Quando abri os olhos, o cheiro de desinfetante e a dor no ventre eram lembretes cruéis: o nosso bebé, o Léo, tinha partido. Com a voz embargada, liguei para o meu marido Pedro, que estava na festa de aniversário da irmã, Eva. Esperei apoio, consolo. Em vez disso, ouvi a sua voz impaciente e, então, fui chamada de "dramática". A minha sogra, Laura, sentada friamente ao lado da cama, culpou-me e defendeu a indiferença do filho, dizendo que a festa da Eva era mais importante. Aquele desprezo cortou-me mais que a dor física. Mas o verdadeiro choque veio quando a Eva publicou a felicidade na festa, e de repente, a memória do dia da queda voltou: o degrau molhado, a sua calma assustadora, o olhar vazio enquanto eu caía. Aquilo não foi um acidente. Não foi um acidente. Lembrei-me do meu carro com os travões vazios meses antes, depois de a Eva o ter usado. Ela tentou matar-me? Como pode a minha própria cunhada ser capaz de tal monstruosidade? E como o Pedro, o homem que eu amava, pôde estar tão cego e tão longe quando eu mais precisei? Um nó de horror e raiva apertou-me a garganta. Não suportaria mais a dor e a traição. Eu ia atrás dela. A verdade, custasse o que custasse, viria à tona.