O médico disse que a minha cirurgia de remoção do útero foi um sucesso. Mas eu não senti nada. O meu marido, Pedro, não estava lá. Ele estava ocupado com a sua amante, Sofia, que tinha acabado de dar à luz o nosso filho. Sim, o filho dele, com ela. E a sua voz, cheia de uma alegria que eu não ouvia há anos, perguntava: "Vais ser a madrinha, certo?" Madrinha. A palavra soou como uma piada cruel. Eu, deitada numa cama de hospital após uma histerectomia, e ele queria que eu fosse a madrinha do filho da sua amante. Disse-lhe que queria o divórcio, mas ele chamou-me egoísta, dramática. A sua mãe, Helena, barrou o meu caminho fora do hospital, dizendo que eu era uma mulher fraca, sem direito a nada, e que a amante tinha dado à família o que eu, a esposa, não pude. Afirmaram que o contrato pré-nupcial garantia que eu sairia daquela casa sem um tostão. Senti-me perdida, humilhada, com a dignidade roubada. Mas um fogo acendeu-se dentro de mim. Vim para casa da minha irmã Clara, decidida a lutar. Quando o Pedro, para me esmagar, cancelou o meu seguro de saúde, deixando-me com uma dívida colossal, percebi que não tinha mais nada a perder. O meu advogado disse: "Até onde está disposta a ir?" Respondi: "Até ao fim." A guerra tinha começado, e eu não ia recuar.