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O acordo

O acordo

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Sinopse

Índice

Laureen Vargas sempre teve tudo o que queria na palma da mão, mas aos vinte anos, seu destino muda de forma devastadora. Seu pai, um homem de negócios à beira da falência e com uma dívida imensa, oferece sua filha virgem em troca do perdão da mesma. Apenas no dia do casamento, Laureen finalmente conhece seu futuro marido, um CEO herdeiro de um grande império no mercado de ações. O que ela não sabia é que Gael busca nela a vingança da morte de sua mãe. Mocinho ou verdadeiro vilão? Uma paixão ardente, sensual e extremamente arriscada aguarda por Laureen neste romance hot de Beatrice Meirelles. Quando a boca não consegue dizer o que o coração sente, o melhor é deixar a boca sentir o que o coração diz. William Shakespeare A você, que de alguma maneira, chegou até aqui...

Capítulo 1 O acordo

O acordo

Casamentos arranjados eram muito comuns antigamente,

famílias ricas se uniam com outras e formavam uniões para seus filhos.

Alguns se casavam por livre e espontânea vontade, sendo felizes na união, já

outros, detestavam seus cônjuges e suportavam a situação apenas pelo bem

de suas famílias.

Pensar desta maneira só mostrava o quanto o ser humano poderia ser

egoísta, antigamente isto era bem comum, mas hoje em dia não.

Só de Jorge Vargas pensar nisso, seu coração gelava mais do que o

normal e suas mãos molhavam de suor, tanto que poderia ter um infarto ali

mesmo, cair debruçado sobre a mesa a sua frente e simplesmente morrer, ou,

é claro, aceitar a proposta que seu “amigo” havia oferecido.

Na verdade, Jorge Vargas e Eduardo Brown nunca foram

completamente amigos. Ainda jovens, tiveram um pequeno desentendimento

por conta de dinheiro, é claro, e por outras coisas que Jorge levaria ao

túmulo se pudesse. Ambos estudaram juntos na faculdade e abriram seus

negócios, o problema, pelo menos para Jorge, é que seu “amigo” se tornou

muito popular e virou uma competição entre eles. Com isto, os dois travaram

uma guerra e acabou que, à beira da falência, Jorge se viu obrigado a pedir

ajuda à Eduardo.

Foi assim que a proposta surgiu.

— Você está mesmo querendo que nossos filhos se casem? —

questiona Jorge parado em frente ao Eduardo.

— Sim, vai ser bom para as duas famílias. Vocês poderão ser alguém

novamente e perdoo a dívida.

— E o que você ganha com isso, afinal?

— O resto das suas ações — dispara Eduardo. — Isso será o

pagamento que irei receber.

— Por que tem tanto interesse em ações que estão fodidas?

— Porque quero mostrar a você como se salva um império de

verdade, mas não se preocupe, você e sua família serão recompensados.

Terão uma boa fortuna e o melhor de tudo, sua filha será minha nora e meu

filho, o seu genro.

— E desde quando isso é bom para nós? Estaremos decidindo o

destino dos nossos filhos, e sabemos que não somos tão amigos assim, pois

temos nossas diferenças em relação ao passado.

— Sim, você está certo, temos as nossas divergências, mas nada tão

grave, pelo menos agora... Se passaram muitos anos, Jorge... Gael, se

casando, ao menos irá tomar jeito e deixará de viver em puteiros fuleiros,

sujando meu nome, já sua filha terá dinheiro para sobreviver. Você não quer

que sua família passe fome, quer?

Eduardo se debruça sobre a mesa, encarando o homem à sua frente,

com a fisionomia aflita. É claro que Jorge não queria que sua família

passasse necessidades, tão pouco obrigar sua filha se casar com um

completo estranho.

Mas, afinal, que escolha ele tem?

Sabia que se explicasse a situação para sua filha, ela entenderia,

afinal, Laureen sempre foi uma boa entendedora.

Será mesmo que ela entenderia o destino que ele estava dando a ela?

— Você tem certeza de que quer essas ações só para me humilhar e

mostrar como se salva um império?

— Sim, é isso mesmo, para alguns pode ser ridículo, já para mim,

vitória é sinônimo de poder.

Jorge coça o alto da sua cabeça careca e se posta em pé, fechando os

botões do seu paletó.

— Quanto tempo tenho para dar uma resposta?

— Um dia, é o que irei esperar. Aceite, é o melhor a se fazer.

Era visível o suor na testa de Jorge e seu pomo de adão subindo e

descendo vigorosamente.

— Entrarei em contato para dar uma resposta.

Eduardo assente e um sorriso nada convincente se forma em seu

rosto.

— Ótimo, espero que seja uma decisão sensata.

Jorge também esperava por isso.

Salvar o Império

Acordo com uma leve batida na porta e me sento bocejando

enquanto encaro o tempo do lado de fora que parece estar bastante

agradável, o que me deixa animada.

Me levanto, sigo em direção a porta e a abro dando passagem a

minha empregada, Lucy.

— Bom dia, senhorita Vargas.

— Bom dia, Lucy — respondo sorrindo.

Lucy é uma das empregadas da nossa casa e a escolhi como minha

confidente por nos identificarmos, além de termos muitas coisas em comum,

principalmente o amor pelos livros.

Por ser uma garota simples, Lucy, não tem muito recurso para

comprar livros e pelo que fiquei sabendo, ela envia para a mãe doente, que

mora na Alemanha, seu salário. Ela veio morar conosco, quando tinha

apenas dez anos, trazida por meu pai para ajudá-la. Nessa época, eu tinha

apenas seis anos, descobri que ela se interessava por livros, por isso permiti

que ela usufruísse da minha biblioteca e foi aí que nossa amizade começou.

Papai aceitou nossa amizade logo de início enquanto mamãe se opôs,

porém, com o tempo ela acabou aceitando. Por conta de morarmos na mesma

casa criamos algumas regras básicas, como não nos tratarmos com tanta

formalidade, pelo menos não quando estivéssemos sozinhas.

— Por que não trouxe meu café?

— Seu pai pediu para que viesse acordá-la porque quer muito falar

com você — diz cruzando os braços.

Vejo que ela assopra a mecha castanha que cai no seu rosto e suspira.

— E você sabe o que ele quer?

— Não consegui descobrir, mas pediu para sua mãe se reunir com

vocês no café, então acredito que deve ser algo importante.

— Com certeza é alguma coisa relacionada a empresa dele, talvez

queira que eu o ajude em algum discurso bobo, você sabe como papai é.

Lucy concorda sorrindo e se aproxima de mim, desmanchando o nó

das costas da minha camisola.

Me dispo e pego o roupão que está pendurado na porta do guarda-

roupa, o vestindo.

Lucy me segue até o banheiro luxuoso, prepara meu banho, enche a

banheira e coloca a colônia de jasmim que tanto adoro.

— Acredito que se fosse um discurso, ele não precisaria de você,

Laureen. — diz enfaticamente.

— Então terei que descer o mais breve possível para descobrir —

digo dando de ombros.

Damos risadas do meu jeito.

Entro na banheira me despindo completamente e esfrego minha pele

suavemente enquanto Lucy arruma meu quarto. Lavo meu cabelo, tiro o

embaraçado e analiso a situação.

O que papai quer de tão importante comigo?

Com certeza será algo e tanto, afinal, se não fosse, não iria pedir

para Lucy me chamar.

Para falar a verdade, vejo meus pais poucas vezes. Papai sempre

está na empresa, enquanto mamãe segue sua vida gastando com joias caras e

almoçando com suas amigas da alta sociedade.

Sempre achei isso tudo supérfluo, não que eu não gostasse de usufruir

dos bens que temos, mas preferia mil vezes pegar e dar a quem realmente

necessita, do que gastar com coisas fúteis.

Minha mãe, a senhora Elizabeth Vargas, não gostava muito disso,

dizendo que eu deveria me envolver com mulheres do meu nível para que um

dia eu pudesse encontrar um homem à minha altura para me casar.

