Quando abri os olhos no hospital, ainda atordoada pelo acidente, a enfermeira disse que Pedro, o meu marido, vinha a caminho. O nome dele soava estranho na minha boca, vazio, enquanto uma dor excruciante no meu ventre anunciava o meu pior medo. O nosso bebé, a esperança dos últimos três anos, tinha-se ido. De repente, a voz dele ao telefone, apressada, ansiosa. "Onde estavas, Pedro?" perguntei, a minha voz rouca. Ele hesitou, depois murmurou sobre Sofia, a ex-namorada: "O carro dela avariou no meio da autoestrada, Eva. Tu sabes como ela é." Enquanto eu sangrava e perdia o nosso filho, ele estava com ela? Lembrei-me do som do metal a torcer e do grito da minha mãe, que estava inconsciente ao meu lado. E ele escolheu ir ter com a Sofia. "Não é justo, Eva! Eu não sabia que era tão grave!" defendeu-se ele depois, na minha cara. Os seus olhos, antes cheios de súplicas, agora mostravam impotência e algum ressentimento... Ressentimento por eu o ter exposto? "Pedro, eu quero o divórcio," disse eu, as minhas palavras mais frias que a sala de operações onde o nosso filho morreu. Mas a porta abriu-se de novo, e o meu sogro, João Almeida, um homem que nunca me aprovou, entrou, a sua cara uma máscara de desaprovação. Ele chamou-me histérica, disse que eu estava a envergonhar a família, que o Pedro "cometeu um erro". Erro? O meu filho morreu por causa deste "erro"! Senti um fogo crescer dentro de mim. Toda a dor e traição cristalizaram-se. Ele queria destruir-me? Ia ter uma guerra. Levanta-te, Eva. É hora de lutar.