Três anos se passaram e eu ainda me lembrava do dia em que minha vida desmoronou. Não foi com uma explosão, mas com a imagem dos vídeos íntimos dos meus pais, exibidos em um leilão online, transformados em algo vulgar e grotesco pela minha esposa, Ana Paula. Ela os vendeu para o maior lance, ao vivo, enquanto lances vertiginosos subiam na tela. "O que você fez?", minha voz saiu um sussurro, enquanto o rosto sorridente de Ana Paula ao meu lado se transformava na máscara de um demônio. "O que foi preciso, querido", ela respondeu, sem desviar os olhos da tela. O escândalo explodiu, a internet não perdoou, e o nome da minha família foi arrastado na lama. Meus pais, idosos e gentis, não suportaram a humilhação. Uma semana depois, eles estavam lutando pela vida na UTI, vítimas de um acidente de carro. Passei dias e noites no hospital, mas Ana Paula estava ocupada. Ela me enviou os papéis do divórcio e, no mesmo dia em que os assinei, a vi brindando com champanhe nas redes sociais, celebrando um "novo começo" com Lucas, seu amigo de infância. "Justiça tarda, mas não falha", dizia a legenda, mas eu só sentia a dor da traição. Ela não só me abandonou, como também usou sua influência para impedir o tratamento adequado dos meus pais. Foi quando Sofia apareceu, a irmã mais nova de Ana Paula, um anjo em meio ao caos. Ela usou seus contatos para transferir meus pais para um hospital melhor, garantiu os melhores especialistas e ficou ao meu lado, ouvindo meu choro, me dando apoio. Um ano depois, com meus pais se recuperando, Sofia me pediu em casamento em uma transmissão ao vivo global. "João Carlos é o homem mais forte e bondoso que já conheci", ela disse, emocionada, "Eu só me casarei com ele." Casei-me com Sofia, acreditando no meu conto de fadas, que o pesadelo havia acabado. Mal sabia eu que estava apenas iniciando o segundo ato de uma tragédia ainda maior. Três anos de casamento perfeito, com Sofia me tratando com devoção, e meus pais se recuperando graças a ela. Até que, voltando para casa mais cedo, ouvi Sofia e Lucas no meu escritório. "Ele ainda não suspeita de nada?", Lucas perguntou. "Não", Sofia respondeu, sua voz fria e metálica, diferente de tudo que eu já havia escutado dela. "Ele é um idiota. Acha que sou a salvadora dele." Lucas riu. "Três anos. A vingança está quase completa. Logo ele não terá mais nada. E tudo será nosso." "Não se trata apenas do dinheiro, Lucas. É fazer João Carlos pagar pelo que fez a você, pelo que causou aos nossos pais." A vingança? Nossos pais? Meu cérebro girava. "Ele precisa sofrer como nós sofremos. Ele te intimidou a vida toda, Lucas. E por causa dele, mamãe e papai estão mortos. Ele vai pagar por isso, eu juro." Caí contra a parede, sentindo meu mundo desmoronar. Tudo era uma mentira.