Bem, se ela acha que em pleno século XXI eu irei me casar por

contrato, está enganada.

Nunca fui de me apaixonar, na verdade, a única vez que gostei de

alguém foi na época da escola, onde conheci um rapaz bastante gentil.

Chegamos a ficar algumas vezes, mas não passou disso, já que ele queria

algo que, naquele momento, não poderia dar.

E para ser sincera, ainda não havia dado para ninguém e nem

pretendia.

***

Saio do banho e me troco às pressas, coloco uma calça jeans que

marca meu corpo, uma blusa escura de gola alta, deixo meu cabelo solto,

apenas o penteando e finalizo com uma maquiagem leve. Olho para o relógio

e percebo que já passou uma hora desde que Lucy anunciou que meu pai

gostaria de falar comigo, com certeza ele estará bravo devido minha demora.

Calço meus tênis, apanho meu aparelho celular e noto que não tem uma

mensagem sequer. Para falar a verdade, nunca fui de ter muitas amizades, as

pessoas na escola me encaravam torto por ser filha de Jorge Vargas, como se

ter dinheiro fosse um crime. Por conta disso, preferia me manter focada nos

estudos e nos romances de época que lia junto com minha amiga, Lucy.

Muitas vezes propus a ela para que deixasse o emprego de

empregada na nossa casa e que continuasse a morar conosco sendo apenas

minha amiga. Ofereci uma parte da minha mesada para que ela ajudasse sua

mãe, mas Lucy se negou, dizendo que preferia estar perto de mim

trabalhando do que ser um peso nas minhas costas. Claro que ela nunca seria

um peso, mas entendi a sua posição e concordei, pois não queria deixá-la

desconfortável.

Saio dos meus pensamentos e me encaro no espelho, o reflexo de

uma mulher magra, cabelo loiro, pele clara, lábios grossos e nariz arrebitado

me encara e um enorme sorriso se forma em meu rosto, o que me faz analisar

meus dentes brancos e limpos.

Sigo em direção à porta e a abro, saindo de frente para um corredor

comprido. Ando por ele em silêncio, ansiosa para saber o que meu pai quer

conversar. Desço a escada, passo pelo hall, seguindo em direção a sala de

jantar, onde vejo papai sentado na cabeceira da mesa, com mamãe ao seu

lado, segurando sua mão.

Percebo que o olhar de ambos é sério, como se algo de ruim tivesse

acontecido. De repente, sinto um aperto no meu coração e uma sensação

estranha cobre cada célula do meu corpo.

O que está acontecendo, afinal?

— Laureen, você demorou — diz papai suspirando.

— Estava no banho, me desculpe — digo de maneira ardilosa para

que o pedido fosse aceito.

— Tudo bem, querida, sente-se, precisamos conversar.

Concordo e me sento ao seu lado enquanto uma das empregadas se

aproxima e serve uma xícara de café para mim. Vejo sobre a mesa diversas

frutas, pães, queijos e outras coisas. Me sirvo e enquanto como, encaro

mamãe que continua séria, sem proferir nenhuma palavra.

— Aconteceu alguma coisa, mamãe? — questiono erguendo a

sobrancelha.

— Você já vai saber, minha filha — diz suspirando.

Concordo voltando a comer, logo em seguida encaro meu pai que

continua sério.

— Como os estudos estão, Laureen? — meu pai questiona.

— Estão indo bem, eu acho, ainda não decidi que curso na faculdade

irei fazer, por enquanto, estou estudando um pouco de cada área que me

chama a atenção.

Ele concorda e repousa sua mão sobre a minha, a segurando.

Aperto a sua mão de volta, como um sinal de acolhimento e vejo seus

olhos demonstrarem uma tristeza enorme.

— Precisamos conversar sobre um assunto bastante delicado —

começa a dizer acariciando meus dedos.

— Estou ouvindo.

— Filha, você se lembra do Eduardo Brown?

— Bem pouco, ele não é um dos sócios do senhor ou algo parecido?

— Na verdade, não... Fomos amigos por alguns anos, ele se destacou

bastante no mercado de ações e acabou construindo um império e tanto.

— Assim como o senhor — digo sorrindo.

Vejo seu sorriso vacilar e fico sem entender.

— Não basta criarmos um império, precisamos saber mantê-lo — diz

enfaticamente.

— Entendo, e o que o Eduardo tem a ver com isso, por acaso ele está

quebrado e procurou o senhor para pedir dinheiro?

A hipótese disso ser verdade me deixa confusa.

Por que papai me chamaria para falar sobre um antigo amigo seu?

Vi pouquíssimas vezes Eduardo Brown, na verdade, o seu destaque

maior é nos telejornais, sempre falando do seu amplo conhecimento e da sua

riqueza.

— Na verdade, sou eu que devo... Precisei pedir dinheiro a ele

emprestado alguns anos atrás.

— Entendo — respondo realmente sem entender. — Aonde o senhor

quer chegar, papai?

— Você se lembra que o Eduardo tem um filho?

— Bem, na verdade, não. Nunca o vi e seria difícil me lembrar de

alguém que eu sequer conheço. — Dou risada.

O silêncio se instala no local e ao perceber isso fico sem graça.

— Não queria envolvê-la nisso, querida, mas temos um grande

problema. Nossas empresas estão indo de mal a pior.

Reflito ao ouvir isso...

Papai se destacou no mercado de ações ao fazer algumas empresas

quebradas retornarem ao mercado.

Como pode um especialista neste assunto, conseguir deixar sua

empresa ir de mal a pior?

— Teremos que economizar, é isso? Não vejo problema algum,

posso cancelar alguns eventos que mamãe insistiu em marcar para mim e

Lucy me ajuda a fazer as unhas e o cabelo, já que é muito talentosa.

— Não é sobre isso que seu pai quer falar, Laureen — responde

mamãe me encarando.

— E o que é?

— Você terá que cancelar sim todos os eventos e evitar qualquer tipo

de gastos à toa, mas vai além disso — responde papai suspirando. — Devo

muito dinheiro à Eduardo e o que temos na conta não pagaria, tivemos um

corte enorme de funcionários na empresa e duvido que consigamos mantê-la

por muito tempo.

— E como isso aconteceu, papai, se os negócios do senhor estavam

indo tão bem? — pergunto me sentindo nervosa.

— Você precisa entender, minha filha, que às vezes necessitamos

fazer coisas que não nos agradam tanto, para conseguirmos outras.

— O que quer dizer com isso?

— Para chegar aonde cheguei, precisei derrubar muitos obstáculos,

entende? Pessoas são esses obstáculos.

— O senhor está me dizendo que chegou neste patamar porque

roubou de outras pessoas? — sussurro sem acreditar que possa ser verdade.

Papai não faria isso, não é?

— Isso não é da sua conta — diz de maneira brusca. — Me perdoe,

minha filha, mas realmente não está sendo fácil.

— Certo, e o que o senhor quer que eu faça? No que posso ajudar?

— O encaro, depois encaro mamãe e vejo o olhar dela triste.

— Eduardo me propôs um negócio para liquidarmos a dívida, ele

ficará com as ações da empresa, irá assumi-la, mas continuarei tendo uma

boa porcentagem nos negócios. Isso com certeza nos salvaria.

— E o senhor aceitou, não é?

— Bem, em partes, porque... — Ele faz uma pausa dramática, fecha

os olhos por um segundo depois volta a me observar. — Lembra que eu citei

o filho dele?

— Sim, o que tem?

— Ele propôs um casamento... Disse que a união das nossas famílias

iria nos ajudar muito, sem contar que salvaria nosso império.

— Casamento, com quem? — pergunto aflita.

— Com você, Laureen... Eduardo quer casar você com o filho dele...

É a única maneira de salvarmos os negócios e nos salvarmos.

Uma decisão nada atraente

Casamento...

A palavra ecoa na minha mente me deixando um tanto quanto

atordoada.

