Em uma gala de caridade, observei Isabel "Bela" Vianna, a assessora de Marcos, sutilmente o embebedando com taças de champanhe. Quando tentei ajudá-lo a ir para sua suíte, Bela nos "encontrou", seu suspiro perfeitamente cronometrado e o flash discreto de um celular selando meu destino.
Na manhã seguinte, as manchetes gritavam: "Estagiária da FAAP, Olivia Campos, é flagrada em situação comprometedora com Marcos Torres." Fotos borradas e condenatórias as acompanhavam. A ligação gélida de Marcos veio em seguida: "A Bela encontrou você se aproveitando de mim! Minha reputação está em frangalhos por causa da sua palhaçada infantil!" Ele acreditou nela. Completamente.
Sussurros e olhares hostis no escritório do meu pai se tornaram insuportáveis. O homem gentil que eu adorava agora me olhava com nojo absoluto. Meus sonhos se estilhaçaram. Como ele podia ser tão cego? Tão cruel? Este não era o Marcos que eu conhecia. Isso parecia brutalmente injusto.
Naquela semana, a garota ingênua que o idolatrava morreu. Em seu lugar, uma consciência mais fria despertou: o mundo não era gentil, as pessoas não eram o que pareciam. Ele achava que eu estava jogando, mas eu já tinha desistido. Este foi o meu ponto de virada.
Capítulo 1
Olivia Campos, Liv, contornava a borda de sua xícara de café.
Vinte anos, estudante de história da arte na FAAP.
Ela também era estagiária na construtora do pai.
Mas, na maior parte do tempo, era só uma garota com uma paixão.
Uma paixão enorme e avassaladora por Marcos Torres.
Marcos tinha trinta e oito anos.
Um arquiteto, brilhante, bem-sucedido.
Sócio do pai dela, seu amigo.
Ele sempre fora gentil com ela, um sorriso caloroso, uma palavra gentil.
Liv guardava uma pequena pedra lisa que ele uma vez lhe dera de um canteiro de obras, um pedaço de granito antigo de São Paulo.
Ela achava que simbolizava sua força, sua natureza sólida.
Ela era ingênua.
A gala de caridade era um borrão de brilho e sorrisos falsos.
Marcos era um dos anfitriões. Ele parecia uma estrela de cinema.
Liv o observava à distância, seu coração dando saltos estúpidos.
Isabel "Bela" Vianna, sua "amiga de infância" e sócia de negócios, estava sempre perto dele.
Bela, trinta e sete anos, uma designer de interiores com um sorriso que nunca alcançava os olhos.
Liv viu Bela sutilmente guiar taças de champanhe para a mão de Marcos, uma após a outra.
Ele estava bebendo demais, rápido demais.
Sua risada ficou alta demais, seu equilíbrio um pouco instável.
A preocupação apertou o peito de Liv.
Ela se aproximou dele quando a multidão diminuiu.
"Marcos, você está bem?"
Ele piscou, tentando focar nela. "Liv. Pequena Liv. Eu estou... estou ótimo."
Ele não estava.
"Deixe-me ajudá-lo a ir para sua suíte", ela ofereceu, sua voz baixa. "Você pode descansar lá."
Ele se apoiou nela, mais pesado do que ela esperava.
A suíte privativa era silenciosa, longe do barulho. Ela o ajudou a se deitar em um sofá.
Bela os encontrou minutos depois.
Seu suspiro foi perfeitamente cronometrado, perfeitamente agudo.
"Marcos! Olivia? O que está acontecendo aqui?"
Marcos estava largado no sofá, com os olhos fechados. Liv estava apenas colocando um cobertor sobre ele.
Nada tinha acontecido. Nada teria acontecido.
Mas o celular de Bela já estava em mãos, um flash rápido e discreto.
O estômago de Liv despencou. "Bela, não é o que você pensa. Ele só estava bêbado."
A expressão de Bela era uma aula de choque e preocupação fingidos.
