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O Secretário

O Secretário

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Sinopse

Índice

CHRISTOPHER A TRATAVA COMO RAINHA, MAS LHE NEGAVA AMOR UMA MULHER SOLITÁRIA, PRESA FÁCIL DE UM SEDUTOR. Não havia sido um gesto feminista. A idéia na verdade, surgiu de uma brincadeira. Como uma importante executiva, Débora achou que deveria ter um secretário particular, alguém que cuidasse dela como as esposas cuidam de seus maridos. Mas, quando Christopher Traig candidatou-se ao cargo, Débora viu que o destino lhe pregava uma peça. Seu coração pulsou mais forte assim que trocaram o primeiro olhar. Débora não o queria como empregado, aquele era o homem de sua vida!

Capítulo 1 1

CHRISTOPHER A TRATAVA COMO RAINHA, MAS LHE NEGAVA AMOR

UMA MULHER SOLITÁRIA, PRESA FÁCIL DE UM SEDUTOR

Não havia sido um gesto feminista. A idéia na verdade, surgiu de uma brincadeira. Como uma importante executiva, Débora achou que deveria ter um secretário particular, alguém que cuidasse dela como as esposas cuidam de seus maridos.

Mas, quando Christopher Traig candidatou-se ao cargo, Débora viu que o destino lhe pregava uma peça. Seu coração pulsou mais forte assim que trocaram o primeiro olhar. Débora não o queria como empregado, aquele era o homem de sua vida!

CAPÍTULO I

Débora estacionou o carro conversível em frente ao impo¬nente prédio da Dominick Empreendimentos, uma poderosa em¬presa construtora de Sydney, e esperou que o porteiro viesse lhe abrir a porta.

— Bom dia, srta. Dominick. Parabéns. Acabei de ler as no¬vidades no jornal.

— Obrigado, Geoff.

Débora Dominick estava radiante. Desde que assumira a pre¬sidência da companhia, contrariando as expectativas da dire¬toria conservadora, era a primeira vez que via seus esforços re¬compensados. Na noite anterior, a Dominick Empreendimen¬tos recebera o prêmio Walter Burley Griffin, conhecido como WBG, o mais cobiçado na área da construção civil, com o pro¬jeto de um complexo industrial, o maior da Austrália. Agora, Débora teria muito trabalho pela frente, já que o contrato es¬tava assinado e as obras teriam que ser entregues rigorosamen¬te no prazo, se quisesse manter a boa imagem da empresa.

Quando as portas do elevador se abriram, ela contemplou feliz o centro do império que herdara do pai. No hall de entrada, havia um tapete claro com o monograma da família gravado num tom mais escuro. E as portas de vidro permitiam a visão de todos que entravam e saíam das salas. De trás de uma mesa grande de mogno, Maggie Symmonds, sua secretária e assis¬tente, sorriu ao vê-la entrar.

— Bom dia! Você deve estar se sentindo nas nuvens, não é?

— Nem tanto. Acho que trabalhamos um bocado para ga¬nhar este prêmio e merecemos. Exausta como estava, o duro mesmo foi enfrentar a recepção de ontem à noite...

— Bem, então, é melhor não ler o jornal de hoje. Eu o colo¬quei sobre sua mesa, mas...

— Nem precisa dizer. Inky Hedges ataca outra vez. Já espe¬rava por isso, ele não parou de escrever durante o jantar inteiro.

— Francamente, não entendo por que ele cisma de criticá-la. O que você fez a este sujeito?

— Que eu saiba, Maggie, nada.

Débora, no entanto, sabia porque Inky a odiava tanto. Cer¬ta vez, durante uma recepção de empresários, ele a convidara para jantar. Mas, pelo brilho malicioso dos olhos dele, perce¬bera que não se contentaria apenas com isso. Então, ela havia recusado o convite, ferindo-lhe o orgulho. A partir daí, ele não perdeu uma oportunidade de atacá-la em sua coluna social.

Mas ela não gostava de discutir seus problemas com ninguém e também não admitia que interferissem em sua vida.

