A viagem de cinco horas foi longa, mas a alegria de Alice, minha filha, tornava tudo leve. Mal sabia eu que a surpresa planejada para meu marido Pedro, que estava em outra cidade a trabalho, se transformaria no maior pesadelo da minha vida. Ao chegar ao escritório dele, encontrei-o rindo com uma mulher jovem e linda. O sorriso dele congelou ao me ver, e o dela se tornou um triunfo presunçoso. "Júlia! Alice!", a voz forçada dele ecoou. O pânico em seus olhos não era de surpresa, mas de puro terror. A mulher, Sofia, não escondeu o deboche, nem o fato de conhecer minha filha. "Seu pai me mostrou tantas fotos suas.", ela disse, e meu mundo desabou. Mais tarde, no hotel, em um ato de desespero, peguei o celular dele. Lá, a verdade explodiu em mensagens e fotos: "Meu Anjo"... "A patroa ligou de novo. Drama porque a pirralha está com febre."... "Deixa elas pra lá, amor. Volta pra cá." E a pior de todas: uma foto deles no mesmo hotel, no dia do nosso aniversário de casamento. Meu casamento não estava em crise; ele estava morto. E eu tinha acabado de chegar ao funeral. A humilhação parecia não ter fim. Pedro tentava me controlar com a filha, e para piorar, Sofia apareceu na porta do nosso quarto, trazendo um lanche para ele. Nesse momento, Alice, com sua inocência, revelou que a "Tia Sofia" já visitava o papai no escritório, com a "vovó" de cúmplice. O que mais eles me esconderam? Meu sangue gelou. Eles estavam usando minha filha. A traição, misturada com uma rede de mentiras e manipulações por parte de Pedro e sua família, me encurralou. Eles ameaçavam tirar Alice de mim, usando minha dependência financeira como arma. O que eu, uma arquiteta que havia sacrificado a carreira pela família, poderia fazer contra todo um clã rico e sem escrúpulos? Mas a dor não me paralisou, ela me deu um propósito. Eles achavam que iriam me quebrar. Mas a Júlia que eles conheciam havia morrido. E uma nova Júlia, mais forte e determinada, estava prestes a renascer das cinzas.