Minha vida desmoronava, fracasso após fracasso, e meu projeto de número noventa e nove era mais um prego no caixão dos meus sonhos. Cinco anos após perder meus pais e a empresa da família em um acidente trágico, apenas Mariana, minha esposa, parecia ser a âncora que me mantinha à tona. Sua voz, um veludo macio, sempre me acalmava após cada decepção de trabalho. Até que, voltando para casa, ouvi um sussurro de seu escritório que congelou meu sangue. "Sim, Lucas, o projeto afundou, como planejamos." Lucas Martins, o "amor de infância" dela, um nome que nunca deveria estar ligado à minha esposa daquela forma. Ela riu, uma risada que nunca imaginei ouvir dela: "Ele ainda acha que eu sou a santinha que o salvou." Minha traição não era apenas com outro homem; era uma manipulação que transformava meu amor em piada e minha dor em sua ferramenta. A mulher que eu amava, a quem eu devia minha sobrevivência, estava, na verdade, me afogando lentamente. Eu não era seu salvo, mas sim sua escada, seu degrau, uma fonte inesgotável de ideias para o sucesso dele. O sorriso, a rosa vermelha em meu prato, tudo não passava de uma farsa para me manter produzindo material para eles. Naquela noite, no escuro do nosso quarto, enquanto ela sussurrava promessas para outro homem, João Carlos, o ingênuo, morreu. E um novo João Carlos, consumido por uma raiva fria e cortante, renasceu. A vingança não era uma opção, mas a única saída. Eu ia expor cada mentira, cada fraude. O jogo tinha mudado. E agora, era eu quem daria as cartas.