Maggie, ao vê-la entrar na sala da presidência, notou que al¬guma coisa não ia bem. Conhecia-a desde pequena, pois fora a primeira e a única secretária de seu pai, e sabia interpretar qualquer reação dela. Olhou-a com ar de preocupação, pois se afeiçoara a esta moça fascinante e temperamental.

— Posso até ouvir o que está pensando, Maggie — comen¬tou Débora. — Não se preocupe, eu estou bem, apenas um pouco cansada.

— Desculpe-me mocinha, não está mais aqui quem pensou — brincou Maggie, voltando à máquina de escrever.

O escritório da presidência havia sido totalmente reforma¬do. A decoração simples e prática refletia bem a personalidade de quem a ocupava agora. As janelas iam até o chão, permitin¬do uma visão completa da cidade.

No centro da sala havia uma enorme mesa com o tampo de cristal italiano e cadeiras de espaldar alto, reservada para reuniões de diretoria. Sofás e poltronas pretas, contrastando com o chão de mármore branco, completavam o ambiente.

Já acomodada em sua cadeira, Débora ignorou o conselho de Maggie, e resolveu abrir o jornal para ler o que aquele ho¬mem havia escrito desta vez.

"D.D. ganha o prêmio WBG..."

— O que você está farejando agora, seu fofoqueiro? — disse ela, como se o jornalista estivesse ali, a seu lado.

De repente, ela levantou-se furiosa, amassando o jornal com as mãos.

— Droga! Isso não é justo...

Ao ouvir o barulho, Maggie entrou na sala.

— Pelo visto, você já leu as novidades...

— Novidades? Esse homem está querendo acabar comigo. — Débora deixou-se cair na cadeira, prostrada. — Aquele chauvinista, fofoqueiro...

— Acho que ele é muito mais do que isso.

— Este infeliz não escreveu nenhuma linha sobre o projeto fabuloso do Centro Empresarial. Os próprios juizes do prêmio julgaram-no inovador em todos os sentidos. Nenhuma palavra . sobre os meses de trabalho e nem a difícil concorrência que enfrentamos.

Maggie tomou o jornal das mãos trêmulas de Débora e releu o artigo em voz alta:

"...A srta. Dominick — se é que posso chamá-la de senhorita, pois os cabelos curtos dificultam distinguir-lhe o sexo — re¬cebeu o prêmio com a elegância de uma plebéia. Para tamanha honra, esperava-se que uma executiva tão famosa mandasse con-feccionar um vestido novo especialmente para a ocasião..."

— Um dia desses, encontro o ponto fraco desse sujeito e aí ele vai ter que se ver comigo.

— Você já deveria estar acostumada. Não é a primeira vez que ele faz isso.

— Mas ele não precisava ser tão maldoso. Sei que não esta¬va vestida como as dez mais...

— Não se deixe impressionar por uma simples fofoca, ain¬da mais quando parte de alguém como Inky Hedges. Você é uma mulher adorável e se veste muito bem. Lembre-se que se você quisesse e tivesse mais tempo, poderia arrasar com qual¬quer uma das musas de Inky. Mas garanto que nenhuma delas conseguiria presidir uma empresa como esta.

Débora levantou-se e abraçou Maggie.

— Obrigada, querida, não sei se tudo isso é verdade. De qual¬quer forma, foi ótimo para o meu ego ouvir o que disse.

— Ora, basta olhar-se no espelho para me dar razão.

Ela sabia que era uma mulher bonita. Os cabelos ruivos, cor¬tados bem curtos, e os olhos azuis escuros, contrastando com a pele clara, deixariam qualquer pintor louco para captar aquela fascinante combinação de cores. O brilho meigo no olhar, alia¬do com o rosto delicado e o nariz bem feito, acentuava com perfeição a personalidade marcante.

— Bem, pelo menos em uma coisa Inky tem razão. Todas as pessoas que estavam lá já haviam me visto com aquele vesti¬do preto.

— Sim, mas a culpa não foi sua. Millie poderia ter escolhi¬do outro dia para ir embora, não é?

— Ora, tenha dó, Maggie. Minha funcionária não tinha obri¬gação de mudar seus planos em função dos compromissos so¬ciais da patroa. Imagine, então, se ia se lembrar do vestido que eu deveria usar... Além do mais, ela já tinha me avisado que sairia de casa se meu cachorro continuasse lá. Enfim...

