não era convidativo, mas sim melancólico. De repente, a tela do meu celular acendeu, uma notificação de notícias. Eu não queria olhar, mas meus olhos foram puxados contra a minha vontade.
A manchete piscava em letras garrafais: "O Magnata Miguel Do Lago e a Socialite Adriana Bettencourt: Um Romance que Incendeia os Corações da Alta Sociedade!" A imagem que acompanhava a notícia era um soco no estômago. Miguel, meu guardião, meu amor secreto, sorria, aninhado a Adriana. Os dedos dela estavam entrelaçados nos dele, e na mão esquerda, um anel reluzia.
Era o anel que eu havia desenhado para ele, um presente de aniversário que nunca teve a chance de dar. Uma joia única, com uma pequena pedra lapidada em formato de estrela, lembrando as noites que passávamos olhando o céu. Aquele brilho frio no dedo dela perfurou meus olhos como agulhas de gelo.
Eu tentei respirar, tentei conter as lágrimas, mas elas vieram, quentes e incontroláveis, escorrendo silenciosamente pelo meu rosto.
Miguel, como você pode? Como pode me fazer isso?
O jantar que eu havia preparado estava completamente frio agora, assim como o meu coração. Uma sensação de vazio glacial se instalou em mim, e eu senti um frio que não vinha da temperatura ambiente, mas de dentro da minha alma.
O som da porta se abrindo, horas depois, me fez encolher. A silhueta alta de Miguel preencheu a entrada da sala de jantar. Ele trazia consigo o ar gelado da noite, mas a frieza em seus olhos era ainda mais cortante. Seu olhar encontrou o meu, e sua expressão, já distante, ficou ainda mais severa.
"Por que ainda está acordada, Carolina?" Sua voz era um sussurro rouco, mas cada palavra era um chicote. "Eu passei a noite com Adriana. Você não precisa ficar me esperando como uma esposa abandonada."
Meus olhos baixaram, fixando-se nas minhas mãos cerradas na mesa.
"Feliz aniversário, Miguel", eu murmurei, minha voz quase sumindo.
Ele bufou, um som de desdém. "Não comece com isso, Carolina. Já deixei claro que não há nada entre nós. Seus sentimentos por mim são... doentios. Repugnantes."
Ele se virou bruscamente, o som da porta do escritório batendo reverberou pela casa, selando a conversa, selando o meu destino.
Eu permaneci ali, no silêncio que ele deixou.
"Adeus, Miguel," sussurrei para o vazio. "Adeus para sempre."
O que era mais frio? A morte que se aproximava ou a indiferença dele? Eu me lembrava de como ele costumava me abraçar, me aquecer em seus braços quando eu era pequena. As lembranças eram como brasas moribundas, ainda quentes o suficiente para me queimar.