O carro fúnebre parou, a chuva fina a molhar o vidro. O funeral da minha mãe tinha acabado, mas mal. Minha mãe entrou no hospital para uma fratura simples. Saiu de lá num caixão. O meu marido, Pedro, ao volante, defendia o pai cirurgião, o Dr. Tiago, diretor do hospital. Dizia que o "melhor" do pai não foi suficiente. Ele, o grande cirurgião, não conseguiu salvar a minha mãe após a cirurgia que ele mesmo fez. Fui tratada com indiferença pela família deles, como se a dor da minha mãe fosse um mero inconveniente. Pedro e a minha cunhada, Sofia, consideravam-na apenas um "assunto menor". Como assim, um assunto menor? A minha mãe gritou de dor durante horas enquanto a ignoravam. Minha cabeça estava onde devia. Eu sabia que algo estava errado, que a morte dela não era um simples "acidente". A raiva e a dor borbulhavam, culminando num ultimato: "Vamos divorciar-nos." Pedro reagiu com fúria, os olhos arregalados, defendendo cegamente o pai. Ele me acusava de loucura, de egoísmo, de não ter compaixão. Mas a compaixão deles, onde estava quando minha mãe precisava? Não havia nada mais para conversar. "Eu quero o divórcio, Pedro. É a minha decisão final." Quando eu sentia que o mundo desabava e estava completamente sozinha, o meu telemóvel vibrou. Uma mensagem de um número desconhecido: "Eu sei o que aconteceu à sua mãe. Não foi um acidente. Encontre-me." O meu coração parou. A verdade estava lá fora, e eu ia buscá-la.