Eu fiz uma vasectomia por ela. Durante vinte anos, construímos um império do zero, com ela sempre afirmando não querer filhos, e eu, tolo apaixonado, acreditei. Então, um dia, ela simplesmente jogou um acordo de transferência de ações na minha frente, nomeando como herdeiros 51% da empresa a Lucas e Luan. Seus filhos gêmeos de seis anos. Filhos que eu nunca soube que existiam. "O que é isso, Clara?" minha voz saiu trêmula. Ela arrumou o cabelo, com a frieza de quem falava do tempo. "Estou protegendo o futuro dos meus filhos." Eu ri, um som oco. "Nós concordamos. Sem filhos. Fiz uma cirurgia por causa disso!" "Mudei de ideia," ela disse, simplesmente. Vinte anos de sacrifício, amor e parceria desmoronando em um pedaço de papel. Quando tentei buscar apoio, minha sogra, meu melhor amigo, todos insinuaram que eu era o marido da mulher rica, que deveria ser grato e aceitar. Ninguém estava do meu lado. Ela admitiu a traição, casualmente. "Foi só uma vez. Um erro. Aconteceu. Supere." Um erro que resultou em gêmeos? A mentira era descarada. Eu me recusei a assinar, e então, pela primeira vez, vi a verdade em seus olhos frios: eu era descartável, nada sem ela. A raiva borbulhava. "Eu quero o divórcio!" Ela riu. "Divórcio? E você vai ficar com o quê? Você não tem nada no seu nome." Eu fiz uma última e desesperada tentativa. "Livre-se dessas crianças. Mande-as para longe, com o pai delas." Ela balançou a cabeça. "Não. Eles são meus filhos. Eles ficam." Peguei minha aliança, coloquei-a sobre o acordo. "Acabou, Clara." Virei as costas para a vida que pensei ser minha. Mas a mentira dela estava apenas começando a se desvendar. A "viagem de estudos avançados" de um ano para o exterior, seis anos e meio atrás, a época exata do nascimento dos gêmeos. O diagnóstico de infertilidade, as lágrimas. Tudo parte de um plano doentio. Ela me usou. Ela me enganou. Construiu uma vida dupla nas minhas costas. E o pior, estava por vir.