O telefone tocou no meio da noite, e a voz trêmula da avó de Pedro anunciou a tragédia: um acidente de carro, "não resistiu". Meu mundo desabou. Pedro, meu noivo, o homem com quem eu planejava a vida, estava morto. Os dias se arrastaram em um borrão de luto, o apartamento antes cheio de sonhos, agora um mausoléu de lembranças dolorosas. Cada canto gritava a ausência dele, e a dor me consumia, quase me levando à morte. Lucas, seu primo, foi meu porto seguro, a única rocha em meu oceano de desespero, cuidando de mim com uma devoção que eu não compreendia totalmente. Até que um dia, uma enxaqueca me levou a uma clínica chique, e ali, sorrindo e abraçado a outra mulher, estava Pedro. Meu coração congelou. Aquela risada, aquela postura, aquele jeito de inclinar a cabeça – não podia ser. Ele, o homem por quem eu havia chorado cada lágrima, estava vivo. E com outra! A recepcionista confirmou: "Sr. Alves, acompanhando a esposa, Sra. Clara Alves." Alves? Não era o sobrenome dele. A semente da dúvida havia sido plantada, virando minha dor em uma suspeita gélida. Vasculhei suas coisas, e em um diário escondido, encontrei a verdade nauseante: Clara, sua obsessão secreta, a quem ele amou à distância. A peça final se encaixou com um panfleto da "Clínica de Cirurgia Estética e Reconstrutiva Dr. Monteiro". Pedro não estava morto. Ele forjou a própria morte, mudou sua aparência, tudo para viver com outra mulher. Meu luto, minha quase morte, tudo tinha sido uma farsa cruel. A tristeza deu lugar a uma raiva fria e cortante. O amor virou desprezo. Ele não estava morto, mas para mim, morreria agora. E eu faria com que ele se arrependesse de ter me transformado em uma tola. A vingança seria um prato frio, e eu estava disposta a esperar.