A festa de aniversário de Rafael era o evento social do ano, e eu, Sofia, sua esposa e designer de interiores, tentava ser a anfitriã perfeita, sentindo-me apenas uma peça de decoração bonita e silenciosa em nossa casa impecável. De repente, Lucas, meu enteado de nove anos, jogou aos meus pés o presente que eu lhe dera – um carrinho de controle remoto de edição limitada –, seus olhos cheios de desprezo: "Eu não quero isso." O plástico da embalagem rachou, cortando as conversas e virando todos os olhares para mim. Antes que eu pudesse reagir, ele me acusou, repetindo as palavras que Patrícia, a ex-namorada de Rafael, havia sussurrado em seus ouvidos por meses: "Você não é minha mãe! A Patrícia disse que você só quer o dinheiro do meu pai. Ela é minha verdadeira mãe!" O ódio em sua voz era palpável. Eu procurei Rafael, mas ele desviou o olhar, ignorando a cena, deixando-me à mercê dos sussurros e julgamentos. Minha sogra, Dona Helena, sorria satisfeita, fazendo um gesto sutil de aprovação para o neto. A solidão me engoliu, e a humilhação me sufocou. Segurei o carrinho quebrado, sentindo a dor das acusações e da indiferença. Subi para o quarto, e lá, a solidão deu lugar a uma decisão fria e inabalável: "Isso acaba hoje."