O rolo de seda "Lágrima de Sereia" era o tecido perfeito para o vestido de noiva da minha melhor amiga, Clara. No leilão, minha expressão estava serena, confiante. Lancei trezentos mil reais, mas a mulher na minha frente, de costas, levantou a placa sem hesitar. "Um milhão de reais." O salão inteiro murmurou. Um salto tão grande era incomum, quase agressivo. Meu noivo, Thiago, sorriu ao meu lado. "Deve ser alguém que realmente quer o tecido, meu amor. Se você o quer, pegue." Com um mau pressentimento, ele me incentivou a continuar. Um milhão por um tecido. Foi um ato de humilhação. Então, vi o nome no painel eletrônico: "Isabella". E o método de pagamento: o cartão de crédito suplementar de Thiago, aquele que eu mesma havia lhe dado. O sangue sumiu do meu rosto. Com as mãos tremendo, congelei o cartão. Na primeira fila, Isabella tentou concluir a transação, seu sorriso arrogante desaparecendo. "Transação Recusada." Ela se virou, fúria e humilhação contorcendo seu rosto, e seus olhos encontraram os meus. Era a nova assistente de Thiago, aquela que ele jurara ser apenas uma colega de trabalho competente. Thiago, por sua vez, me fuzilou com os olhos, raiva mal contida. Ele agiu como se nada tivesse acontecido, me cobrindo de presentes e dizendo que Isabella usara o cartão sem sua permissão. Aceitei uma viagem de férias para uma ilha particular, querendo acreditar que poderia salvar nosso relacionamento. Na primeira noite, durante o jantar, ele me serviu uma taça de vinho. O gosto era estranho. Foi a última coisa de que me lembrei com clareza. Acordei com cheiro de mofo e ferrugem, minha cabeça latejando. Eu não estava em um hotel de luxo. Eu estava em uma jaula. Pânico subiu pela minha garganta. Passos ecoaram. Thiago e Isabella emergiram na luz fraca, seus rostos triunfantes. "Você me... me leiloar?", perguntei, descrente. "Exatamente", confirmou Thiago antes de me arrastar para o palco, rasgando meu vestido. "Vamos ver quanto eles pagam por uma designer famosa e arrogante, completamente nua e indefesa." Meu anel de noivado, meus brincos, meu relógio. Cada item, um pedaço de minha identidade, sendo roubado. "Eu transferi todos os seus ativos, congelei suas contas. Você não tem nada. Você é nada. Apenas um produto a ser vendido." Enquanto os lances pelo meu próprio corpo eram feitos, ele se aproximou, me desafiando a implorar. Foi o erro dele. Olhei para ele, um fogo frio em meus olhos. Eu ri. "Eu cubro todos os lances." "Eu vou acender a lanterna celestial. Eu compro a mim mesma."