A chamada do meu marido, Léo, chegou no exato momento em que eu assinava os papéis do divórcio. O advogado esperou que eu terminasse, me alertando sobre a irreversibilidade do ato. Eu assenti, com a mão firme. Era o dia do aniversário de 5 anos do meu filho Tiago, um dia que também marcava o primeiro aniversário da morte da minha filha Eva. No entanto, o telefone não parava de tocar e vinha dele, desesperado, com uma mensagem furiosa: "Ana está tendo uma crise de pânico. Ela precisa de mim. Por que não atendes a porra do telefone?" Ana. A sua irmã mais nova. A mesma que ele priorizou há um ano, quando Eva, nossa filha de 3 anos, se afogou na praia, enquanto Léo 'salvava' Ana de um ataque de pânico. Naquele dia trágico, Eva chamou por ele, e ele disse para ela esperar porque a tia não estava bem. Eu o observei ignorar o desespero de nossa filha em favor de Ana. E agora, um ano depois, no aniversário do único filho que nos restou, ele fazia exatamente a mesma coisa. Ele não só esqueceu o presente de Tiago, mas abandonou o filho para correr para a irmã, mostrando uma lealdade doentia a ela, enquanto sua própria família se desfazia. Como a dor dela poderia ser mais importante que a morte real da nossa filha? Como a crise dela poderia ter precedência sobre o aniversário do nosso filho, que ainda a temia por causa daquele dia? Eu não estava zangada. Eu estava esgotada. O Léo e a família dele esperavam que eu, uma mãe de luto, enterrasse minha dor para preservar o ego frágil da irmã dele. Uma família onde a mãe chora até dormir todas as noites, enquanto o pai a deixa para cuidar da tia, não é uma família, Léo. É um funeral que já dura um ano. Então, sim, hoje eu fiz a coisa mais dolorosa e necessária: entreguei os papéis de divórcio. Chegou a hora de escrever um novo capítulo para mim e para o meu filho.