Minha guitarra portuguesa chorava, um lamento que mal escondia a dor: minha filha Clara estava ardendo em febre, lá em cima. Mas o furacão Sofia, minha esposa e produtora musical, chegou com Heitor, o cantor sertanejo, para arrancar Clara da cama, ignorando meu apelo: "Ela precisa de médico!" Eles tinham um show, e Clara, a bailarina prodigiosa, era a peça que faltava para a fama. Sofia riu da minha súplica, do meu ajoelhar, me oferecendo para desaparecer, para tocar de graça, só para deixar nossa filha descansar. Ela me empurrou: "Levante-se, Miguel. Você é patético. Música de velho, perdedor. O futuro é o Heitor." Assistir deitado no chão enquanto ela arrastava Clara, que me olhava com olhos assustados, foi minha ruína. Naquela noite, a imagem de Clara dançando, débil e tropeçando, projetada no telão, foi a "emoção" que o público aplaudiu. Até que ela caiu. E não se levantou mais. No hospital, o médico confirmou: infecção grave, exaustão. E a enfermeira revelou o horror: Sofia sabia que Clara estava doente. E pior, a drogou com estimulantes. Não foi negligência. Foi assassinato. Eles capitalizaram a morte da nossa filha. Então, um advogado me ligou, dizendo que eu estava proibido de ir ao funeral. Proibido de me despedir da minha própria filha. Fiquei lá, paralisado, a dor se transformando em um gelo. A música morreu dentro de mim, e em seu lugar, nasceu um único e sombrio acorde. Vingança.