Como uma pessoa poderia se casar com outra sem amor?

Só de pensar nisso, vejo o quanto a situação é um tanto ridícula.

É sério mesmo que papai cogitou esta hipótese?

— O senhor por acaso aceitou?

— Não, quero dizer, ainda não — diz suspirando.

Vejo papai se levantar e andar de um lado para o outro.

— Eduardo me deu um prazo de vinte quatro horas para responder se

aceitamos ou não, caso não o fizermos, ele fará de tudo para nos destruir.

— E por que para ele seria bom que seu filho se casasse com a filha

do devedor? Não faz sentido algum — digo também me levantando.

— Não seríamos mais rivais de mercado e ele conseguiria minhas

ações, teríamos um bom dinheiro, mas eu não seria mais dono da Company

Vargas.

— E eu estaria fadada a um casamento infeliz — respondo colocando

a mão sobre o peito.

— Não pense deste jeito, sei que é ridículo cogitar isso em pleno

século XXI, mas não temos escolhas. Se perdermos tudo, estaremos

condenados a uma vida de miséria. Ninguém nesta altura me daria um

emprego, jogariam na cara que eu quebrei minha empresa e as falcatruas

poderiam vir à tona.

— O senhor ao menos percebe a loucura que isso é? Não vivemos

mais em uma época em que os pais planejavam casamentos... Isso é ridículo!

— Laureen Vargas, olha como fala com seu pai! — mamãe me

recrimina se posicionando pela primeira vez no assunto. — Sabemos que

não é fácil e não queríamos chegar a este patamar, mas não temos escolha.

Se você não se casar com o filho do Eduardo, tenha em mente que tudo isso

que está à sua volta, não existirá mais. Nem mesmo Lucy poderá continuar

trabalhando conosco, você não quer prejudicar sua amiga ou a mãe dela, não

é mesmo?

— Isso que você está fazendo é chantagem emocional, mamãe, você

sabe que eu nunca iria querer prejudicar Lucy ou qualquer outro empregado

nosso. Mas vocês quererem me prejudicar, para o bel-prazer de vocês... Isso

é egoísta e nojento.

— Você não irá se casar com um homem qualquer, Laureen — diz

papai. — O filho de Eduardo é o CEO das empresas do pai, além de ser

muito respeitado na sociedade. Quase não o verá e nem vai parecer que é

casada.

— Claro, tirando o fato que terei que ter relações com ele, ou o

senhor acha mesmo que este homem aceitará se casar comigo apenas para

nos salvar?

O silêncio se instala no ambiente e suspiro sentindo vontade de

chorar.

— Você tem até às 6 da tarde para me dar uma resposta e se não

disser nada, entenderei como um sim.

— E mudará alguma coisa se eu disser não?

— Não, mas será muito mais fácil se você aceitar.

Fico em silêncio e balanço a cabeça em concordância, engolindo em

seco, como se algo estivesse dilacerando minha garganta.

— Então saiba que não irei aceitar e você está me condenando para

sempre... Eu nunca irei perdoá-los por isso. — Dou as costas para os dois e

saio ouvindo papai me chamar aos gritos enquanto mamãe o acalma.

Sigo em direção ao meu quarto em passos largos, entro batendo a

porta e passando a tranca, então me jogo sobre a cama e choro

descontroladamente, sem saber o que fazer para fugir deste destino que me

foi forçado.

***

Não desço para almoçar e tão pouco aceito comer no quarto. Fico tão

chateada com o que papai havia me dito que nem mesmo Lucy é capaz de me

animar.

Como ficar feliz em saber que você vai se casar com um homem

completamente desconhecido?

Pensar nisso me causa uma sensação estranha, como se algo

invadisse meu peito e arrancasse meu coração de dentro. É isso que está

acontecendo; papai usurpou meu coração e o entregou a uma pessoa que nem

mesmo sei como é.

Penso sobre o filho do tal Eduardo, tentando imaginá-lo, pego meu

celular, pronta para procurar no Google, no entanto, desisto no meio do

caminho, pois não quero ver o rosto do homem que supostamente vai ser meu

marido.

A ideia de fugir se instala na minha cabeça e crio um plano maluco;

eu poderia muito bem arrumar uma mala pequena, pegar algumas joias,

dinheiro no cofre, e sair por aí, sem rumo. Mas e se eu fizer isso, até quando

teria que me manter fugindo?

Com certeza meus pais iriam atrás de mim e não descansariam até me

encontrar.

“Não tem jeito, Laureen, a única opção é aceitar o que o destino

reservou a você...”

Destino, pensar a respeito disso me causa uma raiva enorme.

Como o destino pode ser tão traiçoeiro desse jeito?!

— Não adianta choramingar, Laureen — digo para mim mesma. —

Pelo jeito, papai estava decidido sobre o que fazer antes mesmo de me

contar. Ele apenas quis comunicar que minha vida acabou para sempre. —

Suspiro tristonha.

Se eu me casasse com este homem e depois de um tempo me

separasse dele?

Com certeza o tal acordo com meu pai seria anulado e estaríamos na

merda, ou até mesmo pior do que já estamos.

Reflito sobre o que papai havia me dito; para chegar até aqui, ele

havia derrubado muitas pessoas. Agora para ele, me casar com um

desconhecido é o de menos.

Ouço uma batida na porta e saio dos meus devaneios, ficando o

máximo possível em silêncio.

— Laureen, eu sei que você está aí, fui à biblioteca antes para me

certificar de que estava aqui — sussurra Lucy, mexendo na maçaneta. — Por

favor, abra a porta, vamos conversar um pouco, sei que precisa disso. Eu

trouxe sorvete e brigadeiro, seus doces preferidos.

Uma animação percorre meu corpo ao ouvir isso e sigo a passos

largos até a porta. A abro dando de cara com Lucy e um carrinho, onde

contém sorvete de diversos sabores, brigadeiro e calda de chocolate.

— Dessa vez você venceu — digo dando passagem.

Ela entra e rapidamente fecho a porta, voltando a trancar.

— Eu te conheço bem demais para saber que um pouco de doce a

faria abrir a porta e me permitir entrar — responde divertida.

— Você é boa mesmo — digo forçando um sorriso.

Ela faz o mesmo e começa a nos servir, me entregando uma taça com

sorvete de chocolate e bastante calda.

Levo o doce gelado até a boca e solto um gemido ao sentir o

delicioso sabor.

— Isso está deslumbrante!

— Eu sei, fui eu que fiz na noite passada — diz sorrindo de maneira

convencida.

Dou um cutucão nela e nos ajeitamos na minha cama.

— Fiquei sabendo da conversa com seus pais, sinto muito que tenha

que passar por isso.

— As notícias por aqui correm rapidamente — respondo suspirando.

— O que você acha disso tudo, eu devo aceitar este destino?

— E você tem escolha?

— Pensei em fugir, você poderia vir comigo, o que acha?

— Claro, assim quando formos pegas, eu seria demitida e você iria

se casar do mesmo jeito. Que plano sensacional!

— Debochada — digo rindo.

— Sei que não é fácil o que está passando e com certeza será

bastante difícil, mas você precisará ser forte.

— Forte, é claro. — Reviro os olhos e continuo comendo o sorvete,

me servindo de um pouco de brigadeiro. — Meu pai é tão egoísta que

sentenciou o meu destino sem ao menos pensar no que isso me causaria, ele

apenas quis me comunicar.

— Eu sei disso, e como disse, agora precisará ser forte, com certeza

ele vai dizer ao babaca do Eduardo que haverá casamento e os preparativos

serão feitos em um piscar de olhos. Sabe como são esses contratos.

— Nunca pensei que viveria uma coisa dessas — respondo me

lembrando dos diversos livros que eu já havia lido com o mesmo tema, a

diferença é que isso que estou vivendo é real e muito angustiante.

— Pense pelo lado bom, se esse futuro marido realmente é um

homem importante, como seu pai disse, ele quase não ficará em casa. Com

sorte, pouco se verão.