"Oh, coitadinho de você, Marcos", Bela arrulhou, ignorando Liv.
Marcos se mexeu, gemendo. "O que... o que aconteceu?"
A voz de Bela era veneno suave. "A Olivia estava... te ajudando. Você estava muito vulnerável."
A insinuação pairava pesada no ar.
Na manhã seguinte, uma coluna de fofocas barata tinha a história.
"Jovem estagiária da FAAP, Olivia Campos, filha do magnata imobiliário David Campos, flagrada em posição comprometedora com o arquiteto mais velho e embriagado, Marcos Torres."
Fotos, borradas mas condenatórias, acompanhavam a matéria. Liv, inclinada sobre Marcos no sofá.
Seu rosto queimava de vergonha.
Marcos estava furioso. Humilhado.
Ele ligou para Liv, sua voz era puro gelo. "O que você fez?"
"Marcos, eu não fiz nada! A Bela está distorcendo tudo!"
"A Bela encontrou você se aproveitando de mim!", ele rosnou. "Minha reputação está em frangalhos por causa da sua... palhaçada infantil."
Ele acreditou em Bela. Completamente.
Liv tentou explicar para seu pai, para Marcos, para qualquer um que quisesse ouvir.
Ninguém ouviu.
Marcos era frio, distante, seus olhos cheios de desprezo sempre que era forçado a vê-la no escritório de seu pai.
Seu estágio se tornou um pesadelo de sussurros e olhares hostis.
A humilhação pública foi implacável. Os comentários online eram brutais.
Liv se sentia como um inseto sob um microscópio.
Seu mundo cuidadosamente construído, seus sonhos com Marcos, tudo se estilhaçou.
O Marcos que ela idolatrava, o homem gentil e sofisticado, se fora.
Em seu lugar, havia um estranho cruel que a olhava com nojo.
Este foi seu primeiro gosto da verdadeira natureza dele, escondida sob o charme.
A dor era uma pontada física e aguda em seu peito.
As luzes da cidade do lado de fora de sua janela pareciam duras, zombeteiras.
Uma parte de Liv morreu naquela semana.
A garota ingênua que acreditava em contos de fadas e idolatrava Marcos Torres.
Ela se foi.
Em seu lugar, uma nova e mais fria consciência começou a se formar.
O mundo não era gentil. As pessoas não eram o que pareciam.
Ela olhou para a pedra de granito que ele lhe dera. Parecia uma mentira em sua mão.
Uma mentira pesada e fria.
Este foi um renascimento, mas não um que ela queria.
Foi um mergulho em uma realidade fria e escura.
Ela se arrependeu de cada momento de sua adoração cega, de cada fantasia boba.
Um nó minúsculo e duro de algo – não esperança, mas uma recusa em quebrar completamente – se formou bem no fundo dela.
Ela pensou em Marcos, seu charme fácil.
Como ela fora facilmente enganada. Como ela estava ansiosa para ver apenas o bem nele.
E Bela.
Liv repassou inúmeros pequenos momentos em sua mente.
A mão possessiva de Bela no braço de Marcos.
Suas alfinetadas sutis em qualquer mulher que se aproximasse demais dele.
Seu foco de laser em Marcos, sempre.
A verdade oculta era a ambição implacável de Bela, seu ciúme.
Bela queria Marcos, e Liv tinha sido uma ameaça ingênua e sem arte.
Facilmente neutralizada.
Liv tentou falar com Marcos novamente em um jantar de família uma semana depois. Seu pai e Marcos ainda tinham negócios.
Era inevitável.
"Marcos, por favor, você tem que acreditar em mim", ela sussurrou, encurralando-o perto da varanda.
Ele olhou para ela, o rosto uma máscara de indiferença.
"Olivia, suas tentativas de manipular ainda mais esta situação são patéticas."
Bela deslizou para o lado dele, passando o braço pelo dele.
