O cheiro de laca branca e o sorriso sem emoção de Sofia eram o prenúncio. Um acordo me forçava a ceder meu marido, João, se ele me abandonasse por Sofia nove vezes. A primeira prova veio em uma noite de tempestade: ele me deixou sozinha em um evento de gala para "socorrer" Sofia, enviando uma foto dela em seu roupão, no nosso sofá, se deleitando na minha dor. As humilhações se seguiram, cada desculpa de João mais patética, culminando com ele faltando à inauguração da minha primeira loja para viajar com ela, enquanto eu recebia os papéis do divórcio preenchidos. A manipulação era óbvia, mas eu, no meu desespero, só via a humilhação pública. A gota d'água? Uma festa onde Sofia revelou ter orquestrado meu casamento e distorcido as provas de "amor" de João por mim, mostrando que eu era apenas uma farsa. Meu passado, meu futuro, tudo parecia uma mentira orquestrada por ela. Mas a verdade veio à tona, brutalmente. Num instante congelado, o vaso pesado de Sofia voou em minha direção; João se jogou para proteger ela, não eu. Eu caí, minha perna quebrada, em uma poça de meu próprio sangue, vendo ele consolá-la. No hospital, ele veio, com desculpas esfarrapadas, para então enviar uma selfie com Sofia, os dois sorrindo de sua "vitória". Aquele foi o despertar. A dor física não se comparava à clareza que me atingiu: ele nunca me amou. Com uma calma assustadora, anunciei o divórcio. Enquanto ele lutava para entender, eu comecei a empacotar minha vida, jogando fora o álbum de casamento, os presentes vazios. Meu telefone tocou: uma confirmação de corrida, em nome de Sofia. João estava arriscando a vida por ela, por um capricho, e eu entendi que sua cegueira seria sua ruína. Dez capítulos de uma farsa se desenrolaram, e agora, eu estava pronta para reescrever o meu próprio final, longe de João e Sofia.