O meu telemóvel tocou. Era o meu marido, Pedro. Estava sentada no chão frio da cozinha, ao lado do corpo imóvel da minha mãe. Causa da morte: envenenamento por monóxido de carbono. Acidental. Mas eu sabia a verdade. A minha mãe não se matou. Ela foi assassinada pelo meu sogro, Afonso, o homem que todos viam como um pilar da comunidade. Pedro queria que eu fosse para a casa deles, a casa do assassino da minha mãe, arrastando o nome dela na lama, chamando a minha dor de "drama" e usando a nossa filha para me manipular. A sua voz, outrora familiar, soava distante, submissa ao pai, que se ria da minha face, ciente de uma verdade que só a mim parecia óbvia: ele era um criminoso. Não fazia sentido. Porquê? Como? Como é que um homem tão respeitado podia ser um assassino? Bloqueei o número dele. Depois o da minha sogra. E finalmente, o de Afonso. Eles pensavam que eu era fraca. Que ia chorar num canto e aceitar a "tragédia". Estavam enganados. A minha mãe deu-me esta casa. Deu-me a vida. E eu ia usar as duas coisas para a vingar. A justiça por Helena começava agora.