Minha nonagésima nona tentativa de suicídio falhou. Ele me disse que não teríamos mais pensamentos suicidas, satisfeito. Não era por mim, mas sim pelo meu coração, destinado à amada dele. E pelo filho que eu carregava. Uma vingança contra minha família. "Luana, sua família Silva me deve, por que você não entende?" Sua acusação era um absurdo, como tantas outras. Ele me dizia estéril, mas a droga de sua mãe que me infertilizou havia virado. Agora, eu estava grávida. Dele. Tudo era uma mentira. Uma teia para me prender. Assenti, as mãos na barriga sutilmente saliente. "Sim, a culpa é minha." O sorriso dele era de triunfo, cego ao ódio em meus olhos. Calculava o tempo. O abortivo faria efeito. Pedro, você não terá o bebê. Nem o meu coração. Desta vez, não te devo mais nada. Vamos ficar quites. Ele me humilhava, me forçando a pedir desculpas por crimes inventados. "Aquele vídeo seu... você quer que todo mundo veja como a grande herdeira da família Silva é depravada?" O pânico me sufocava, mas eu cedi. Ele me via como um objeto, um corpo, um coração. Em breve, eu não seria nada. Mas então, vi a coleira azul quebrada de Pingo. "O chef fez uma receita especial. Quase como... um ensopado de gato." A dor, a humilhação, a fúria me consumiram. Eles mataram o único que me amava. Serviram-no em uma sopa. Minha vingança seria fria, clara, absoluta. "Eu não te odeio mais. Eu não sinto mais nada por você. Estamos quites." Eu sorri para ele na sala de cirurgia, com um conhecimento secreto. Minha família tinha uma alergia fatal à anestesia. O coração que ele queria parou de bater antes que ele pudesse tocá-lo. O bebê já se foi. O coração agora é inútil. Você não tem nada. Pânico na sala de cirurgia. "Ela está tendo uma reação alérgica à anestesia! Parada cardíaca!" "Ela está grávida! O ultrassom mostra um feto de doze semanas!" "É tarde demais. Ela se foi." Minha vingança estava completa. Ele se recusou a ver a verdade. "Não me importo," Pedro disse. "Apenas... prossiga com a cirurgia da Sofia. Use o que for preciso." Ele não me libertaria, nem mesmo na morte. Minha alma fantasmagórica estava presa. Até que ele descobriu a verdade. Sofia, em sua fúria, revelou o complô. "Você se esqueceu de como planejamos tudo? Como sua mãe a drogou para que você pudesse tirar aquela foto? Foi tudo para nos livrarmos dela! Para que pudéssemos ficar juntos!" A fraude. A conspiração. A dor. Ele me encontrou em meu túmulo, cavou e achou minhas cartas de suicídio. A última dizia: "Nós estamos quites." Ele levou meu corpo para casa, tentando me preservar. Lá, ele encontrou o frasco vazio do abortivo. E o folheto sobre a minha alergia à anestesia. Eu venci. Ele se entregou. "Luana," ele disse aos microfones da polícia. "Eu te devo. Eu te devo tudo." A corrente se quebrou. Eu estava finalmente livre.