— Como é que alguém não consegue gostar de algo tão fofo e meigo como Bosun?

— Você está sempre me defendendo, não é? Mesmo se esti¬vesse totalmente errada, acho que iria procurar me dar razão.

— É o meu trabalho — Maggie brincou, piscando um olho. — De qualquer maneira, sempre achei que Millie não era mui¬to responsável.

— Também acho. Mas é muito difícil arrumar bons empregados hoje em dia. Você jamais me deixaria numa situação des¬sas, não é?

— Bem, agora chega de elogios e vamos ao trabalho — dis¬se Maggie, abrindo a agenda e anunciando os compromissos de Débora para aquela manhã: — Garth Dangerfield quer ser o primeiro a lhe falar hoje.

— Ele deve estar ansioso para começar logo o projeto, ago¬ra que assinamos o contrato. Diga-lhe para vir às dez.

Maggie ia saindo, quando virou-se para dizer:

— Sabe do que você precisa, Débora?

— O quê? Você também acha que eu preciso de um marido?

— Não, de um secretário particular. Alguém que resolva to¬dos os seus problemas sem que você sequer tome conhecimen¬to deles. Veja só a situação dos homens que ocupam cargos iguais ao seu. Se não é a mulher deles, é a secretária quem cuida dos problemas domésticos. No seu caso acho;que seria melhor um secretário. Os homens são mais práticos.

— Que idéia mais maluca!

— Pode ser, mas pense um pouco e verá que não estou tão desvairada assim.

Depois que Maggie saiu, Débora virou-se para a janela e co¬meçou a pensar iia idéia. Era excêntrica, mas não deixava de ter sua lógica.

Ela jamais se preocupara com suas roupas, comida ou casa, que estava sempre impecável para receber os convidados nos fins de semana. Millie sempre resolvera tudo. Mas desde que assumira também a responsabilidade dos negócios, os proble¬mas começaram.

Só de lembrar tudo o que acontecera no dia anterior, Débo¬ra sentiu um arrepio correr-lhe a espinha.

Logo pela manhã, ela soubera que o preço do aço estava os¬cilando demais no mercado. Com isso, meses de trabalho no projeto do Centro Empresarial corriam o risco de ir por água abaixo.

Garth passara horas ao telefone, conversando com os fornecedores, para convencê-los a manter o preço negociado, enquan¬to ela lutava com os empresários para assegurar o contrato, garantindo-lhes que os custos do projeto não seriam alterados.

No final da tarde, quando tudo fora finalmente acertado, Dé¬bora estava esgotada, sem a mínima disposição de ir à recep¬ção de entrega do prêmio. Garth, o jovem consultor, poderia substituí-la, já que fora ele que assegurara a vitória da empre¬sa. O único inconveniente era a Dominick Empreendimentos deixar-se representar numa ocasião dessas por um quase des¬conhecido no meio industrial.

Quando chegara em casa, enquanto Bosun, seu poodle branco, corria feliz ao seu encontro, deparara com Millie no hall de en¬trada, de chapéu, casaco e mala na mão. Assim que a viu, a governanta começou a relatar as "artes" de Bosun e terminou dizendo que não estava sendo paga para suportar tudo aquilo.

— Eu lhe avisei, srta. Dominick. Ou o cachorro ou eu.

— Mas Millie, você não pode ir embora assim de uma hora para outra.

— Sinto muito, senhorita, mas não há nada que possa fa¬zer. A não ser, é claro, que dê esse cachorro a alguém.

Débora podia avaliar o que significava perder os serviços de Millie. Ficou dividida, mas não tinha coragem de se desfazer de seu companheirinho das horas de solidão.

Ainda tentou persuadir a mulher a mudar de idéia, mas não conseguiu comovê-la com seus argumentos. Teimosa e resolu¬ta, Millie acabou indo embora, deixando para trás uma Débo¬ra cheia de problemas.

Quando o relógio da sala havia batido sete horas, ela lembrou-se da recepção. Céus, estava atrasada!