— O meu problema não é vê-lo e sim satisfazê-lo — respondo

envergonhada.

— Só por que você é virgem? Deixe de besteira, ele vai adorar isso.

— Aí que está, ele vai, mas e eu?

— Bem, não sei, se ele souber fazer, com certeza irá gostar —

afirma. — É muito gostoso, não se preocupe com isso.

— Você é uma safada, Lucy Connor.

— Talvez eu seja um pouco, mas agora falando sério, você precisa

usar isto ao seu favor.

— Como assim? — pergunto sem entender.

— Não dê o gosto ao seu pai de dizer que você aceitou, sendo que

você não disse nada, vá até ele, diga que aceita e pronto.

— Mas eu não quero aceitar.

— Eu sei, mas você dirá a ele que aceitará, porém, com algumas

condições.

— Condições... — Reflito sobre a palavra e a encaro. — Você é um

gênio!

Lucy sorri e concorda.

— Eu sei disso.

***

Olho no relógio e vejo que falta quinze minutos para as malditas seis

horas, então sigo em direção a saída do quarto e ando devagar pelo corredor,

olhando cada parte da nossa casa. Analisando o local grande, luxuoso e

ostensivo, percebo que realmente precisa de muito dinheiro para manter

tanto esta como as outras residências que papai tem em seu nome.

Desço a escada em espiral parando diante do hall e me lembro que

mais cedo estive aqui parecendo estar muito feliz. Agora, indo assinar minha

sentença final, é como se toda a alegria estivesse se esvaído do meu corpo

para sempre.

Dou um passo em direção ao som da voz do papai e noto que ele está

no escritório, então, sigo por um corredor claro, com algumas portas e

retratos nas paredes. Há diversas fotos de quando eu era criança, dos meus

pais se casando, entre outras e uma delas se destaca, mamãe vestida de

noiva. Seu cabelo loiro, igual ao meu, está solto, com um véu transparente

cobrindo seu rosto. O vestido cobre todo seu corpo, não deixando parte

sequer de fora e nas mãos há um buquê com rosas brancas.

Sempre achei este retrato lindo e quando mais nova, dizia que meu

sonho seria me casar deste jeito, mas ao analisar a situação que me encontro,

percebo que nunca terei a expressão de felicidade que meus pais têm nas

fotografias de casamento. Nunca irei colocar um vestido de noiva com

entusiasmo ou irei jogar o buquê com vontade para as outras convidadas. Eu

jamais iria amar o homem pelo qual estou sendo prometida e espero que ele

também nunca me ame, creio que assim será bem mais fácil.

— Filha?

Me viro e vejo mamãe me encarar.

Ela está vestindo uma calça social preta e um blazer simples, a

maquiagem é bem-feita e suas curvas se destacam em suas vestes.

— Oi, mãe — digo completamente desanimada.

— Aconteceu alguma coisa, meu bem?

— Papai, quero falar com ele — respondo cruzando os braços.

Ela concorda e entra no escritório, comigo a seguindo.

— Eu já disse, a situação vai ser resolvida, não se preocupe com

isso.

Ouço meu pai dizer assim que me vê.

Ele aponta o dedo me pedindo um momento.

— Te ligo mais tarde, tenho que resolver uma situação agora. — Ele

desliga o telefone e se vira para mim me encarando.

— Quero conversar com vocês dois — digo nervosa.

— Diga, querida — pede minha mãe.

— Eu vou aceitar o acordo de casamento — digo vendo a alegria e

alívio nos rostos dos dois. — Porém, tenho algumas condições que o senhor,

papai, vai acertar com Eduardo.

— Quais condições?

— Primeiro, eu quero que Lucy vá morar comigo e meu futuro

marido quando nos casarmos, pois somente ela sabe de tudo que gosto e que

preciso no meu dia a dia. Segundo, o salário dela deve aumentar, é claro, e

que ela possa visitar a mãe, já que em todos esses anos que trabalha aqui,

nunca conseguiu...

— Mais alguma coisa? — pergunta meu pai me cortando.

— Ainda não terminei... Quero que além disso, eu possa ter minha

liberdade, para ir aonde eu quiser, sem ser mandada por um homem que nem

o nome eu sei direito. Vou honrá-lo, como será prometido no altar, mas não

serei encarcerada por ninguém. Quero uma cerimônia simples, com poucos

fotógrafos, para expor sua conquista para o mundo. Também quero que ele só

me toque, com a minha permissão. Eu não estou preparada para este tipo de

coisa.

— Sim, minha filha, tenho certeza de que ele se casará com você e

irá respeitá-la.

— A propósito, este homem sabe que vai se casar, ou está

descobrindo assim como eu?

— Eu não sei, isso é com o pai dele — diz meu pai.

— Certo, o meu último pedido é bem simplório... Nada de filhos, não

quero herdeiros, já basta eu ter que me casar sem amor, agora ter filhos com

um homem que não amo, seria o ápice da loucura.

— Mas filhos fazem parte da construção de uma família — diz papai

espantado.

— Sim, e a construção de uma família se começa com amor, amizade

e relacionamento, coisa que não temos aqui, não é mesmo? — Encaro os

dois e suspiro. — É só isso mesmo, você vai ter o casamento que deseja e

sua riqueza, está feito.

Vejo o sorriso de alívio dos meus pais, mas não consigo disfarçar a

tristeza que assola meu coração.

Eu irei me casar com um completo estranho.

Você conhecerá seu noivo no altar

Percebo que meus pais estão aliviados com minha decisão,

mesmo notando meu olhar de tristeza e desprezo, porém, decido que o

melhor a se fazer, neste momento, é aceitar de uma vez por todas o destino

que me foi traçado.

Me pego outra vez pensando no destino...

Como que, tão de repente, nossas vidas poderiam mudar tanto?

Hoje você está andando e amanhã, com sorte, está morto. É isso que

eu quero neste exato momento...

Morrer.

Suspiro melancólica me revirando na cama, olho para o relógio e

vejo que já passa das 10 da noite.

Me levanto, saio do quarto, sigo pelo corredor e paro no andar

debaixo, onde fica nossa biblioteca.

Meus pais e eu sempre fomos amantes da leitura, mas com o passar

dos anos e a vida dos dois ficando agitada por conta dos negócios, fui a

única que ainda continuo a vir aqui.

Entro no cômodo com as prateleiras cheias de livros de diversos

tipos e sorrio ao passar a mão em suas lombadas. Pego um qualquer,

pensando em como seria viver uma vida daquelas de romances, onde o casal

se apaixona fervorosamente e constroem uma linda família.

Eu seria assim?

No final de tudo, eu seria feliz ao lado desse homem até então,

desconhecido?

— Você deveria procurar uma foto dele na internet, Laureen, assim se

ele for feio, irá conhecê-lo preparada. — Dou risada das minhas próprias

palavras.

Coloco o livro no lugar de antes, apanho outro e me aconchego na

poltrona. Encolho meu corpo e começo a virar as primeiras páginas,

tentando ao máximo absorver o conteúdo do livro e esquecer o inferno que

está prestes a acontecer na minha vida.

***

Acordo com o barulho do livro caindo no chão e me assusto, não me

recordando o momento em que cochilei na biblioteca. Bocejo me

espreguiçando, levanto e pego o livro do chão.

Volto o livro para a prateleira e saio do local andando tranquilamente

até que próximo ao escritório do papai vejo uma sombra. Ando devagar a

fim de saber quem é, não entendo o motivo de fazer isso, mas sigo meus

extintos e faço o mínimo possível de barulho.

— Você acha que isso é uma boa ideia, Jorge? — pergunta minha

mãe. — Acha mesmo que este casamento vai ser bom para a nossa filha?

— Eu não sei, meu amor, mas não temos outra escolha a não ser essa,

se não fizermos isso, estaremos arruinados para sempre. Não posso permitir

que nossa família se afunde deste jeito.

