A consciência voltou como uma onda de gelo, mergulhando-me numa dor que eu conhecia bem demais. Kael, com um sorriso cruel no rosto, flutuava sobre mim. Era ele quem arrancava o Núcleo Celestial do meu peito. Lira, com suas lágrimas falsas, sussurrava palavras de consolo enquanto meu poder era roubado. E o Primordial, a autoridade máxima, apenas observava. Fui traída. Eles me deixaram para morrer, uma deusa vazia, uma casca inútil. Abri os olhos. Eu estava de volta aos meus aposentos no Empíreo. Viva. O Núcleo Celestial pulsava em meu peito, intacto. Eu havia retornado ao momento exato antes da minha queda. O ar ainda não estava pesado com a traição, mas a ferida em mim sangrava ódio silencioso. Passos suaves se aproximaram da porta. Lira. Seu rosto era de falsa preocupação, ela ofereceu: "Deixe-me ajudá-la a protegê-lo. É o que as amigas fazem, certo?" Exatamente as mesmas palavras que me levaram à ruína na vida passada. Naquela época, eu confiei. Confiei a ela meu poder, minha alma. Ela o entregou diretamente a Kael. Mas desta vez, eu não era a mesma. Eu disse, sem hesitar: "Não, Lira. O Núcleo está seguro comigo." Seus olhos arregalaram de surpresa. Eu a cortei: "Eu entendo perfeitamente. Eu entendo tudo." A frieza do meu ódio a fez recuar. Ela se foi, seus passos apressados. Eles achavam que eu era a mesma Alina ingênua. Eu não entregaria meu poder a ninguém. Eu me submeteria. Não, eu usaria a fé cega deles no sistema contra eles mesmos. Eu iria apelar diretamente ao Primordial. Eu sabia que ele era o arquiteto da minha queda. Mas eles não sabiam que eu sabia.