Ele então me apresentou, sua namorada de quatro anos, como "uma grande amiga". Sua nova noiva sorriu docemente e me disse que o casamento deles seria aberto, me dando permissão para continuar como sua amante.
Eu o ouvi dizer a um amigo seu verdadeiro plano: "A Karina é minha esposa de fachada, mas a Alice pode ser minha mulher para diversão."
Ele achou que eu simplesmente aceitaria ser seu brinquedinho. Ele estava enganado.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para um número que nunca ousei ligar antes - o testamenteiro do meu falecido pai, de quem eu estava afastada.
"Preciso reivindicar minha herança."
A resposta dele foi instantânea. "Claro, Srta. Ferraz. O pré-requisito é um casamento comigo. Está pronta para prosseguir?"
"Sim", digitei de volta. Minha vida com o Caio tinha acabado.
Capítulo 1
Hoje era meu aniversário de quatro anos com Caio Mendonça. Era também o dia em que ele voltava de sua viagem de negócios de três meses. O duplo significado da data fazia meu coração bater mais rápido.
Ele me mandou uma mensagem esta manhã, suas palavras simples, mas cheias de promessa: "Alice, use o vestido branco. Tenho uma surpresa para você."
Eu sabia o que aquilo significava. Nós tínhamos conversado sobre casamento, sobre um futuro, sobre passar o resto de nossas vidas juntos. A surpresa tinha que ser um pedido de casamento.
Passei a tarde inteira me arrumando. Arrumei meu cabelo, fiz minha maquiagem com um cuidado extra e, finalmente, vesti o vestido branco que ele mencionou. Era uma peça de grife que ele comprou para mim no ano passado, elegante e simples. Fiquei em frente ao espelho, praticando meu sorriso, praticando a palavra "Sim".
Minha mente corria com cenários. Ele se ajoelharia? O que ele diria? Ele choraria? Senti um arrepio de antecipação, uma energia nervosa que fazia minhas mãos tremerem um pouco.
Finalmente, a hora chegou. Dirigi até o Hotel Unique, o lugar que ele especificou. O salão de festas do último andar estava todo reservado. Meu coração se encheu de alegria. Ele tinha se superado. Esta seria a noite mais romântica da minha vida.
Saí do elevador, meu sorriso pronto, meu "Sim" na ponta da língua.
Mas a cena que me recebeu fez meu sorriso congelar no rosto.
O salão de festas estava de fato deslumbrante, cheio de rosas brancas e luzes suaves e brilhantes. Uma faixa pendia na parede dos fundos, mas as palavras nela não eram o que eu esperava. "Parabéns, Caio & Karina."
Caio estava no centro da sala, mas não estava me procurando. Ele segurava as mãos de outra mulher, Karina Valente, sua amiga de infância e uma socialite conhecida.
Ele se ajoelhou.
A multidão de amigos e familiares, as famílias deles, suspirou em deleite.
"Karina", a voz de Caio estava embargada de emoção, a mesma voz que ele usava quando sussurrava coisas doces para mim. "Nós nos conhecemos a vida inteira. Você sempre foi a pessoa certa para mim."
Os olhos de Karina se encheram de lágrimas. Ela parecia linda e triunfante.
Caio abriu uma pequena caixa de veludo. Dentro havia um anel, mas não era um anel qualquer. Era de sua mãe, uma joia de família que ele uma vez me mostrou, me dizendo o quanto significava para ele.
"Este anel pertenceu à minha mãe", disse ele, sua voz ecoando na sala silenciosa. "Ela sempre quis que eu o desse para a mulher com quem passaria minha vida. Essa mulher é você, Karina. Sempre foi você."
Karina soltou um soluço de felicidade.
"Você quer se casar comigo?", ele perguntou.
"Sim! Mil vezes, sim!", ela gritou.
A multidão explodiu em aplausos.
Lembrei-me dele me mostrando aquele anel. Ele o segurou com tanto cuidado, quase com reverência. Ele me disse que era para sua futura esposa. Eu pensei que ele se referia a mim. Agora, eu percebia a verdade. Eu tinha sido uma tola.
Alguém na multidão sussurrou: "Sempre soube que ele acabaria com a Karina. Ele é obcecado por ela desde que eram crianças."
As palavras confirmaram o pavor gelado que enchia meu peito. Meus quatro anos com ele, todo o nosso relacionamento, tinham sido uma mentira.
Só depois que ele colocou o anel no dedo de Karina e a beijou profundamente, Caio finalmente me viu parada na entrada. Seus olhos se arregalaram por um segundo, um lampejo de surpresa antes que sua expressão se suavizasse.
"Alice", disse ele, caminhando em minha direção, puxando uma Karina ainda radiante com ele. "Aí está você. Quero que conheça alguém."