O vestido novo que escolhera para aquela noite ainda estava na caixa, em cima da cama, e precisaria ser passado. "Mas na certa isso não será uma tarefa muito difícil. Se Millie pode pas¬sar um vestido tão bem, então eu também posso", pensara otimista.

Nem se lembrara, porem, quando fora a última vez em que se vira às voltas com afazeres domésticos. E nunca imaginara que lidar com um simples ferro a vapor fosse tão complicado.

Quando finalmente conseguira montar todo o equipamento necessário e encontrar uma maneira de colocar o vestido na tá¬bua de passar, o telefone havia tocado, interrompendo toda sua concentração

Bosun começara a lhe fazer festa, como se achasse divertido vê-la tão atrapalhada.

— Tudo por sua culpa — ela talhara.

— Só estou ligando para lhe desejar boa sorte esta noite — dissera Garth do outro lado do aparelho.

— Você desistiu de ir à festa?

— Claro que não. Mas como não vou estar sentado à mesa da diretoria e do júri, achei que não teria chance de desejar-lhe sorte.

— Oh, Garth, está sendo muito gentil.

Ao desligar o telefone, Débora sentira um forte cheiro de quei¬mado. Logo imaginou o desastre.

Não havia tempo para mais nada. Quando o carro chegou para apanhá-la, Débora sequer tinha tido tempo de pentear os cabelos direito.

Mas, na certa, Inky Hedges não se preocupava com os pro¬blemas pessoais de suas "vítimas", antes de escrever sua colu¬na maldosa. E como Maggie dissera, homens como ele tinham uma mulher que cuidava de todos os problemas domésticos.

Andrew Dominick, seu pai, sempre lhe repetia que não ha¬via problemas sem solução, e que o mínimo a fazer era enfrentá-los. E se desejava ser uma empresária bem sucedida, precisava saber organizar sua vida. Assim, pensou de novo na idéia de Maggie. Mas ficou imaginando se seria possível encontrar uma pessoa tão dedicada quanto fora Millie a seu pai. Seria ótimo contar com a ajuda de alguém que cuidasse da casa com cari¬nho, inclusive de suas roupas, não permitindo que cometesse um fiasco como o da noite anterior.

Nesse instante, a campainha do interfone interrompeu os seus pensamentos, anunciando que logo uma copeira viria lhe ser¬vir o primeiro café.

Agradecendo o lembrete, Débora acrescentou:

— Maggie, você é um gênio. Ligue-me com a agência de em¬pregos, sim?

Não demorou muito para Ingrid Bell, a dona da agência, en¬trar na linha.

— Bom dia, srta. Dominick. Presumo que queira saber se já recrutei o serviço de copa para a próxima recepção, certo?

— Não, nem estava pensando nisso ainda. Preciso que con¬trate uma pessoa muito especial para mim. Gostaria que você mesma providenciasse a pessoa.

— Pois não. Farei o que estiver ao meu alcance. Mas que tipo de funcionário é esse?

Débora respirou fundo antes de dizer o que tinha em mente.

— Eu decidi que preciso de um secretário particular.

— Particular? — disse Ingrid Bell, procurando esconder a surpresa.

— Sei que pode parecer estranho, mas necessito de alguém para cuidar de minha vida particular, organizar as coisas...

— Uma empregada não resolveria seus problemas?

—- Não. Preciso de alguém que assuma mais responsabilida¬des, além de cuidar da casa. Ele precisa ser perfeito...

— Ele?

— Isso mesmo. Deve ser homem, ter um bom nível e ser culto, para me fazer companhia, conversar, cuidar de minha conta bancária, além de encaminhar todos os afazeres domésticos.

— Bem... Talvez não seja tão fácil assim. Não creio que ha¬ja uma pessoa tão qualificada em nossos arquivos, mesmo nu¬ma época tão liberal como a nossa.

— Isso significa que você não pode me atender?

— Não... não é isso — acrescentou rapidamente, com receio de perder a melhor cliente. — Acredito que vou levar um pou¬co mais de tempo.

— Preciso dessa pessoa, imediatamente. Minha casa está de pernas para o ar.

— Bem... Vou fazer o possível para achar a pessoa ideal pa¬ra o cargo.