Fico parada, ouvindo a conversa dos dois, com o coração acelerado

e o suor brotando na minha testa.

— E se Eduardo planejar alguma coisa contra nossa filha?

— Ele não faria isso. Eduardo pode ser tudo, menos um covarde —

responde papai suspirando. — Vamos ter que arriscar e mesmo não sabendo

a real intenção dele em querer que nossos filhos se casem, teremos que

permitir. Não gosto da ideia de ver minha filha casada com um homem que

não ama, mas infelizmente serei obrigado a tirar isso dela se quisermos nos

manter vivos.

— Você fala como se Eduardo fosse nos matar se essa dívida não for

paga — responde mamãe aflita.

— E você dúvida disso? Eduardo é capaz de matar, tenho certeza

disso.

— Assim como você — responde mamãe. — Jorge, o que foi feito

no passado... Aquele acidente... Eu sei que você tem a ver com ele, só não

assume.

— Fique quieta, Elizabeth! — profere papai. — Esqueça o passado,

lembrar dele não resolverá nada... Tudo não passou de um acidente, você

sabe disso...

— Se você não se deitasse com qualquer mulher por aí — responde

mamãe de maneira amarga. — Isso foi tudo culpa sua.

— Pensei que houvesse me perdoado por isto.

— Uma mulher perdoa uma traição sim, Jorge, mas esquecer, isso

nunca.

Fico surpresa ao saber que papai traiu mamãe e saio correndo

disfarçadamente para que eles não me vejam.

Entro no meu quarto e tranco a porta sentindo meu coração acelerado

com tamanha surpresa por descobrir que meus pais não são quem eu

imaginava.

Afinal, do que eles estavam falando?

Sobre qual acidente meus pais estavam se referindo?

Será que Eduardo realmente nos mataria se eu não me casasse com

seu filho?

E o principal, por que sinto que tudo isso está interligado?

***

No dia seguinte, fico pensando na conversa que meus pais haviam

tido e o que eu poderia fazer para descobrir sobre o que realmente

aconteceu.

De que acidente eles estavam falando?

Só de recordar as palavras de mamãe sobre meu pai ser capaz de

matar alguém, um calafrio sobe pela minha espinha.

— No que está pensando? — pergunta Lucy me ajudando a arrumar

minhas roupas.

No café da manhã, meu pai havia dito que era melhor começar a

arrumar minhas malas, pois conforme Eduardo havia dito, o casamento

acontecerá em pouco tempo.

— Nada demais, eu só não dormi muito bem.

— Você engana seus pais, Laureen, mas eu não — diz minha amiga.

— Ande, me diga, o que está acontecendo, além da loucura deste casamento?

— Ontem à noite eu saí para ir até a biblioteca e acabei ouvindo uma

conversa dos meus pais que me deixou bastante aflita.

Lucy me encara com os olhos arregalados.

— Que conversa?

Conto rapidamente para Lucy, que fica espantada com os segredos

cabulosos dos meus pais. Assim que termino, ela segura minha mão e a

aperta.

— Eu quero que você prometa que não vai tentar descobrir sobre o

que eles estavam falando.

— Por quê?

— Pode acabar sobrando para você — diz com a expressão

temerosa. — Há coisas que devemos deixar guardadas debaixo do tapete e

isso é uma delas. Você pode acabar se machucando ao tentar descobrir.

Reflito sobre isso e dou de ombros.

— Eu sei que é perigoso, mas realmente fiquei curiosa sobre a

conversa que eles tiveram.

— Eu sei que sim e confesso que também estou curiosa para saber

mais, contudo, vou pedir de novo, me prometa que não vai se meter em

encrenca para descobrir.

— Tudo bem, eu prometo, mas se por acaso chegar a ver alguma

coisa diferente, não irei ficar calada.

— Está certa, por enquanto apenas foque neste casamento que vai

acontecer.

Concordo e me assusto ao ouvir uma leve batida na porta.

— Filha, você tem visita — diz minha mãe do outro lado.

Me recomponho esquecendo a conversa que havia tido com Lucy, que

vai até a porta, a abre para mamãe, que entra e me encara.

— Que bom que está arrumada, seu futuro sogro está lá embaixo...

Ele quer conhecê-la.

— Me conhecer para quê?

— Para ver a futura nora, minha filha. Por favor, colabore.

Suspiro e concordo seguindo até a penteadeira onde encaro o

espelho. Passo um brilho labial, reforço o perfume e ajeito meu cabelo

colocando um sorriso no rosto.

— Satisfeita? — pergunto sarcasticamente.

— Vamos logo, vai ser rápido, eu prometo.

— Que eu leve um tiro no meio do caminho — sussurro.

— O que você disse?

— Que eu não vejo a hora de escolher meus padrinhos — respondo

segurando o riso.

Lucy disfarça uma risada e mamãe me encara.

— Bem, não havíamos pensado nisso, que tal Lucy ser sua madrinha,

hein?

— Me perdoe, senhora, mas sou uma empregada, não cairia bem —

Lucy diz.

— Não, mamãe está certa — respondo adorando a ideia. — Por

favor, Lucy, aceite, assim será mais fácil. — Encaro minha amiga e

empregada.

Ela concorda dando de ombros.

— Se isso não for prejudicá-los.

— Claro que não, você está conosco há anos e será bom ter um rosto

nesta loucura toda. Sem contar que quando Laureen se casar, você irá morar

com ela, deixando de ser empregada para ter um cargo mais importante.

— Cargo mais importante? — questionamos juntas.

— Sim, ontem quando você nos disse que só aceitaria o casamento se

Lucy fosse com você, eu fiquei pensando sobre isso... Vi que ela não

precisará ser uma empregada, já que com certeza na sua futura casa haverá

diversos.

— Mas, senhora, eu preciso do salário — diz Lucy com a voz

embargada.

— E continuará tendo, porém, pago pelo marido de Laureen. Você

será como uma governanta e ajudará minha filha em tudo que precisar,

entendeu?

Lucy e eu nos encaramos, sem entender aonde mamãe quer chegar.

— Sim, senhora.

— Obrigada. — Ela me encara e noto seus olhos marejados.

— Me perdoe por isso estar acontecendo, minha filha.

— Você não queria que eu me casasse, não é mesmo? — pergunto

próxima a mamãe.

— Não, é claro que não, mas como seu pai disse, é necessário e ter

Lucy ao seu lado será mais reconfortante para mim.

Concordo a abraçando.

— Obrigada, mãe, farei isso por você.

— Tudo bem, querida, agora vamos logo conhecer seu futuro sogro,

ele está esperando há bastante tempo.

Suspiro sem nenhuma opção.

Saio do quarto com mamãe, sigo silenciosamente o caminho até a

escada e desço em direção ao escritório. Assim que passo pelo batente da

porta, um homem um pouco mais velho que papai, de fisionomia dura, olhos

e pele clara me encara e fico sem graça. Sigo até ele devagar, como se

minhas pernas fossem gelatinas.

— Ela está enorme desde a última vez que a vi — diz Eduardo

formando um sorriso em seu rosto.

Forço um sorriso e estendo minha mão para ele.

— Muito prazer em conhecê-lo, me perdoe se não me recordo do

senhor.

— Não se preocupe com isso, minha jovem, na época em que a vi,

era muito pequena, com certeza não iria se lembrar.

Sorrio e ele dá uma risadinha seca, me causando repulsa.

— Me perdoe pela pergunta, mas onde se encontra seu filho, até

então, meu futuro marido?

Vejo meus pais me encararem e Eduardo sorri.

— Meu filho não pôde vir, muitos negócios para resolver, inclusive a

futura casa de vocês e as férias que irá tirar quando se casarem. Você

conhecerá seu noivo no altar, mas não se preocupe, garanto que é um homem

educado, gentil e muito bonito.

Fico perplexa ao ouvir isso.

Então eu só conheceria o homem que vou me casar, no dia da minha

sentença final?!

