"Eu quero o divórcio, João." As palavras saíram da minha boca, firmes e sem hesitação, enquanto eu entregava os papéis para o advogado. O sol da tarde batia forte lá fora, mas dentro de mim, uma frieza de inverno se instalava. Desta vez, seria diferente. Na minha vida passada, dediquei corpo e alma a João, meu marido, e à nossa família, acreditando num amor eterno. Que tola eu fui. Ele não só me traiu repetidamente com minha irmã, Sofia, como secretamente transferiu todos os nossos bens para o nome dela. Quando a verdade veio à tona, já era tarde. Eu me vi sozinha, endividada, com Pedro, meu filho, para criar. A família de João me virou as costas, e Sofia desfrutava da minha desgraça. O pior veio com a morte de Pedro, meu tesouro único. A depressão causada pela dissolução da nossa família e pelo desprezo do pai consumiu sua saúde. Sem dinheiro ou apoio, não pude salvá-lo. Ele morreu nos meus braços, enquanto João e Sofia viajavam pela Europa com o nosso dinheiro. A dor daquela perda me matou por dentro. Eu morri com ele. Mas eis que, inexplicavelmente, acordei. Acordei esta manhã, neste mesmo dia fatídico, com a memória vívida de cada lágrima, cada humilhação, cada grama de dor. Uma segunda chance. Uma chance de reescrever a história. Eu não seria a esposa cega que perdoava tudo. Desta vez, lutaria por mim e, principalmente, pelo meu filho.