Ele gesticulou entre nós. "Karina, esta é Alice Ferraz, uma... uma grande amiga minha."
"E Alice", ele continuou, sua voz casual, como se estivesse apresentando uma estranha, "esta é Karina Valente, minha noiva."
A palavra "noiva" foi um golpe físico. Lutei para respirar.
Karina sorriu para mim, um sorriso doce e polido que não alcançava seus olhos. "É um prazer finalmente conhecê-la, Alice. O Caio me falou tanto de você."
Suas palavras eram como mel misturado com veneno.
Eu apenas fiquei ali, incapaz de formar uma única palavra, meu rosto uma máscara de calma forçada.
Então notei a pulseira no pulso de Karina. Era uma delicada corrente de diamantes, idêntica à que Caio me deu no nosso segundo aniversário. Ele me disse que era uma peça única.
Outra mentira.
Caio pareceu notar meu silêncio. Ele colocou a mão no meu ombro, seu toque agora parecendo estranho e indesejado. "A família da Karina está se mudando de volta para São Paulo. Ela vai ficar conosco por um tempo até o casamento."
Ele disse "conosco" como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se esperasse que eu dividisse nossa casa com sua nova noiva.
Eu estava tão entorpecida, tão completamente destruída, que apenas assenti. Não conseguia processar a pura audácia de seu pedido.
"Preciso de um pouco de ar", consegui engasgar, virando-me antes que pudessem ver as lágrimas brotando em meus olhos.
Tropecei em direção ao banheiro, minhas pernas instáveis.
Na luz fria e estéril do banheiro, encarei meu reflexo. A mulher esperançosa e feliz que chegara uma hora atrás havia desaparecido. Em seu lugar, havia uma estranha pálida, de olhos fundos, em um vestido branco que agora parecia uma fantasia para uma piada.
Enquanto jogava água fria no rosto, ouvi vozes do corredor. Era Caio, falando com seu melhor amigo.
"Cara, você está louco? Pedir a Karina em casamento bem na frente da Alice? Isso foi cruel."
Eu congelei, pressionando meu ouvido contra a porta.
Caio riu. Foi um som cruel e desdenhoso. "Qual é o problema? Os Valente e os Mendonça estão se fundindo. Este casamento é um negócio. Garante minha posição como CEO."
"E a Alice?", perguntou o amigo.
"A Alice? Ela não vai a lugar nenhum", disse Caio com uma confiança doentia. "Ela me ama. Ela vai superar. Karina é minha esposa, mas a Alice... a Alice pode ser minha mulher. Aquela que realmente me satisfaz. A Karina sabe do acordo. Uma esposa bonita e da alta sociedade para mostrar, e uma mulher apaixonada ao lado para se divertir. É perfeito."
Ele me chamou de sua mulher, uma ferramenta para seu prazer.
As palavras me atingiram, cada uma um golpe de martelo no meu coração já partido. Lágrimas escorriam pelo meu rosto, quentes e silenciosas.
Lembrei-me de suas promessas. "Alice, eu te amarei para sempre." "Você é a única para mim." "Eu nunca vou te deixar ir."
Para sempre, para ele, tinha um prazo de validade de quatro anos.
Seu amor era uma mentira. Suas promessas não valiam nada.
O homem que eu amava, o homem a quem dediquei quatro anos da minha vida, me via como nada mais do que um brinquedo descartável.
Uma raiva fria começou a queimar através da dor. Ele achava que eu simplesmente aceitaria isso? Ele achava que eu ficaria e seria sua amante enquanto ele exibia sua esposa "adequada"?
Não.
Peguei meu celular, meus dedos tremendo. Rolei meus contatos até encontrar um número que nunca ousei ligar. Um número que o advogado do meu pai me deu pouco antes de ele morrer. "Ligue para este homem se você estiver em apuros inescapáveis", disse o advogado. "Ele é o testamenteiro."
Meu pai e eu estávamos afastados há anos, uma consequência dolorosa de mentiras que destruíram minha mãe. Eu nunca quis nada dele. Mas agora, eu estava em apuros inescapáveis.
Digitei uma mensagem simples: "Sr. Monteiro, aqui é Alice Ferraz. Preciso reivindicar minha herança."
Apertei enviar.
Um momento depois, uma resposta chegou. Era formal, direta e prometia uma saída.
"Claro, Srta. Ferraz. O pré-requisito no testamento de seu pai é um casamento comigo. Está pronta para prosseguir?"
Encarei a mensagem, as palavras embaçadas pelas minhas lágrimas. Casar com um estranho? Era uma loucura. Mas ficar com o Caio, ser seu segredo, seu brinquedo, era um destino pior que a morte.
Esta era minha única fuga.
Digitei minha resposta.
"Sim."