Ouvi o plano deles. Meu marido me chamou de "tola ingênua", uma fachada para legitimar seu filho secreto. A traição suprema não foi o caso dele, mas a visão do carro do meu próprio pai estacionado do outro lado da rua. Minha família não apenas sabia; eles eram os arquitetos da minha ruína.
De volta em casa, encontrei a prova: um álbum de fotos secreto da outra família do meu marido posando com meus pais, e registros mostrando que meu pai havia financiado toda a farsa. Eles até me drogaram nos fins de semana para que ele pudesse brincar de família feliz.
A dor não me quebrou. Transformou-se em algo frio e cortante. Eu era um fantasma em uma vida que nunca foi minha, e um fantasma não tem nada a perder.
Copiei cada arquivo incriminador para um pen drive. Enquanto eles celebravam seu dia perfeito, enviei um mensageiro com meu presente de despedida: uma gravação de sua traição. Enquanto o mundo deles queimava, caminhei em direção ao aeroporto, pronta para me apagar e recomeçar.
Capítulo 1
Ponto de Vista: Alina
Meu marido, Ivan Moraes, o Capo mais temido do Clã dos Medeiros, prometeu me levar ao parque de diversões no meu aniversário. Ele mentiu. Eu o encontrei lá com sua outra família, comemorando o quinto aniversário do filho que eu nunca soube que ele tinha.
Tudo começou esta manhã, na linda mentira que eu chamava de vida. Eu estava convencida de que era a herdeira querida e há muito perdida, finalmente segura em meu lugar. Acreditei que meu casamento arranjado era um caminho para o amor, que meu marido me adorava.
Naquela manhã, ele me beijou antes de sair, um gesto possessivo, quase distraído. Seu polegar traçou meu maxilar, seus lábios firmes contra os meus. "Feliz aniversário, minha querida."
As palavras foram um cobertor quente sobre o espaço frio em nossa cama que ele deixaria para trás.
Cinco anos atrás, minha rival, Kiara Rinaldi, tentou me arruinar. Ela sabotou uma aquisição de arte multimilionária que eu estava gerenciando para a Família, um movimento calculado para me pintar como incompetente na frente do meu pai, o Don. Meus pais me disseram que ela teve um colapso nervoso, que havia sido enviada para uma clínica particular. O assunto estava encerrado. Eu acreditei neles.
Tomando um café no centro, minha melhor amiga, Bia, não tinha tanta certeza.
"Ainda não acredito que eles a deixaram escapar tão facilmente", disse ela, mexendo seu latte com mais força do que o necessário. "Ela tentou destruir sua reputação."
"Ela estava doente, Bia", eu disse, defendendo uma narrativa que eu precisava desesperadamente que fosse verdade.
Peguei meu celular, meus dedos voando pela tela em uma mensagem esperançosa e juvenil para Ivan. *Ainda podemos ir ao parque de diversões? Pelo meu aniversário?*
A resposta dele foi rápida. Desdenhosa.
*Atolado com assuntos da Família. Fica pra próxima.*
Uma dor familiar se instalou no meu peito, mas desta vez, estava misturada com algo corrosivo: a dúvida. Era sempre "assuntos da Família".
Os olhos de Bia se estreitaram. "No seu aniversário? Nenhum homem é tão ocupado assim, Alina. Um homem convenientemente ocupado desse jeito está escondendo alguma coisa." Ela se inclinou para frente, um desafio silencioso em sua expressão. "Você deveria levar o almoço para ele."
Suas palavras caíram no terreno fértil do meu medo recém-descoberto. Então eu fui.
A Moraes BioTech era uma de nossas fachadas mais limpas, uma torre reluzente de aço e vidro. A secretária de Ivan, uma jovem que sempre parecia apavorada com ele, empalideceu quando me viu.
"Sra. Moraes! Eu... eu não estava esperando você."
"O Ivan está?", perguntei, mostrando uma sacola de papel com seu sanduíche favorito.
Ela torceu as mãos. "Ele não está. Ele está... na Galeria Rinaldi. Nos Jardins. Supervisionando uma instalação."
Galeria Rinaldi. O nome ficou preso na minha garganta. Um pavor gelado, denso e sufocante, começou a se formar no meu estômago.
Eu dirigi, meus nós dos dedos brancos no volante. Ao me aproximar da galeria, eu o vi. O sedã preto blindado do meu pai, estacionado discretamente do outro lado da rua.
Eles não apenas sabiam. Eles estavam envolvidos.
Através da vitrine do chão ao teto da galeria, eu os vi. Ivan. Kiara. E um menino com os cabelos escuros de Ivan e um sorriso que era uma cópia perfeita e devastadora do meu. Ivan estava rindo, uma expressão relaxada e desprotegida que eu não via em seu rosto há anos. Ele parecia feliz. Ele parecia um homem apaixonado.
O menino, Léo, gritou com uma alegria que ecoou na caverna silenciosa do meu peito. "Papai, podemos ir ao parque de diversões agora? Pelo meu aniversário?"
A voz de Ivan, carregada de uma afeição que ele nunca usou comigo, flutuou pela porta entreaberta. "Eu reservei o parque todo, garotão. Só para você."
Aniversário do Léo. Era no mesmo dia que o meu.
Kiara se inclinou, a mão no braço de Ivan. "Ela desconfia de alguma coisa?", ela murmurou.
A risada de Ivan foi um som cruel e feio. "A Alina? Ela é uma tola, uma coitada ingênua. Acredita em cada palavra que eu digo."
Ele se inclinou e deu um beijo terno em Kiara. Era exatamente o mesmo gesto possessivo, quase distraído, que ele me dera naquela manhã.
Ele continuou, sua voz carregada de uma arrogância que presumia que ninguém importante poderia estar ouvindo. Ele alegaria que era estéril. Eles "adotariam" Léo. Fariam dele o único herdeiro legítimo da linhagem Medeiros-Moraes. Meu propósito, meu casamento de cinco anos, era ser uma fachada. Um rosto legítimo para sua família ilegítima.
Meu celular vibrou na minha mão. Uma mensagem de Ivan.
*Pensando em você. Sinto sua falta.*
Por um instante, o mundo ficou em silêncio. A dor não era uma pontada; era uma fratura física, uma falha geológica rachando a rocha da minha alma. Não me quebrou. Não me estilhaçou. Cristalizou-se em algo duro, frio e afiado o suficiente para eviscerar um homem.
Engatei a marcha e saí.