— Ótimo.

Ao desligar o telefone, Débora imaginou o que Ingrid esta¬ria pensando. A idéia, se não maluca, era no mínimo incomum, mas se desse certo seria ótimo. O que diria Ínky Hedges se sou¬besse de suas últimas decisões?

Pouco depois, ela já se arrependia. Numa sociedade machis¬ta, que homem se sujeitaria a uma função daquelas? Em todo caso, ela não se preocupou, pois, certamente, dentro de uma semana no máximo, Ingrid lhe telefonaria dizendo que fora im¬possível encontrar um candidato que preenchesse todos os requisitos.

Nesse instante, o interfone voltou a tocar.

— Sim, Maggie?

— Garth Dangerfield está aqui para a reunião.

— Ótimo. Faça-o entrar.

Garth estava na Dominick Empreendimentos há pouco mais de meio ano. Mas como provara ser muito competente e dedi¬cado, Débora o promovera a seu assessor direto. Isso aconte¬cera quando ele viera com os projetos para o Centro Empresa¬rial. E, no momento, era ele o encarregado de transformar a idéia em uma realidade multimilionária.

Não era segredo para ninguém o seu interesse em Débora. Por várias vezes, quando trabalhavam juntos até mais tarde, ele havia lhe dito que esperara que o relacionamento deles fos¬se mais pessoal.

Os dois chegaram, inclusive, a sair juntos depois do expedien¬te, mas apenas para jantar. Não que Garth não fosse atraente. Ao contrário, os olhos verdes e o sorriso aberto conferiam-lhe um charme irresistível. Mas havia alguma coisa na sua manei¬ra de ser que deixava Débora intrigada e que a impedia de apro¬fundar a relação.

Mas, naquele momento, era do talento profissional de Garth que precisava.

— Bom dia, Garth.

Assim que entrou, ele viu o jornal aberto em cima da mesa e comentou:

— Não ligue para este sujeito. Você estava esplêndida a noi¬te passada.

— Obrigada, é muito gentil. Mas devemos o prêmio a você.

— A idéia de combinar um conjunto residencial com o cen¬tro empresarial, porém, foi sua.

— Bem, vamos deixar os elogios de lado e tratar do que interessa.

— Muito bem — disse ele, sentando-se à frente da mesa. — Aqui estão os documentos nos quais dizemos formalmente que aceitamos o prêmio. Uma vez assinados, teremos que concor¬dar com as condições impostas e podemos dar inicio às obras.

— E o que estamos esperando?

— Acho que antes de assinar é melhor ler esta cláusula. Mas lhe antecipo que sou radicalmente contra.

— Oh, não, o que foi agora?

— Os termos estipulados para os pagamentos finais não são muito justos.

— Pelo que sei, iremos nos sujeitar a algumas penalidades se estourarmos o orçamento, ou se não cumprirmos o prazo. Isso não é problema.

— Não é tão simples assim. Para garantir que a companhia vencedora não irá menosprezar estes itens, os organizadores in¬cluíram uma cláusula extra no contrato. Se as obras ultrapas¬sarem em dez por cento, ou mais, o orçamento ou o prazo, te¬remos que chamar a empresa que ficou em segundo lugar co¬mo consultora... e todas as despesas correrão por nossa conta.

— Somos obrigados a concordar com isso?

— Se aceitarmos o contrato, teremos que engolir essas exigências.

— Bem, se não há outro jeito... E já que existe uma cláusuIa impondo isso, temos que saber, pelo menos, quem é a outra construtora.

— Já investiguei... é a Moriroe Investimentos.

— Oh, não! Meu pai rejeitaria todo o projeto, se soubesse que teria que trabalhar com um Monroe. Garth, quais são as nossas chances de cumprir o contrato à risca?

— Isso depende de muita coisa. Não podemos evitar as gre¬ves dos operários ou que os fornecedores aumentem seus pre¬ços. O orçamento que apresentamos prevê uma margem para estas flutuações, mas não é nada difícil ultrapassar estes dez por cento.

— Não deveríamos ter discutido isso antes?

— Em geral os contratos de autorização para as empresas não fogem a um certo padrão. Quem iria adivinhar que este seria diferente?

