O cheiro de mofo e poeira invadia minhas narinas enquanto eu estava amarrada em um armazém abandonado. Minha captora, Larissa, a garota que minha família patrocinava, sorria vitoriosa, revelando seu delírio perturbador: ela se convenceu de que é a verdadeira filha da minha família, trocada no nascimento. Meus pulsos doíam, o pano em minha boca tinha gosto de sujeira, e o terror se misturava à confusão. Ela me ofereceu uma última ligação. Meu coração se encheu de esperança: Pedro, meu noivo, me salvaria. Mas a voz dele, do outro lado da linha, era fria e impaciente. "Ana Clara, você roubou a vida da Larissa, este é o preço que você deve pagar." A linha ficou muda. Traída, eu fui arrastada para a beira do rio, pronta para o fim. Gabriel, tio de Pedro, surgiu das sombras e pulou na água gelada para me salvar, pagando com a própria vida em minha vida passada. De repente, acordei novamente no armazém, o cheiro de mofo e poeira ainda presente, meus pulsos amarrados e Larissa ainda sorrindo. Eu estava de volta. Desta vez, não haveria lágrimas, nem esperança em um traidor. O capanga tirou a mordaça da minha boca. Olhando diretamente nos olhos de Larissa, minha voz firme e clara, sem um pingo de medo, eu disse: "Eu quero ligar para o meu irmão. Fernando."