— Ah, compreendo — digo sem ter muito o que dizer.

— Eduardo está muito animado com a união de vocês, minha filha,

ofereceu até mesmo uma viagem especial para onde quiserem para passarem

a lua de mel.

— Muito generoso da parte do senhor — respondo fazendo o meu

melhor teatro. — Fico realmente encantada com isso.

— Você é um doce, minha jovem, assim como sua mãe, que é muito

educada — diz nos olhando. — Eu escolhi a noiva certa para meu filho.

Sinto uma fúria tomar conta de mim ao ouvir suas palavras, como se

eu estivesse sendo comprada para ser entregue de bandeja ao seu filho.

Analisando a situação, é isso que está acontecendo. Estou sendo comprada

para que meus pais possam ter dinheiro, poder, e não ter suas vidas ceifadas.

Saio dos meus pensamentos insanos, encaro Eduardo estendendo a

mão e com um enorme sorriso.

— Foi um prazer conhecer o senhor, tem alguma previsão de quando

ocorrerá o casamento?

— Em breve... Essa semana, tudo será preparado, os convites

enviados e a prova do vestido. Não poupe nenhum centavo, meu filho faz

questão de pagar tudo.

— Sendo assim, tomarei a liberdade de escolher um vestido

deslumbrante para o momento, afinal, será um marco em nossas vidas, não é

mesmo, papai? — Encaro meu progenitor e ele engole em seco,

concordando.

— Sim, minha filha, será um momento muito especial, agora se nos

der licença, Eduardo e eu temos alguns negócios para discutir.

— É claro, até mais, senhor, mais uma vez, foi um prazer conhecê-lo,

nos vemos em breve.

Me despeço do homem à minha frente e saio do escritório, sentindo

um nó se formar em minha garganta ao saber que esta loucura está cada vez

mais perto.

Preparativos

A semana passa em uma lentidão que chega a me dar náuseas.

Não saio do meu quarto para nada, chateada por conta de tudo que está

acontecendo. Evito meus pais o máximo possível, mesmo me conformando

com a sentença que me deram, não consigo aceitar e fingir que nada está

acontecendo.

Como antes, não consegui procurar no Google nada sobre o meu

futuro marido, a dúvida em saber como ele realmente é, me deixa mais

confortável com isso tudo.

Lucy faz de tudo para me animar, me enchendo de sorvete, doces e

meus pratos favoritos, sendo repreendida por mamãe, que alega que preciso

estar magra para entrar no vestido.

Fico ainda mais triste e desanimada quando os preparativos do

casamento começam, com degustação de bolos, doces e outras coisas. Papai

escolheu uma orquestra para a festa, mesmo eu insistindo que seria

completamente desnecessário.

A lista de convidados foi outra briga, já que metade era de sócios

dele e a outra parte, sócios de Eduardo, já que mamãe não tem família e nem

ele. Eduardo com certeza escolheu seus sócios para se enaltecer no

casamento.

A cerimônia seria realizada na igreja católica, outra coisa que

critiquei, afinal, acredito que devemos nos casar em altares divinos quando

há amor de verdade, coisa que não é o caso. Porém, me conformei e aceitei

isso.

A festa seria cheia de comida boa, diversos convidados e uma noite

regada a sorriso forçados, coisa que detestei. Tudo isso me incomoda ao

extremo, mas como não tenho escolha, acabo aceitando o que papai e mamãe

desejam, deixando-os bastante felizes.

O dinheiro de Eduardo é gasto com sucesso, meu pai faz questão de

comprar um carro novo para que eu vá até a igreja, já que a festa será na

nossa casa. Aliás, casa deles, porque em poucos dias, eu não pertencerei

mais aqui.

NA verdade, eu não pertencerei mais a lugar algum, somente a um

homem completamente desconhecido.

***

— Como se sente sabendo que agora não é mais uma empregada e

sim uma futura governanta? — pergunto para Lucy que está fazendo uma

trança embutida em mim.

— Bem, tirando as aulas chatas que sua mãe está me obrigando a ter

para entender como se governa uma casa, a sensação é boa. Não ter que

lavar privada é realmente bastante gratificante.

— Eu fico mais aliviada em ter você ao meu lado para enfrentar isso

tudo, assim poderei ter seu apoio nos momentos difíceis.

— Claro que terá, mas não se esqueça que muitas coisas vão mudar,

principalmente o fato de que não viveremos tão grudadas como agora. Você

terá um marido e precisará dar atenção a ele.

— Eu sei, mas só de saber que te terei por perto, é mais tranquilo

passar por isso tudo. — Sorrio e me encaro no espelho, analisando a trança

embutida. — Acha que ficaria legal este penteado para o casamento?

— Não, mas iremos cuidar disso no momento certo, anda, vá se

preparar, o jantar será colocado à mesa logo.

***

— Está animada, querida? — pergunta papai durante o jantar.

— Animada com o quê, papai? Seja mais específico, por favor.

Percebo que mamãe torce o nariz e continuo a comer enquanto os

ignoro como estou fazendo nos últimos dias.

— Pelo menos finja que está animada com este casamento — pede

me observando. — Por acaso vai se casar com essa cara de enterro?

— Se depender de mim, sim — respondo dando de ombros.

— Já chega, vá para o seu quarto agora!

Me levanto derrubando a cadeira para trás e o encaro.

— Sabe qual parte deste casamento vai ser boa, papai? É que não

irei mais conviver com senhor. — Saio antes mesmo de ouvir uma resposta

sua e apenas ouço os estilhaços dos pratos baterem na parede da sala de

jantar.

Me sinto completamente chateada com a situação e me tranco no meu

quarto, desejando que este casamento infeliz aconteça logo e que eu possa ir

embora de uma vez por todas desta casa.

***

Os preparativos continuam e sinto que está cada vez mais perto do

casamento acontecer.

Fico surpresa em saber que realmente meu noivo, que nem mesmo fiz

questão de saber o nome, não veio me conhecer e penso sobre a situação.

Será que ele também está infeliz com esta união?

Como foi para ele saber que se casaria com uma mulher

desconhecida?

Esqueço essas questões e finjo me concentrar no que a estilista fala

em relação ao vestido, dando dicas e mais dicas do que poderíamos fazer.

Disse a ela que poderia ser um vestido qualquer desde que fosse costurado

do zero.

Minhas medidas são tiradas e assim que tudo termina, me sento e

aceito a taça de champanhe que me é oferecida por um dos empregados. Vejo

a mulher negra gesticular, rir e conversar com minha mãe. Não presto

atenção em nada e nem faço questão disso tudo.

Como uma mente tão perturbada consegue desligar tudo que está à

sua volta?

Continuo degustando o champanhe e assim que termino, faço a prova

de um vestido simples para que a estilista tire o molde dele.

— Quero que tenha um decote frontal e que realce meus seios —

digo pela primeira vez em horas. — De preferência com pedras preciosas na

frente e que realce minhas curvas.

As duas me encaram e ficam espantadas, talvez por finalmente dar

palpite sobre algo.

— Certo, querida, você deseja mais alguma coisa nele? — pergunta

a mulher com um sorriso enorme nos lábios.

Analiso suas expressões e fico em silêncio.

Penso se ela sabe a verdade sobre eu não querer me casar de livre e

espontânea vontade.

— Acho que é só isso mesmo — respondo depois de um tempo. —

Tenho certeza de que você vai fazer o seu melhor, sem sequer pensar em

economizar.

— Bem, se a senhorita está me dando liberdade para isso, pode ficar

tranquila que farei o meu melhor — responde sorrindo.

Concordo e me troco encarando as duas.

— Se me derem licença e estiver liberada, irei para o meu quarto

descansar um pouco.

— Claro, fique à vontade, deve ser uma loucura preparar um

casamento assim às pressas — diz a mulher.

— Poderia ser pior, mas eu supero — digo forçando um sorriso.