"Querido, não deixe que ela te aborreça", disse Bela, sua voz escorrendo falsa simpatia por ele. "Ela é apenas jovem e não entende as consequências."
Marcos assentiu, seus olhos fixos em Liv com frio desdém.
Liv estava sozinha. Isolada. Bela o conquistara completamente para o seu lado.
Eles eram uma frente unida.
Bela até falou com um repórter da sociedade, sua voz cheia de "tristeza".
"É tão decepcionante quando mulheres jovens tentam usar suas conexões de forma inadequada. Marcos é um cavalheiro, ele foi completamente explorado."
As palavras eram como pequenas pedras afiadas atingindo Liv.
Liv ficou em seu quarto por dias.
Ela repassou suas interações com Marcos, sua admiração aberta, seus sorrisos esperançosos.
Ela se encolheu. Tinha sido tão óbvia, tão vulnerável.
Uma tola.
Seu coração, que antes palpitava por ele, agora parecia uma coisa pesada e machucada.
Outro encontro, no escritório de seu pai, foi o golpe final em suas ilusões.
Ela precisava que Marcos assinasse alguns papéis de estágio, uma formalidade.
Ele a fez esperar por uma hora.
Quando ela finalmente entrou em seu escritório temporário, ele não levantou o olhar.
"Apenas deixe aí", disse ele, sua voz monótona.
"Marcos, podemos conversar por um minuto?"
Ele finalmente olhou para ela, seus olhos vazios. "Sobre o quê, Olivia? Suas ilusões? Ou sua falta de julgamento?"
Gaslighting. Indiferença fria.
A imagem de seu herói se estilhaçou em um milhão de pedaços.
Havia uma finalidade dolorosa nisso.
Os sussurros do escândalo a seguiam por toda parte. A "intimidade" da frente unida de Marcos e Bela era um espetáculo público.
Esta foi sua libertação – a morte de um sonho tolo.
Liv parou de ir ao estágio. Parou de ir às aulas.
Ela ficou em seu apartamento, as cortinas fechadas.
A cidade lá fora era muito barulhenta, muito brilhante, muito cheia de julgamento.
Esta era sua fuga, uma fuga para a escuridão.
Não era um novo começo que ela queria, mas era o início de algo.
Uma provação.
Marcos e Bela eram vistos juntos em todos os lugares, a imagem de uma amiga solidária ajudando um homem injustiçado.
A narrativa deles estava gravada em pedra.
Seu pai, David Campos, foi ao seu apartamento.
Seu rosto estava marcado pela preocupação e uma raiva silenciosa que ela não via antes.
"Liv, querida, você não pode continuar assim."
Ele sabia que ela estava sofrendo. Ele não entendia a profundidade disso, ainda não.
Mas ele via a injustiça.
"Tire um tempo", disse ele gentilmente. "Do estágio, da faculdade se precisar. Nós podemos... podemos ir a algum lugar. Ficar longe de tudo isso."
Liv olhou para ele, seus olhos opacos.
Ela pensou em todo o tempo que desperdiçou.
Todas aquelas horas sonhando com Marcos, desenhando seu perfil em seus cadernos.
Tempo que ela poderia ter gasto em sua fotografia, seus estudos, sua vida.
O arrependimento era um gosto amargo em sua boca.
David segurou sua mão. Estava tremendo.
"Estou aqui, Liv. O que você precisar."
Ele não ofereceu soluções, apenas apoio.
Ele estava com raiva de Marcos, de Bela, da injustiça de tudo.
Mas sua primeira preocupação era sua filha.
"Talvez uma viagem?", ele sugeriu. "Europa? Ou apenas... longe de São Paulo por um tempo."
A perspectiva não era excitante. Era apenas um borrão.
Mas era uma mão estendida para ela na escuridão.
Sobrevivência. Esse era o único futuro que ela conseguia ver.
Uma paisagem cinzenta e desoladora de apenas superar o dia seguinte.