Um som ensurdecedor de metal. O cheiro a queimado. O carro capotado. A minha perna estava presa, uma dor excruciante, o sangue a manchar as calças. Clamo por Mateus, meu marido. Ele me vê, minha perna fraturada. Mas outro grito ecoa: Sofia. Apenas um arranhão para ela. Em um piscar de olhos, ele corre para ela, deixando-me para trás, presa no metal retorcido. A dor no peito? Pior que a da perna. Ele afasta-me com um olhar irritado: "Sofia está em choque!" No hospital, com um osso exposto, ele e a irmã dele ainda a defendem, chamando-me de dramática, ciumenta. Ele me abandonou, literalmente, para cuidar de um arranhão. Como pude ser tão cega? A dor rasga-me a alma: esta não é a pessoa que eu pensava conhecer. Deitada naquela maca hospitalar, soube. O nosso casamento tinha morrido ali. Quando o advogado dele me ofereceu uma compensação insultuosa, percebi: não serei a vítima. Minha vida recomeça, e ele pagará por cada pedaço.