Antes de dar as costas para sair, noto o olhar de desaprovação da

mamãe e me divirto com isso, indo o mais rápido possível para meu quarto e

me trancando lá dentro sem nenhuma perturbação.

***

Abro os olhos quando ouço a batida na porta e levanto, indo em sua

direção. A abro e vejo o olhar sério da mamãe me encarar.

— Posso? — pergunta apontando para o ambiente.

— A casa é sua — digo dando passagem.

Ela entra encarando detalhadamente meu quarto, vendo na

penteadeira as bonecas de porcelana que coleciono desde nova. Ela e vovó,

que já faleceu, me deram a minha primeira boneca quando tinha seis anos.

Desde então, todo aniversário, até os dezessete, eu ganhava uma boneca

dessas.

— Você cresceu tão rápido — diz pegando a primeira boneca. —

Lembro quando sua vó era viva e ela me ajudou a escolher este presente

para você.

— Sinto falta da vovó também — digo me aproximando e pegando a

boneca das suas mãos. — Ela faz muita falta.

— Sim, se estivesse viva, tenho certeza de que nos ajudaria a nos

livrar desta loucura de casamento.

— Eu te amo, mamãe, mas não finja que realmente se importa com

isso — digo observando suas expressões e o suor é visível em sua testa, que

está franzida. — Sei que está aliviada por eu ter aceitado este casamento,

mesmo que não seja minha vontade me casar com um desconhecido.

— Me perdoe, filha — diz cabisbaixa. — Não vejo outra opção a

não ser esta.

— Ouvi sua conversa com o papai — digo querendo ser sincera.

— Que conversa?

— Sobre ele ter te traído — respondo devolvendo a boneca para o

lugar. — Mamãe, papai tem a ver com a morte da mulher que falavam?

— Não fale besteira, Laureen — diz impaciente. — Seu pai me traiu

sim, mas isso faz muito tempo e você nem era nascida. Esqueça isso e finja

que nunca tivemos esta conversa.

— A senhora não parece ter esquecido, já que jogou na cara dele

isso.

— Não interessa, é algo entre seu pai e eu... Não se intrometa e faça

o que eu disse; esqueça de uma vez por todas, entendeu? Não quero que se

meta em mais problemas, já nos basta este casamento.

— E se eu fugisse, mamãe? Por que a senhora vai permitir que meu

destino seja com um homem que eu não conheço?

— Fugir? — Percebo que a palavra soa desesperada na sua boca. —

Deixe de ser ingrata, garota, seu pai e eu sempre fizemos de tudo por você,

tem os melhores estudos, teve os melhores cursos, agora é sua vez de

retribuir isso.

Fico chateada ao ouvir suas palavras duras, é como se tudo que eles

tivessem feito por mim, fosse apenas para que depois tivesse que retribuir de

alguma maneira. Agora está explicado o motivo deste casamento estar

prestes a acontecer sem meu consentimento.

— Sinto muito — digo.

— Eu também, minha filha... Me desculpe, não quis jogar na cara o

que fizemos por você, pois é nossa obrigação como pais. Só peço que ao

menos finja estar feliz com este casamento, no final, pode ser que você acabe

se apaixonando pelo seu noivo.

— Como se apaixonar por uma pessoa que sequer vi? — questiono

me sentando na cama.

Minha mãe senta ao meu lado e segura minha mão.

— As melhores histórias de amor acontecem quando menos

esperamos.

Dou de ombros, pensando que não adiantaria reclamar, choramingar

e esbravejar.

O meu destino é este, certo?

Agora é só esperar o momento para que aconteça.

A prova do vestido

Os dias passam rapidamente, parecendo que duram minutos, o

que me deixa chateada a cada segundo. A cada hora que passa, o destino

escolhido pelos meus pais, está cada vez mais perto de acontecer.

Tento de tudo para ficar animada, visito a biblioteca, faço as provas

dos doces da festa, assisto filmes clichês na Netflix, mas nada me anima. Até

mesmo Lucy, que é a pessoa mais alto astral que conheço, não consegue me

animar nesses momentos tempestuosos que estou passando.

Meu pai e eu não estamos conversando, ele até tenta puxar assunto

comigo nas refeições, que é quando o vejo, mas o ignoro e deixo a mesa

antes mesmo de terminar de comer.

Pelo que venho observando, Eduardo cumpriu sua palavra, pelo

menos em partes. Mesmo que o casamento ainda não tenha acontecido, papai

está radiante em saber que, em poucos dias, não irá mais dever nada a

Eduardo Brown e terá dinheiro.

Esqueço isso e suspiro nervosa.

Decido tomar um banho desejando que a água leve todos os

pensamentos negativos da minha mente.

***

— Querida — minha mãe me chama.

Me viro e a vejo entrar no meu quarto.

— Sim? — digo prendendo meu cabelo em um coque frouxo.

— O vestido chegou, estão te esperando lá embaixo para prová-lo.

Fico quieta diante das suas palavras e apenas assinto sabendo que

não vai adiantar esbravejar, já se passou quase um mês desde o dia que

papai havia me sentenciado à morte.

É isso que me parece este casamento, a própria morte.

— Pensei que demoraria mais — digo fitando o chão.

— Então foi por isso que você pediu um vestido do zero — diz

mamãe nada surpresa. — Você queria tempo.

— Sim, mas não adiantou muita coisa, acho que é melhor irmos logo

provar o vestido.

Ela apenas concorda com um movimento de cabeça e sai.

Eu a sigo andando com lentidão e assim que chegamos na sala, o

local que escolheram para fazer a prova do vestido, fico nervosa ao ver a

mulher parada, com o vestido embalado.

Me aproximo devagar com medo de tropeçar nos meus próprios pés

e respiro fundo quando o sorriso dela se alarga ao apontar para o plástico,

que cobre o tecido claro.

— Bom dia, senhorita Vargas.

— Bom dia, é....

— Cayenne — diz seu nome.

Concordo sem sequer me lembrar dela.

— Cayenne — repito. — Você foi rápida, pensei que demoraria

mais.

— Bem, sendo quem é, achei melhor dar prioridade — diz de

maneira polida.

— Claro — respondo dando um sorriso amarelo.

— Vamos lá?

Cayenne tira o plástico do vestido e quando o vejo fico boquiaberta.

Não posso negar que o vestido é espetacular, do jeito que imaginei a

minha vida inteira. Na frente há um decote com as pedras preciosas que

havia pedido, nas costas o vestido é aberto, com um tule simples para cobrir

e sua cauda é enorme, dando ainda mais charme a ele.

Fico admirada e sorrio ao pensar que este será o vestido que irei

usar no meu casamento. Casamento este que terei sem amor, afinidade ou

qualquer outra coisa com meu suposto noivo.

Irei me casar esplendidamente, no entanto, do que adianta tanto

glamour se serei infeliz pelo resto da minha vida?

Afasto o pensamento melancólico e minha mãe se aproxima,

colocando o braço no meu ombro.

— Vamos lá, está na hora de prová-lo.

Concordo já me despindo, ficando apenas de lingerie. Cayenne me

ajuda a vestir e fico admirada em como ele se emoldurou em meu corpo.

Fecho os olhos, me sentindo apavorada e assim que ouço o fecho nas costas,

os abro, me analisando no espelho a minha frente.

Estou linda, o vestido realça minhas curvas e deixa meus seios

avantajados, me causando uma sensação na boca do estômago.

Sorrio para mim mesma e dou uma volta, feliz com o resultado.

— O véu — Cayenne diz se aproximando e para na minha frente.

Me abaixo um pouco e ela prende o véu no meu cabelo com um

enorme sorriso no rosto.

Me observo no espelho sentindo vontade de chorar, tenho que admitir

que mesmo não me casando de livre e espontânea vontade, estou magnífica.

— É lindo — digo com a voz embargada. — É realmente muito

lindo.

Vejo mamãe emocionada e continuo me observando.

