Dona Clara, a babá que me criou como uma segunda mãe, entrou no meu quarto com o sorriso de sempre e um copo de leite morno, prometendo energia para o vestibular. Mas o brilho em seus olhos denunciava algo mais: ganância. Eu já havia vivido essa cena. Lembrei-me de beber o leite, sentir um sono estranho e acordar presa no corpo de Bruna, a filha dela, enquanto a "minha" Bruna, em meu corpo, destruía meu futuro no vestibular. Fui desqualificada, humilhada publicamente, e meus pais, convencidos por elas, me abandonaram, acreditando na farsa da minha própria loucura. Voltei, desacreditada, sozinha, enlouquecendo dentro de um corpo que não era o meu, até não suportar mais e morrer. Mas, para minha surpresa, acordei de volta no meu quarto, no dia da tragédia, com Dona Clara, novamente, oferecendo o leite envenenado. Desta vez, a raiva fervia mais forte que o medo. Eu não seria a vítima. Eu sabia o que elas queriam, e usaria isso contra elas. Precisava entender por que tanto ódio. Com um sorriso doce e falso, peguei o copo. Desta vez, quem sorriria por último seria eu.