Laura e João celebraram Bodas de Ouro. Cinquenta anos de um casamento que parecia perfeito, aos olhos de todos na cidade. Até que, no leito de morte, João revelou seu último desejo: "Quando eu morrer, enterrem-me ao lado da sua tia Clara." Aquelas palavras lançaram uma sombra gelada sobre Laura. Sua irmã, Clara? Todos a olharam com pena e constrangimento, mas ela manteve a postura. Serviu a família dele a vida inteira. Cuidou dos pais dele, criou os filhos deles, apoiou a carreira dele. Para no fim, descobrir que o coração dele sempre pertenceu à outra, sua própria irmã. As pessoas cochichavam, a chamavam de tola. "Cinquenta anos e ele nunca a amou de verdade." Sentia um cansaço avassalador, a humilhação não a atingia mais. A morte de João não foi uma perda, mas uma libertação. Se houvesse outra vida, ela jamais se casaria com ele novamente. No fundo de sua alma exausta, um desejo fraco surgiu: ter a chance de fazer tudo diferente. De repente, o cheiro de hospital deu lugar ao perfume de lírios. Abriu os olhos. Não estava em seu quarto escuro. Estava em um salão, vestindo um deslumbrante vestido de noiva branco. No espelho, uma Laura jovem, com a pele lisa e os olhos cheios de vitalidade. O calendário marcava o dia do seu casamento com João. O dia em que sua vida de sofrimento começou. Mas desta vez, seria diferente.