Mesmo sabendo que não quero fazer isso, não há como voltar no

tempo e meu casamento está ainda mais próximo.

***

Quando estou prestes a tirar o vestido, ouço passos vindo na direção

da sala, me viro conseguindo ver o exato momento que papai entra no

ambiente e me encara com um enorme sorriso no rosto. Noto que seus olhos

estão marejados e sinto sinceridade neles, sabendo que se ele tivesse outra

escolha, a faria.

— Papai — digo sentindo minha voz rouca.

— Nos deixem a sós por um momento, por favor — pede.

Cayenne rapidamente sai da sala, assim como mamãe, que me

observa uma última vez antes de deixar o local.

— Você está linda, minha filha, parabéns.

— Obrigada — balbucio sem muita emoção.

— Sei que esses últimos dias têm sido difíceis para você e vim aqui

justamente para me desculpar.

— Pelo o quê?

— Por permitir que isto esteja acontecendo — diz desviando o olhar

do meu. — Você sabe que se eu tivesse escolha, tomaria outra, mas

infelizmente não tenho.

— O senhor teve, papai, anos atrás... Poderia ter feito tantas coisas

diferentes, se estou aqui, neste vestido hoje, faltando pouco para me casar, é

porque o senhor tomou alguma decisão no passado que arruinou meu futuro.

— Eu sei, eu sei... Me arrependo disso, mas infelizmente não temos o

que fazer.

— E o que o senhor quer, afinal? Tenho quase certeza que não veio

me pedir perdão, sendo que está bastante decidido das suas decisões.

Ele anda de um lado para o outro, assente colocando as mãos nos

bolsos da calça social e volta a me encarar.

— O dia do casamento está cada vez mais próximo, com tudo

acertado, os convites serão encaminhados para as pessoas certas com uma

data próxima. — Ele fica em silêncio e suspira. — Quero te pedir que no dia

do seu casamento, ao menos finja que está feliz.

— Posso fazer isso, desde que aceite um acordo.

— Qualquer coisa.

— O senhor não me levará ao altar, eu irei sozinha. Já não basta toda

essa loucura de casamento arranjado, o senhor me levar até o altar seria a

coisa mais ridícula da minha vida. Então fique ciente que eu darei os passos

para o meu destino sozinha, sem ninguém ao meu lado.

— Mas isso é inadmissível, eu sou seu pai, estou vivo e quero ter a

honra de levá-la até o padre.

— Eu queria ter a honra de escolher meu marido, mas nada é

perfeito, não é mesmo? — Ele me encara e assente se dando por vencido.

— Tudo bem, pegarei um dos carros para ir com sua mãe e você vai

no novo sozinha, mas se pensar em fazer uma gracinha...

— Não se preocupe com isso. — O corto. — Sou jovem, mas uma

mulher de palavra, irei até o altar e o casamento que você tanto deseja se

realizará.

Papai concorda.

O vejo dar um passo em minha direção e dou um passo para trás. Sua

expressão muda, como se estivesse arrependido e ele assente, saindo da sala

e me deixando sozinha.

***

Estou em uma sala clara, com janelas grandes e o sol refletindo sobre

elas. Ando para o nada e vejo que uso o vestido de noiva que Cayenne havia

preparado. Em minhas mãos, seguro um buquê de rosas brancas e nos pés um

sapato de salto alto.

Respiro fundo e continuo andando, olho o clarão se transformar em

uma igreja e rapidamente surgir pessoas que não conheço. Respiro fundo,

tentando controlar minha ansiedade e encaro o altar a minha frente. Observo

um rosto distorcido e inexpressivo. Conto até três mentalmente, tentando

assimilar seus traços, mas não consigo, apenas vejo o vulto de um corpo

grande masculino e a sombra dos seus olhos que são escuros como o breu,

quentes como o calor do fogo e ardilosos como um leão em busca da sua

presa.

Continuo andando e percebo que estou cada vez mais próxima do

homem com o rosto distorcido.

Por que só consigo visualizar seus olhos?

Como este homem é?

Me vejo parada ao seu lado, ele coloca sua mão no meu pulso e o

aperta sorrindo. Agora consigo ver seu sorriso, mas ao invés de ser bonito e

elegante, é sádico, doentio, perturbador e me causa arrepios.

— Você será minha para sempre — diz uma voz grossa e rouca.

Seus lábios não se mexem, mantendo o sorriso que me causa medo.

Tento me esquivar, me soltar dele, mas é em vão. Vejo que sua mão

me segura ainda com mais força, me machucando. Grito, mas é inaudível,

como se eu apenas abrisse a boca sem dizer nada. Volto a gritar, mais uma

vez sem som e me vejo derrotada.

Estou presa a este homem para sempre e ele vai destruir a minha

vida.

— NÃO! — grito assustada.

Dou um pulo da cama e percebo que estou no meu quarto. O suor

escorre pelo meu rosto e pinica minha pele, me deixando completamente

estarrecida com o que acaba de acontecer.

Tive um pesadelo, foi apenas isso, um pesadelo para lá de estranho

com o meu futuro noivo.

Tento relembrar seus traços, mas me recordo que não consegui ver,

apenas vi seus olhos sombrios e o sorriso sádico.

Sinto o medo tomar conta de mim e me encolho na cama tentando

reformular o que acaba de acontecer.

Que sonho mais estranho foi esse?

“Isso é porque você está receosa com este casamento, Laureen.”

Respiro fundo, procurando por meu celular e assim que o acho, o

pego, decidida a pesquisar no Google sobre meu futuro marido, mas desisto

ao perceber que, se por acaso ver como ele é, ficarei ainda mais nervosa

com este casamento.

— O que me resta é esperar que a cerimônia aconteça logo para

acabar esse pesadelo.

Sei o quanto estou errada, mas me conforto com esse pensamento.

Quando eu me casar, o pesadelo deixará de ser sonho e passará a ser

real...

Algo muito pior.

Me levanto, pego sobre a mesinha que há no quarto um pouco de água

e bebo rapidamente, a fim de que isso ajude o susto passar.

Olho o relógio e vejo que passa das cinco da manhã, em breve o sol

surgirá para um novo dia...

Um dia a menos da minha liberdade.

Penso a respeito disso, analisando a situação mais uma vez.

Ultimamente tenho feito muito isso, analisar...

Como se isso fosse ajudar em alguma coisa.

Penso nas duras palavras que havia dito ao meu pai, sobre não querer

que ele me leve até o altar, pelo menos assim eu me sentirei mais confortável

em saber que me guiei sozinha para a sentença, mesmo que seja culpa dele.

Como tem sido constante, me pego pensando no meu futuro noivo.

O que será que ele estaria fazendo agora?

Será que está feliz com este casamento?

Com certeza ele está com alguma mulher mais bonita e sensual que

eu, desfrutando do desejo carnal que a vida nos dá.

Penso a respeito disso, eu nunca havia feito sexo com alguém e saber

que minha primeira vez será com uma pessoa desconhecida, me causa

sensações estranhas.

Eu teria mesmo que fazer isso?

Quem sabe eu posso tornar meu marido um aliado, dizendo a ele que

dormiremos em quartos separados e não teremos relações sexuais. Se ele

não estiver de acordo em se casar, com certeza apoiará esta minha decisão.

Sorrio com a ideia de que isso pode dar certo e volto para a cama,

adormecendo novamente.

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Mais Novo: Capítulo 10 O acordo   03-08 16:51
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1 Capítulo 1 O acordo
05/03/2022
2 Capítulo 2 O acordo
05/03/2022
3 Capítulo 3 O acordo
05/03/2022
4 Capítulo 4 O acordo
05/03/2022
5 Capítulo 5 O acordo
05/03/2022
6 Capítulo 6 O acordo
05/03/2022
7 Capítulo 7 O acordo
05/03/2022
8 Capítulo 8 O acordo
05/03/2022
9 Capítulo 9 O acordo
05/03/2022
10 Capítulo 10 O acordo
05/03/2022
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