A música alta da festa da empresa ecoava no meu peito, mas o champanhe na minha mão não tinha gosto, pois eu era apenas um funcionário júnior no meio de diretores. De repente, a voz de Lucas, amigo de infância de Ana, minha namorada e CEO da empresa, cortou o barulho: "Meu relógio! Meu Patek Philippe sumiu!" e seus olhos se fixaram em mim, gelando meu estômago. A música parou. Centenas de olhos se viraram para mim, julgando. Ana, que poderia ter me defendido, olhou-me com decepção fria e proferiu a sentença: "Miguel, mesmo que sua mãe precise urgentemente de dinheiro para o tratamento, você não deveria roubar." Instantanemante, os sussurros me isolaram: "A mãe dele está doente?", "Coitado, mas roubar já é demais." Senti a humilhação pura e crua, sem entender como ela poderia dizer algo assim. Naquele momento, enquanto ele saboreava minha destruição, a única certeza era que minha vida, como eu a conhecia, havia acabado e que eu levaria minha mãe e desapareceria daquela cidade.