O cheiro de fumaça queimava minhas narinas, e os gritos enchiam o ar. Pedro, com sua voz desesperada, tentou me arrastar para longe da oficina de arte em chamas, não para me salvar, mas para que pudesse entrar e resgatar Sofia. Na minha vida passada, eu o impedi desesperadamente, me jogando em sua frente, e fui esmagada por uma viga em chamas. Aquele ato de amor custou-me minhas pernas, meu futuro como dançarina de samba e uma vida inteira de miséria em uma cadeira de rodas. Pedro me odiava, me culpava pela "morte" de Sofia, e meus pais, cegos por favoritismo, me jogavam aos lobos para proteger a imagem da família. "Você só merece o inferno, Maria Eduarda," ele sussurrava, um veneno que bebi por anos. Mas desta vez, algo dentro de mim estava diferente. Frio. Duro. Inquebrável. Abri os olhos. A dor e a escuridão daquela primeira vida inundaram minha mente em um flash, e eu soube: não era um despertar normal; eu estava de volta ao dia do incêndio. Percebi a farsa de Pedro, sua obsessão por Sofia, e o fato de que ele nunca me amou de verdade. Ele ama a ideia de ser o herói de Sofia. Então, com um sorriso gelado, minhas mãos relaxaram. Eu o soltei. "Vá", eu disse, calma e clara, enquanto Pedro corria para as chamas, sem olhar para trás. Ele ainda não sabia, mas seu inferno estava apenas começando, e eu seria a roteirista.