— Se ao menos fosse outra firma e não a Monroe...

— Entendo perfeitamente como está se sentindo, Débora. Não se esqueça que eu também tenho motivos para querer es¬tar a quilômetros de distância de qualquer Monroe. Afinal, foi o filho de Darcy Monroe que me colocou na rua. O velho gos¬tava muito de mim mas o filho... tinha medo que eu ficasse com uma parte de sua preciosa herança. Logo achou um jeito de me despedir.

— Oh, eu nem me lembrava mais que você odeia os Monroe tanto quanto a minha família. Darcy Monroe convidou meu pai para entrar como sócio de um negócio que, segundo ele, era o melhor do mundo. Depois, o velho descobriu que alguma coisa não ia bem e saiu da empresa, enquanto meu pai arcou sozinho com os prejuízos. Ele levou anos para construir este império. Desde aquela época, os Monroe e os Dominick são inimigos mor¬tais. — Débora levantou-se e bateu com o punho fechado so¬bre a mesa. — Nós teremos que impedir, a qualquer custo, que eles sejam nossos consultores.

— Pode contar comigo, Débora.

A semana seguinte passou voando. As obras haviam come¬çado e pela dimensão do empreendimento, não faltaram moti¬vos para comemorações. O prefeito ajudou a derrubar a pri¬meira árvore e o governador iniciou as obras de terraplanagem, dirigindo o primeiro trator. A imprensa, sempre presente, exi¬gia atenção permanente de Débora.

Durante estes dias, ela mal teve tempo de pensar em si mes¬ma. À noite, não queria outra coisa a não ser um banho quente e um bom programa de televisão. Esquecera-se, inclusive, de seus problemas domésticos, por isso, espantou-se quando, cer¬ta manhã, encontrou um recado de Ingrid em sua mesa, dizen¬do que lhe ligasse com urgência.

— Bom dia, Ingrid, você telefonou para mim? Em que pos¬so ajudá-la?

— Não vai me dizer que já se esqueceu do pedido especial que me fez a semana passada.

— Pedido especial?

Débora já não se lembrava mais da maluquice de,querer um "secretário particular".

— Conseguiu arrumar alguém? — perguntou ela, surpresa.

— Sim, senhora! —respondeu Ingrid, triunfante. — Um jo¬vem de trinta anos, com ótima aparência. Você não terá pro¬blemas em lhe ensinar o serviço. Ele me pareceu perfeito.

— Oh, não...

— Duvidei que um homem atraente e culto, como ele, sou¬besse cozinhar ou cuidar de uma casa. Provei um jantar feito por ele e tive certeza de que ele seria a pessoa que você estava precisando.

— Mas eu... eu tinha pensado que essa pessoa iria contratar gente para este serviço.

— Bem, este rapaz sabe fazer tudo.

— E como se chama essa figura fora de série?

— Christopher Traig. Ele acabou de voltar de uma viagem de dois anos pela Europa e está ansioso para começar a trabalhar.

— Um bom sinal...

— Você não me parece muito satisfeita. Quer entrevistá-lo antes de o contratar?

Agora era tarde demais para voltar atrás. Débora não se per¬mitia admitir que havia cometido um erro.

— Não será necessário. Confio em você, sua agência sem¬pre mandou excelentes empregados. Peça-lhe para me esperar em casa, hoje à noite. Se não me engano, você está com a cha¬ve, não?

— Sim, esqueci de devolver na última vez que levei a faxi¬neira. Bem, vou pedir que ele deixe tudo pronto para o jantar. Você quer que eu faça um contrato formal, ou...

Débora, não conseguiu imaginar como Ingrid iria redigir os termos do contrato. Depois de refletir um pouco, resolveu dei¬xar o problema a cargo da agência.

— Contrate-o como achar melhor... outro empregado qualquer.

Desligou o telefone e deixou-se ficar na cadeira, desconcer¬tada. Que bela situação havia conseguido criar! O que diriam os membros da diretoria, que a aguardavam para uma reunião, se soubessem de sua mais recente decisão?

Respirou fundo e levantou-se. Agora o melhor era deixar o barco seguir seu rumo.

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