Minha irmã, Sofia, sempre foi a preferida da mamãe. Eu, Ana Paula, era a sombra, a certinha, a invejosa, sempre comparada e desvalorizada. Lembro-me bem do cheiro de cigarro barato e perfume doce que me tirou do sono, da voz arrastada dela, cheia de orgulho bêbado: "O Pedro. Ele terminou com você, né? Coitadinha. Adivinha com quem ele está agora? Comigo." Naquela vida, desabei. Chorei por semanas. Mas, no dia do casamento de Sofia com Marcelo - o homem que minha mãe arranjou para mim e que Sofia roubou -, eu não aguentei. Tentei fugir, mas minha mãe me empurrou escada abaixo, com Sofia assistindo. Meu crânio bateu no mármore. A dor era insuportável, mas a traição, ainda pior. Morri ali, odiando-as com cada fibra do meu ser. Mas eu renasci. De volta ao passado, no meu antigo quarto, com a memória da minha morte e o ódio intactos. Isabel e Sofia estavam lá, vivas, alheias ao destino que as aguardava. "Marcelo virá jantar aqui na sexta-feira. E eu quero que você seja simpática. Sofia não está interessada, então talvez você tenha uma chance." O desprezo na voz dela era palpável. Eu era apenas a sobra. Elas me viam como derrotada. Como a Ana Paula de antes, que aceitava as migalhas. Mas a vingança não era mais uma opção. Era uma necessidade. E elas não faziam ideia do monstro que tinham criado, pois eu sabia dos segredos imundos de Sofia e da obsessão da minha mãe por status. O jogo delas estava prestes a virar.